Leerezeit é uma palavra criada para descrever o tranquilo momento que é o ilusório por do sol. a ilusão de que o grande astro mergulha aos confins da terra. e a humanidade era muito mais humana quando acreditava que o sol se metia em tal mergulho, carregando consigo para o precipício todas as desventuras do dia,e por isso, era esperado a retornar na manhã seguinte, renovado e limpo, trazendo consigo novos sonhos e esperanças. quisera eu ter nascido em tal tempo ancestral, quando o sol era como um irmão mais velho, que cumpria dia após dia o seu ritual cósmico. o grande Coaraci, repousando sobre Eivac, na imensidão do espaço.
leerezeit, o inverso de um alvorecer precoce...
eu estava de volta por sobre aqueles velhos caminhos da infãncia. subi a ladeira de pedregulhos e avistei com um encanto ainda maior um castanheiro, muito mais alto do que aquele que eu lembrava. este, mais adolescente e impetuoso que o outro, tangenciava todas as casas com suas ramagens, tão altas e incalculavelmente fortes.
lentamente fui me aproximando da casa verde, abri o cancelo e detive-me por um instante diante da janela de vidros coloridos, por onde eu costumava observar os movimentos da rua, espérei um pouco para que eu conseguisse respirar com controle, e a tarefa árdua de segurar os soluços demorou mais do que eu esperava. bati á porta e ela se abriu depois de uns trinta segundos após alguém indagar "quem é?". uma mulher de rosto em rugas olhou através da pequena janela espiã... era ela, a velha senhora.
tudo estava no seu devido lugar...
a única coisa que fiz foi pedir um abraço, foi pedir pra que ela cuidasse de mim, porque eu não conhecia mais ninguém no mundo que tivesse me visto assim indefeso, tanto quanto eu estava naquele instante. ela me abraçou e chamou-me de seu filho e pediu-me para que entrasse. eu não quis fazer nenhuma pergunta. apenas quis esquecer do abismo que havia entre nós dois. era já um final de tarde. ela como de seu costume, me preparou café com biscoitos. ao longe eu ouvia o triângulo do vendedor de cavaco chinês. eu sorri pra ela. e ela me retribuiu o sorriso com os olhos cheios de lágrimas.
o castanheiro soltava seus ouriços sobre o telhado. planejei que na manhã seguinte trocaria as telhas, do mesmo modo como fazia quando ainda eu era um menino muito... muito pequeno.
Leerezeit... é como o nome de um alvorecer precoce.
e não há como não sentir isso que sinto agora
quando relembro dessa tarde.
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