Posso comprar uma bicicleta.
Talvez não seja suficiente achar que bastam minhas bolonhesas carregadas de
alho. Talvez eu precise comprar um ferro de passar roupa. Minha opção de usar
tecidos que não amassem talvez não seja a opção dela. Poderíamos andar
juntos... mas aqui é tão perigoso... melhor comprar bicicletas usadas. Eu
deveria fazer um esforço de tirá-la por um instante de minha cabeça. Ah eu
poderia comprar bicicletas novas, Se fôssemos andar eu poderia fazer como fazem
os imbecis: usaria o carro para levá-las a um lugar seguro para pedalar.
Vou colocar a janela no texto. Eu
acho que Alice merece olhar através de uma janela de vidros coloridos... é um
dos meus tesouros de infância. Eu poderia até mesmo usar o velho texto,
literalmente, na voz do narrador. Mas por onde andará o original? Não há
arquivos dele no computador. Minha vida de escritor se divide em duas partes,
numa delas eu escrevia numa Hemington. De qualquer modo vou revirar as caixas
do passado. Não gosto de fazer isso, é doloroso.
Talvez eu deva desenhar a trilha
com um violino, afinal, a função de aprender a tocar um pouco de violino era
exatamente trilhar meus textos. Sempre precisei das mãos mágicas dos sons e
timbres para escrever. Quando cansei de solfejar precisei aprender a tocar um
instrumento. Escolhi o violino.
Puxa...
Acho que preciso escolher:
Uma bicicleta usada ou um violino
usado. Ou uma coisa ou outra.
E ainda tem o ferro de passar
roupa...
Ou eu poderia solucionar tudo
apenas com uma bolonhesa.
Decido isso enquanto estiver forfulhando
em minhas caixas do passado, em busca das janelas de vidro colorido.
Ops! Lembrei de uma cena do filme
“O violinista que vem do mar”. O náufrago diante do violinista local. Ah no
violino bem que eu gostaria de ser o náufrago, mas se eu fosse o náufrago eu
não seria escritor. Ora bolas, se eu fosse marionetista eu não seria
escritor... se eu fosse cenógrafo.....
cozinheiro...
Se eu fosse escritor eu não seria
escritor.
Sou o violinista local.