quarta-feira, 26 de outubro de 2011

INÍCIO DE CONVERGÊNCIA - 1

Antes de partir, Dee Du observou por mais uma vez a casa. E pensou em escrever uma carta, para que a pudessem ler quando já  pudessem ler. Mas Dee Du não se conformou com o resultado.

A carta de Dee Du era melancólica, misteriosa  e  singelamente poética:

“Seria, dentro dessa  idéia difícil de compreender, necessário lutar contra o mundo, demente que sou, seria preciso lutar contra qualquer coisa que girasse ao redor do sol. Eu tinha que imaginar  que a terra era uma bola de borracha na qual se podia encravar um punhal, causar um dano, estorvar qualquer que fosse a gargalhada que disso brotasse.  Decidi que seria necessário, que apontado em minha direção estivesse o dedo em riste de um juiz.

Tolices desvendadas. Máscaras pisoteadas pela verdade dura e cruelmente crua.
Nesse sem fim de labirinto, talvez divinizando um voto  numa vaidade suprema, teria que existir um modo de marcar com ferro a pele de um corpo adocicado pela acidez do meio. Mas qual modo seria esse? Seria pela escolha de um desfecho?

A pergunta ecoa sempre, por qualquer que seja a hora. Mas eis que soa a resposta e é melhor quem nem se revele mais a pergunta.

Foi boa a posse dessa contaminação passageira. Foi bom pecar por trinta segundos e ter na boca o sabor da língua da besta a roçar a   alma em gozo e saliva. Foram sete passos antes do inferno. Figuras debruçadas ficavam ali coléricas, como se donas de todos os assentos das ante salas de todos os paraísos. E uma piedade veio até mim, herdada não por merecimento, mas por imposição na infância, de uma fé cristã, que deixei por anos descansando na ilharga de tudo o que eu considerei vivo e de importância aos meus titereiros
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E eu corri a perseguir engodos. Acumulei mais de trinta potes de ouro. Minha poesia? Ah, meu caro...  sei lá de toda aquela poesia.

Eu fazia o bem, diziam os meus cartazes. Eu fazia as pessoas se tornarem melhores do que eram entre os dias em que moravam em entranhas de mulher e aqueles, em que a volta é como um documento  que nunca será escrito. Mas e nestes dias que sobraram? Dei com as caras de trinta e sete demônios e ri com eles e bebi com eles, justo eu, que amava a minha poesia, que amava os rios de minha aldeia e esperava a noite sem receio algum, a acender lamparinas  perfumadas em citronelas.

Justo...

Mas a liberdade dos passos voltou.
Ela trouxe consigo um novo tempo numa caixa. Um tempo com cheirinho de artefato novo. Um tempo que fica estanque nessa vastidão que é a duração de um átmo.
O ciclo acabou.

Quem tiver um entender consigo, que o use nos outros, e entenda.
Quem não tiver nem os outros para furtar, que seja a carne dos risos, não os meus, pois de rir disso  em nada mais careço.

Pois, de rir disso em nada mais careço.

novembro de 1979.

Dee”

As crianças lhe ficaram acenando com a mão  enquanto ela se afastava dentro de seu Maverick maltratado.  

O objetivo da carta seria talvez encontrar um objetivo, um perdão qualquer. Lá fora os caras usavam seu apitos e suas armas, era bem assim nos finais de setenta. Sobrava pouco tempo para a superfície naquele instante vazio. Dee ouvia em background, só em si mesma, qualquer música  revolucionária  e estrangeira de um cara que soprava uma gaita.

E foi assim que o Maverick sumiu pela estrada sem asfalto. Dentro dele, uma mala verde musgo, a velha guitarra  acústica e Dee.

Lá fora um sol, que mal acabara de nascer.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

GARDENIJAS DEL PANO


GARDENIJA DEL PANO

é como reencontrar as casas de um outro tempo
debulhar os esconderijos em busca dos desaforos
acreditar que é possível ter aos olhos a boneca de pano
novamente com a boca feita com bic
e os cabelos de lã emaranhada.

é como ficar triste por que as janelas já não fecham.

vejam só o muro do quintal
onde escrevi numa frase que não lembro:

jamais vou deixar este lugar...

jamais vou deixar este lugar.

e vejo que cresci dentro desses vinte anos
e é estranho que se tenha iniciado o período das buscas


estar aqui como se se soubesse de tudo...
a detestar o sabor das coisas escolhidas
sem jamais ter deixado na lona o TAL verbo da escolha

ora...
se tivesse um aqui vinho eu beberia até cair
e num ataque de insanidade juvenil por conta da nostalgia
falaria coisas que por muito prendi

menina feita de estrada e memória

MOINHOS

FEBRIL, deixei-me descalça a tentar alcançar um mergulho. mas o mar estava tão longe quanto uma coragem qualquer. Coragem? certa vez confundi isso com vontade, então veio um mestre a me castigar com seu pequeno açoite.

se um vinho barato escorresse por debaixo de minha língua...  silenciada e inútil, minhas alegrias seriam essas meras quinquilharias adocicadas que sempre se perdem na areia. no meu caso nem sei se essa toda lucidez é um portão de aço, como dizem.

desconfio de minha sobriedade.



agora tenho tanto o que fazer que já nem sei o que tanto faço. e todos conseguiram enfim, que com o passar do tempo um medo da culpa por me deixar ao vento dominasse o movimento por não me movimentar. e então não durmo porque não encontro em mim um sono que me deixe dormir. não, mas o que digo? não há culpa nesse jogo.

vozes e nomes que apreendo, sistemas que tenho que conhecer a ponto de desfazê-los e reconstruí-los. cadeias que nascem em intersecções perfeitas, mas que me ensinam a dividir para que a ruína natural de suas partículas não tome conta do todo.

no mundo todo deve existir quem possua parte de uma paz perdida, e tenho pensado que essa parte é minha, ou pelo menos me foi dada nalgum momento que não lembro. Não, eu não estou sobre a areia diante do mar, estou deitada em lençóis cor de vinho e nas formas das sombras me remeto ao lugar onde os indivíduos das calçadas são apenas criaturas das calçadas.

sozinha...

se assim mergulho é por assim me desejar em mergulho.

eu me deixaria numa corrente de águas frias que me desviassem de meu curso. em outro país mais quente me resgatariam e me dariam um outro nome, ergueriam um abrigo até o dia em que num voar das turbinas me levassem de volta para o meu pais gelado...

conheci um lugar quente e enquanto estive por lá não me deixaram morrer de calor, eu diria isso aos meus amigos. vocês acreditam? eles me deram o nome que é o mesmo nome de uma flor. eles me rodeavam e se alegravam com minha curiosidade...

surpresa, eu veria pelos postes da cidade os cartazes com aquela minha foto detestável. desaparecida. estranha prova de amor é essa de sentir falta, de sentir ânsia de buscar o que supostamente se perdeu. mas se o tempo passa e sinto frio no meu país gelado... eu então espero um milagre cósmico,espero que o sol reencontre minha noite.

se todos os que procuram soubessem o que de verdade  foi perdido. e se todos soubessem o nome do que jamais reencontrarei...

ah... dez segundos antes do sono e já é tão absurdo o que penso.

da janela posso ver um pedaço do espaço que do negro intenso se transforma de pouco em pouco num azul celeste.

e a cidade floresce numa agitação que por tão bem conhecer não me impressiona. e vejo o mar das janelas do carro. por um instante vejo o mar

por um instante o mar me salva a vida e me regenera a continuar...

eu continuo

e continuo.

lembro de meu moinho.



quero seguir por alguns segundos essa loucura íntima de me furtar num pensamento insensato, permitir que meu estado de alma encontre plenitude numa réstia de vida com a qual eu pudesse plantar em mim um sossego.

TERÇA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2009

Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2009
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despertar de um longo sono

uma bela adormecida... envelhecida depois de cem anos

continuaria bela?





sim.



o cavalheiro mantinha a cabeça abaixada e mal percebia que a musa do baile, a colombina, o olhava sem pudor, como que o esperasse para a próxima valsa.



é assim que as mãos novamente se tocam entre os convivas.


algo na melodia nos transmite um sabor justo.


se nos aproximarmos, eles virão até nós e novamente não acreditarão em nada do que dissermos...


mas se pasaram cem anos.


para governar sua vida, entraram no seu coração.

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Terça-feira, 23 de Dezembro de 2008
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sonhei que a menina de velasques saia do famoso quadro e me balançava ao leito. eu me acordava a esfregar os olhos e a não acreditar na cena. quietinha, sem o olhar amargo que mantinha na pintura ela sentou-se à beira da cama e me indicou um lugar onde havia silencio. além da janela.

sim, eu resmunguei, agora lembro, é a janela de um tempo outro, no qual eu estava em corpo de criança. através da janela eu me vi a estar sentado na calçada, mantinha o queixo apoiado nas mãos, igual a quem está perdido em pensamentos. todos a mim estavam em silêncio, como num filme em lenta camera e sem som. eu a assistir o mundo como quem está numa sala escura e tranquila.

senti-me feliz ao me ver em criança. eu encontrava um brinquedo perdido. meu playmobyl de capacete vermelho...

corra mais menino! eu queria dizer a mim mesmo. não fique assim tão quieto.

mas eu em criança observava os formatos escondidos das coisas. admirava-os. e pensava na possibilidade de dizê-los.

a única possibilidade era o silêncio.

meu pai costumava me presentear com elefantes de açucar. meus irmãos me caçoavam por meu cabelo. as outras crianças se assustavam com meu modo de dizer as coisas. era a década de setenta. um silêncio tomava conta de todos. mas todos não se aquietavam por não gostarem de permanecer calados.

se Taubelleine me surgisse naqueles dias, me surgiria como o som doce proveniente do triangulo estridente do vendedor de cavaco chinês. ou quem sabe me fosse a sensação que sempre tive ao observar o imenso castanheiro ao lado da escola de alfabetização.

Taubelleine sempre esteve ao meu lado. houve um tempo em que foi uma bola de borracha que caiu em meu quintal. noutro instante foi a bonequinha de miçangas que comprei para presentear Heloise. Taubelleine me surgiu um dia como as meigas sapatilhas de Li, que me beijava a se esconder do temporal.

o semblante é mutante. não há semblante. o amor é livre como o semblante no qual ele habita. aprendi isso quando os olhos de D se fecharam e nunca mais se abriram. aprendi que aquilo que ela foi passou a habitar muito do que eu era e sou.

o menino calado do sonho estava em silêncio...

a menina de velasques me foi uma loucura.nela sempre vi uma vontade de ser criança de verdade. e no meu sonho lembrei que naquela idade encontrava nos olhos desta menina pictórica uma luz que nunca entendi e ainda nem sei como explicar...

olho pela janela e me distraio a me observar. sou muito pequeno, falo a rir de mim mesmo. e meu cabelo é mesmo engraçado! a menina de velasques então passa a rir comigo. toco as mãos dela. é a minha Taubelleine de quando eu tinha cinco anos de idade...


silencio. meu caro menino, sem presente de natal, sentado na calçada. o brinquedo era o mundo com suas pedras em formato de coisas, eram as latas de leite que se transformavam em carrinhos cheios de areia. era o meu pai feliz da vida por encher a pobre árvore do jardim de lâmpadas muito quentes e coloridas...


silêncio. momento...

acordei do sonho apenas com as sensações de entendê-lo.


as várias facetas do meu anjo, que sei não ser anjo, sempre acabam por me deixar no peito uma tranquila sensação de alegria.


http://www.youtube.com/watch?v=JCvHFswuWkA
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olhos atentos me guardem.
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sal de liberdade e amor de espera. paladar de quem na paciência esquece a fome e a sede.

conforto de palha sob as costas de quem se sente tão cansado...

pó de vento e vinho de risos fartos. momento lerdo de minhas horas, meu maior encanto.




corre a criança na estrada longa. corre o velho a festejar o peixe vindo do anjo.

corre a mulher a se dizer repleta do filho da eterna bondade...

correm os amantes a entoar os cânticos...

as estrelas do céu estão agora em novo arranjo.

os ouvidos da multidão ouvem os harpistas noturnos...

O que agora respira o mesmo ar que respiramos é o mesmo que num tempo nos viu em apenas sonhos, criador de cenários, inventor de falsas e belas paisagens, escritor de doces novelas.

desenhista que durante a noite no muro revela um imenso amor pela filha mais bela da cidade.

o moribundo vocifera um pedido de perdão em sorriso.

o pai na espera do filho se torna a mais pura criança do mundo.

e é assim que estava o mundo a esperar o filho de tudo aquilo que somos.

é assim que nestes tempos não pode haver maior milagre que este que nos faz crer que um dia foi possível pegar em colo o próprio Deus.
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Domingo, 14 de Dezembro de 2008
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O RELATO DE MUSA

“ouvi ao longe uma melodia...


percebi que era um pequeno coral formado por crianças de tres a sete anos. estavam de mãos dadas e cantavam uma música de minha infância. de imediato lembrei da letra. uma alegria dócil e tranquila me encontrou...

e me percebi dentro daquela poesia... como se aquilo que penso e sou estivesse na melodia, nas vozes das crianças, e em todo o tempo em que aquilo durou...


percebi de imediato que algum anjo falara comigo e as coisas que ele me disse a usar aquela cena me deixaram mais calma”

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"Eu sou como a borboleta
tudo que eu penso é liberdade
não quero ser maltratado
nem exportado desse meu chão

minhas armas minhas asas
não servem pra me defender
as cores da natureza pedem
ajuda pra eu sobreviver

você que me vê voando
como a paz de uma criança:
vc sabe a minha idade
eu sou tua esperança

a ordem da humanidade
não deve ser destruida
quando eu voar me proteja
sou parte da tua vida!"


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Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2008
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dias de certa forma enlouquecidos. sapatos que apertam os pés; chuvas que atrapalham a pressa
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Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2008
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O DIA EM QUE BELLEINE NASCEU

se eu tivesse que escolher um dia para nascer, escolheria o de amanhã. creio nele que será um lindo dia, e nem sei o que é isso que digo, se do amanhã nada ainda sei...

se Belleine nasceu num dia como o de hoje... não há como esperar tempos desprovidos de alguma coisa que me faça sentir mais vivos os dias que virão.


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Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2008
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mão minha
congele no tempo no ar e nos bailes
a espera da moça dançarina e dama

topo da montanha
lugar do nunca fui

mergulho em coisa cristalina
paraquedas rapidamente caindo
catavento distraído


rédeas me guiem! passos me estanquem!

envelheço na espera como envelhece a sede do bêbado

evelheço na espera da dança... mão minha estendida
os músculos não mais me sustentam o braço

congelem o tempo o ar e o baile.
deixem pelo amor de deus sem poder a gravidade.

suspeito apenas o perfume da colombina. me disseram que alguém a enxergou a cinco esquinas daqui. Economizei por trinta anos a roupa que agora visto. e se nestes trapos o olhar de tal musa não encontrar aconchego... que lástima! não mais nos dará sua presença em corpo?

ora, então acabem com este baile...
de nada me valem as outras setecentas damas
vejo o salão vazio e sem casais
pois vejo casais vazios a encher o salão

a orquestra toca para que ninguém dance
assim foi o sonho do velho judeu que amava seu violino?
um universo de música somente para raros ouvidos...

sabor amargo...

ouvir não por que se ama o que se ouve. como quem come um prato pelo nome...
ou como quem ouve ao longe seu nome na voz de uma linda camponesa.

topo da montanha
lugar do nunca fui...

meus ouvidos são puros como os ouvidos de uma criança.
ouvir sem julgamentos como quem ouve o vento.
ordenança divina. abençoado enfado.

envelheço com a mão estendida
agora me dizem que musa rasgou o vestido
e descalça como louca está a correr na praça central.

rédeas me guiem!
passos me estranquem!

espero a próxima dança
espero o juízo final
ostentar uma fé inútil é ser forte entre os homens.


os músculos não mais me sustentam o braço.
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Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2008
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eu gostaria de lhe ouvir.

mas como? como diz isso assim? não pode me ouvir?

já ouvi essas coisas que você fala em outros. sei que é muito estranho. entende agora o significado do sonho?

qual sonho?

aquele em que pequenos pássaros perdiam lentamente a vida numa espécie de tortura? realmente sonhou isso? a imagem me é muito nítida. percebo-me nesse sonho...

eu já quase disso me havia esquecido. por qual motivo me dá isso de volta?

é por lembrar nitidamente das sensações que tive após o sonho que lhe narrei. aquele no qual eu amparava uma mulher que vacilava. as mesmas sensações... no início: prazer e bem estar. no final: desamparo. como uma criança que é abandonada ou descartada pelos pais...

não deveria agir assim agora nesta fase.

sabe que eu me conformaria com a não presença? amar desse modo é como ter o amor de Deus.

o que quer dizer essas coisas?

peciso de mais páginas para tentar explicar. se me descobrirá nas atitudes pequenas que tomo.

tenho feito isso desde seu surgimento.

e mesmo assim não me decifra.

talvez eu consiga.

assim, escondida? como quem brinca de cabracega?

não. estou de propósito com os olhos fechados. sou a menina de pernas muito longas e desajeitadas, mas de passos imensos.

uma menina assim não precisaria de barcos para atravessar o rio. não precisaria de nada e de ninguém. somos dois indivíduos mergulhados num mundo que criamos para nós. você com o seu cão imaginário. eu com essa capacidade de visualizar os passos das árvores. dois loucos.

sim. dois loucos. mas eu te decifro...


e isso sim, é prova de sua loucura. viver naquilo em que não se acredita também é uma loucura.

é altruísmo!

sim, você pode dar um nome a isso, pouco me importa qual nome se dê a essa sensação.

pode mudar de assunto? concordamos que não aceitaríamos aqui nada de fora. o barco segue calmo. não devemos agitar o rio. deve-se atentar para uma perfeita travessia.


pode-se fingir?

e não é o que você me acusa de ter feito?

não acuso você. apenas digo o que percebo. não guardo minhas constatações, isso faz parte de meu comportamento. se me tomar assim de imediato vai acabar por me perder... pode até chegar a me detestar. e não desejo fazer parte da lista de coisas que você não quer próximas.





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Domingo, 7 de Dezembro de 2008
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SUPRACONSCIÊNCIA...

desde aqui as coisas vão em definitivo permanecer divididas.





padrão novo de liberdade: estar só, sem interferência. escolho isso agora, decisão definitiva? aliás tem sido assim a mim desde sempre. o julgamento, como se fez sempre corretamente, deverá permanecer posterior à atuação, jamais antes.





transcender Belleine até a história que seria possível, isso se aqui do lado de fora do escafandro se permitisse estar livre do mal alheio e das pressões provenientes do que está ao redor...

resignação é o remédio que começo a ingerir agora. caludar é a ante sala do desabafo. um lugar para gritar? nenhum melhor que este onde estou agora.

mesmo assim, sumariamente decidido, vejo-me entristecido por arrancarem um universo que por alguns dias se me acomodou sob os pés. a dúvida pede sempre o preço da felicidade. a dúvida? irmã gêmea da ruína.





então me abstenho de participar da narrativa em primeira pessoa? torno-me o narrador? distanciado do enredo, apartado das decisões. pois de fato a isso fui diminuído?

a dúvida cobra o preço da fé

e falar de fé aqui, cobrar por ela como se fora fácil remédio, é algo bufo, Klownesco, ridículo.
talvez a fé não admita vacilos...

nem decisões dúbias.

um sujeito de fé sempre mantém a palavra, enfrenta obstáculos, transpõe paredões de granito, permanece livre.



tudo deve terminar pois nada foi compreendido? e perdão jamais poderá ser algo banal. não, perdoar é o verbo que acomoda na sua mais íntima estrutura a misericórdia e a verdade. mas como perdoar o que é falso, o que se mimetiza na bondade no intuito de iludir a vítima?

é possível dar perdão a quem não o pede?
como acariciar o embusteiro?



anseio.

ânsia por provar que o mundo está errado. "não! não sou aquilo que dizem de mim!" esse seria o grito do egoísta.



se há o anseio pelo imenso tempo de animação suspensa, então esse imenso tempo será dado. se guardará na pequena caixa de coisas preciosas aquilo que se tinha pretensão de mostrar. a capacidade de enxergar a preciosidade das coisas não habita os olhos de quem está de acordado agora...





fecho meus olhos para a belleine real e me dedico àquela que esperei que seria?





"veja... o melhor do que vivi..."

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um hippie lhes convenceu a trocar algumas moedas por uma arte que faria ali mesmo, como se fosse um mágico magro e faminto, desejoso de uma xícara de café. tirou a medida de um dos dedos de taubelleine, não parava de falar coisas sem sentido. zerafin gostaria que o homem fosse embora dali pois este estovava-lhes a conversa, que atingira um estágio decisivo: parar ou continuar naquela história intensa que aprenderam a viver juntos.





com certa habiblidade o hippie manufaturou um anel que desenhava uma estrela de cinco pontas. falou algumas coisas sobre o significado daquela peça, dando a ela, e ao significado que se dizia conhecedor, demasiada importância. Zerafin ouviu aquelas palavras, no seu universo elas lhe pareciam um oráculo, ele podia compreender o que aquela cena significava. não havia sabedoria no indivíduo magricelas que se esmerava em parecer profundo conhecedor das estrelas e seus formatos. mas, havia sabedoria em toda a cena na qual o próprio titereiro o incluíra.



zerafin , mantinha os olhos fixos no semblante juvenil de belleine. um olhar que é o mesmo que se tem diante de um espelho ao enxergar o próprio reflexo. o que guardava para revelar depois que a cena do anel se encerrasse era pesado. pressentia a perda e suas sensações. duvidava do daquilo em que depositara fé - seria ela o fim da espera?



ilusão. carne para os fados. energia vital para poesias sem ânimo.



ouvia-se o ondejar do rio e a percussiva viagem dos barquinhos de travessia. formava-se uma chuva ao longe e a tarde parecia não ter uma hora definida, era apenas tarde. tarde demais...



posso lhe dar alguns dias, assim você decide, resolve sua vida, se acerta com os seus... e eu.... bem, eu sigo só, em frente, esquecerei de algum modo, passarei algumas tardes a montar quebra cabeças...



apenas um dia. te peço apenas um dia.



sim... quero que vá, resolva as coisas. se decidir ficar não procure mais por mim, não estabeleça contato, não procure mais me olhar nos olhos. se me conhece sabe que se eu não olho nos olhos é por não mais querer em mim. sim... deixe-me ficar quieto e tranquilo, vou entender que foi o melhor, pelo menos para o seu egoísmo e para a sua escravidão às coisas que os outros fizeram com você. não quero que me traga essas pessoas, me são terríveis, me maltratam. você não pode entender como isso se dá, as percebo com seus olhares, não podem ser boas como dizem ser. um ser humano se é bom, o é em todos os pequenos gestos que faz. por isso apenas peço que vá, se decida. se quiser que aquilo que somos continue, então aceitarei você de volta, sozinha em toda sua essência, não traga ninguém com você, e juntos evoluiremos, não perderemos a boa energia que nos move agora, não agrediremos aquilo que o acaso nos deu em nome de algo maior. nossos egoísmos não atingirão aquilo que somos e assim poderemos ser livres... se você não me telefonar até a meia noite de amanhã, aceitarei que aquilo que somos acabou.



ainda discutiram um tempo. mas a conversa terminou decidida do mesmo modo e por isso se despediram como se fosse possível que aquela fosse a última vez que se poderiam ver.

e zerafin sabia. de fato era a última vez.
o que era possível terminou ali.
a última vez que zerafin a viu foi justamente ali, a descer os degraus do coletivo.



ao voltar pra casa, zerafin já se sentia demasiado fraco. indagou aos seus se havia por ali algo que o poderia se fazer melhor de ânimo. algo que espantasse dela a teimosia da febre que sinalizava ao longe. a velha senhora lhe preparou um chá e fez com que zerafin o bebesse juntamente com alguns comprimidos. não pôde dormir naquela noite. permaneceu de vigília. levantou-se várias vezes para escrever coisas em seus blocos. foi até a janela que dava para o porto para que pudesse ouvir melhor o passarinho noturno. sentou-se na escada que leva ao alpendre da casa dos fundos. sentia-se muito triste. deixou assim numa espera, exegese última.



“devo ter forças para arrancar isso de mim quando chegar o momento de arrancar. a ilusão só é carne para os fados. se estou triste é por estar nu diante de meu titereiro. a felicidade é ao boneco a roupa mais resplandescente. a felicidade é a roupa predileta por Deus.”



febre e dor. passarinho noturno, escada e covardia. o enredo não permite alento. zerafin paga pelo erro de se deixar ver antes da maquiagem. palhaço de rosto limpo e roupas sóbrias. palhaço proibido de rir. ..


assim se passou aquela primeira noite. o que inventar agora no trabalho para justificar a face de desamparo? dizer que morreu um outro parente próximo? não. pessoas ruins, mentes limitadas. um comportamento moral pior que a pior de todas as prisões. julgarão, dirão que é mentira, rirão pelos cantos...



o dia se passou lento e rastejante. quando o passarinho noturno se iniciou novamente ao seu canto, o telefone tocou:



aceito seguir viagem no barco sem remos, diria a voz sumida e velada de Belleine?



e isso lembraria a cantiga de outrora em que minzy se revelara a alegria da juventude e a resplandescência daquilo que é digno e verdadeiro:


"a cidade está em festa...


cabracegas mariolas mequetrefes...


uma noite assim seria justa se durasse mil anos".


a ilusão aqui não se fez carne como os humanos.

e tudo o que de ruim se construiu na babilônia se manteve fora dos muros...


supraconsciência. formulação fantasiosa contra uma realidade que não te faz bem.

Belleine voltou sim. Mas voltou somente para pedir amparo. Vai chegar o dia em que Zerafin precisará de ajuda e essa ajuda lhe será negada em nome de um risco mínimo.

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Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2008
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http://www.youtube.com/watch?v=wlDWXv-cIh8&feature=related



Houve uma interferência na pureza daquilo . Lembro que ao início eu conseguia escrever palavras as quais depois conseguia admirar. Era como se uma voz me as ditasse de muito perto aos ouvidos.

"acordo de madrugada depois de pesadelos
uma voz de Deus me sopra verbos
tamborilo na solidão
o tampo da velha mesa é meu único instrumento.
a voz de Deus me indica os rumos.
mas como?
se eu seguir por aqui darei na ribanceira!

ao longe, moços serenatam. perfeitamente desafinados.
há também o passarinho noturno que não desiste de cantar.
ele está iludido pela luz do porto.
uma luz artificial tão forte que se parece com o sol.

então assim o passarinho não cessa...
e todos se divertem com aquilo


esquecem que mesmo na ilusão da luz do porto
seu cantar é belo.

estou também acordado nesta madrugada
dizer que te amo seria uma missão bem simples.
acordei de pesadelos
onde eu cerrara os dentes
e me doíam os ossos da face

eu dormira de um modo ruim

a voz de Deus me acordou pra dizer que te amo
a luz do porto se apagou
o verdadeiro sol nasceu
o passarinho deve ter envelhecido depressa demais


ou o verbo que conjuguei já não ultrapassa minha garganta.

e essa atitude de calar pra mim não é o dia".
................................................................



palavras, no início estavam fáceis. eu estava encharcado delas.

Mas agora já não consigo escrevê-las porque já não há a mesma construção de outrora, que eu vislumbrava seguramente assim que desejasse. Algo se quebrou, diria o dramático. A bela corrente fluida de sensações foi maltratada e se rompeu, diria o triste. Mas ainda sobraram textos daquele momento. Textos que admiro até, por ensinarem boas lições a mim mesmo que os escrevi. Felizmente, diria o que espera sempre.

"sonhei que eu era velho e voltava
revirava a coleção de alfarrábios
buscava nos resquícios
um último doce. sumo dissolvido.

buscava o sentir que sentira.

num bloco velho confissões do que estivera vivo:

"de noite saímos fantasiados

mascarados
correndo pelas ruas da estreita luzitânia feliz.

felizes.

eu tinha oito anos e nem sabia".


...........................................................



Demorará a recuperação daquilo que se rompeu


Depois disso novas palavras surgirão e eu já serei um outro que para isso não mais escreverá.

Então, assim me contento em revelar o que me veio até minutos antes do melhor que surgiu em mim nestes últimos dias se acabar. É que depois... já quase nada sobre isso consigo escrever. não dramatizo isso. e traição é uma palavra pesada demais para usar aqui. estranhos circulando por estes recantos me são uma agressão. mas se aqui encontrarem alento...

"aves brancas equilibristas
entre o porto e o navio
sobre a corda que amarra
o que parte ao que fica
ata o que é feito para partir e viver livre
ao que tem a sina de prender e ficar."


"saímos mascarados desde as oito
fantasiados que ninguém reconhecia

só nos sorriam as crianças
de olhos desencobertos e corajosas
a nós piscavam um olho
como quem está ao nosso lado
e faz parte da mesma travessura"


................................................................


"a voz de Deus me acordou de madrugada

já são quatro e vinte e seis
quem fazia serenata agora tagarela
o passarinho noturno está calado.

há quase meia hora que tento


o lápis não fere a folha


pressinto o vazio de amanhã

alguém me indaga se tenho fome

eu quase confesso que sim."

................................................


preciso voltar ao sono
o despertar me rouba as palavras
no sono eu as vejo a esperar por mim


a luz do televisor revela o movimento dos mortos de um cinema mudo
nela tento encontrar o veio dourado
como um ultimato de um rei.
agora! viva! agora!
ou será o fim, meu caro.


os olhos do amor que agora tenho são grandes
me parecem sempre os olhos de quem está quase a chorar

se fosse ela muito pequena
se me coubesse nas mãos
eu a levaria comigo num salto
como o fiz ao encontrar em menino
um passarinho febril
que não mais podia voar."

.................................................


"vivo a sensação livre de que ninguém me julga
estou em fantasia e espero por ela na feliz luzitânia

ela me surge de carlitos e me beija

luzes da ribalta

tempos modernos

escolhi uma das minhas mil faces
a multidão agora possui de mim o mesmo rosto

seguimos livres daquilo que somos."

.................................................................

olhe-me

única janela da casa que se abre.
por ela posso medir a paisagem
pensar que é possível que não há engano.

eu poderia imprimir fuga

de um salto abandonar a casa dos risos proibido
incendiá-la


esperar que depois de algumas horas de caminhada

seja natural assistir o nascimento
de um mundo novo."

...........................................................


"o silêncio me mantém alerta
as mãos. suas. o ruído que provocam na pele
a pele não tem voz? e a alma tem?
a pele da alma é a voz e o silêncio...


apenas um olho está úmido "

........................................................


à mocinha dos meus dias dedico os girassóis que plantei
quando estava triste demais

no jardim sem panacéias
crisálidas, jasmins
eu em alma esperava
o que em corpo já está no fim

no momento de intuir
que desperto eu deveria esperar um tempo longo
vacilei e fugi de mãos nuas.


esperar o seu retorno
renascendo aquilo que está em falta no universo
Foi esse o conselho do oráculo
.......................................







eu então cerrava os olhos e no breu
eu via os seus ao meu redor

desancore os portos, moço
desancore-se de mim

ao mar se lançará

a buscar o que perdeu

voar é cair lentamente

foi assim que aprendi

a cair e a voar."


















RESQUÍCIOS


Disse-me que os ruídos carregam milhares de elementos os quais compreendemos e que estão escondidos neles. Essas coisas me foram ditas no tempo onde tudo o que eu ouvia eu ainda não entendia, e por não entender, era parte de mim e me era suficiente desse modo, até mesmo por não haver ainda em mim ausência ou necessidade alguma.

Assim, quando eu sorria, não fazia isso porque as coisas me agradassem, fazia-o por nem saber que a consonância de tudo o que me rodeava era parte de mim assim como eu era parte de tudo.

Agora ele não me diz o que tenho ouvido desde que aprendi a designar as coisas por palavras. Diz-me o que me cala, revela vagos naquilo que digo e me joga num silêncio que me mostra a mim mesmo ainda em construção.

Calo-me. E meu calar é uma resignação na qual encontro a sabedoria.

Calo-me e observo com os olhos atentos e com o semblante dos tímidos. Por muitas vezes me encontro numa tristeza estranha por estar assim em tal estado de espera e silêncio e é nesses momentos que seus sussurros me fazem companhia.

Senta aqui ao meu lado, diz-me a preparar o lugar onde na cama devo me acomodar, tenho coisas a te contar, coisas que o mundo não revela assim de pronto, coisas que não é possível ver com os teus olhos. Por isso te peço que te abstenhas desse sentido falho e te deixes a mim por inteiro, como se jogasse numa queda sem volta por saber que neste meu universo não é possível a existência de um chão firme. Feche os olhos para falar comigo e abra para si mesmo os ouvidos. Estou dentro, escondido naquilo que tu nem sabes que guardas com tanto esmero. O melhor recanto de tua alma é onde moro, e serão poucos os que te olharão e terão a capacidade de enxergar isso. E quando este alguém chegar, saberás. Ele terá os olhos que te farão desejar abrir os verdadeiros teus. Aquilo que junto a mim guardei em ti será revelado, assim como o sol num dia frio, que vem trazer a luz, a vida e a espera da primeira noite após a primeira alvorada.

Por algum motivo inicial, eu acabava por entender sua voz no desejo meu de fazer coisas que vinham de mim sem que eu soubesse como. Havia uma fonte de onde tais fluídos jorravam,e eu sem saber algum acabava envolvido na construção de elementos maravilhosos e assim me sentia muito feliz por ser capaz de descobrir em mim essas dádivas.

Por vezes muitas está ao longe, e assim o percebo a ser trazido. Alcança-me em partículas para que eu sinta a imensidão de sua existência. Essas partículas me são trazidas assim, como em vento, ou despencando de um despenhadeiro, ou caindo como chuva, ou ruindo como uma grande torre .

Cada partícula sua é um universo que me atravessa. Sua soma é o que me atinge. Sua presença através de mim é o que me multiplica. Não sou mais um? Eu indago. Ès milhares, mais milhares que os infindos milhares, ele responde.com um riso travesso.

Sim, ouço sua voz e seu riso.
Não é um ouvir.
Não é um sentir ou um somente perceber.
Fecho os olhos apenas e deixo que suas subdivisões infinitas tomem conta de mim. Sou parte delas. Elas são as formadoras daquilo que sou por agora e do que serei e do que até mesmo fui.

Vou te dizer a minha maior verdade. Eu posso falar com ele e ele me ouve como se fosse uma criança atenta ao que digo. Ele me coloca ao seu colo e me dá carinho. È aquele que sabe de mim antes mesmo que eu mesmo o soubesse.
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Publicada por leererzeit em 5:11 0 comentários
Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2008
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ontem eu não conseguia dormir. eram três horas da madrugada e eu continuava a zanzar pelos corredores. não era a insônia dos preocupados, era a de quem não quer fechar os olhos para o bom dia passado. fiquei procurando coisas de comer. como nada encontrei resolvi assistir a um filme que tratava de orquídeas e insetos.



no filme havia um escritor que sofria. as caricaturas de escritores sempre são assim...
sofredores. isso me parece risível.

olhei ao filme sem me importar com o enredo, me chamava a atenção as imagens das orquídeas a fazer amor com insetos. dizia-se que cada inseto procurava em sua curta vida encontrar a sua orquídea, aquela que a ele fora designada para que polinizasse a terra. bonito, isso em frase ficou em mim como uma boa melodia.




mas eu não queria ficar quieto diante de uma máquina ruidosa e por isso me levantei a zanzar novamente. foi quando encontrei a velha senhora que me criou a me observar com muita preocupação. eu a olhei e sorri como quem disfarça uma travessura. justifiquei que estava tudo bem, que eu só tivera um dia agitado e nada mais. contei-lhe que ouvi frases que ficaram registradas em mim mas que eu não sabia como explicá-las como algo marcante, pareciam simples mas me atingiam. algumas eram boas, outras eram de me amargar o juízo. mas eu não estava acordado por culpa das palavras do alheio, eu estava acordado por meu querer mesmo.

quer um leite? ela indagou. eu aceitei. era de madrugada e aquela mulher de oitenta e cinco ainda me acalantava como se eu fosse o bebê de outrora. senti muito carinho por ela. foi nisso que segui a recomendação de Taubelleine e lhe fiz um afago. em seguida lhe pedi um abraço. ela veio lentamente, perguntou se estava tudo bem. eu disse que sim e me deixou abraçado a ela. ficamos assim um tempo... é... ela tem o mesmo cheiro que ficou na minha saudade por muito tempo, quando fui embora daquela casa e não mais voltei... até agora.




eu me lembro de quando eu era criança e a senhora me deitava sobre suas pernas. eu sei que se lembra. sim, lembro também que foi um tempo muito difícil. alimentar onze pessoas numa terra nova e estranha. não foi fácil. é, com certeza não foi fácil.



permanecemos muito tempo em silêncio. os galos faziam seu útil papel inútil.



quer que eu faça um chá? ontem eu fiquei preocupada com seu estado. isso não deve lhe preocupar, estou muito bem agora...as dores passaram depois dos seus chás, é sério!

É preciso que se cuide.

Eu sei. Vai ficar tudo bem, a dor física passa logo, é sempre assim.

um peso magistral que me empurra para o centro da terra...

eu gostaria que o tempo voltasse...


leveza.

kundera admitiu que os estados desse gênero podem revelar uma leveza insustentável. uma insustentável leveza do ser. eu estava ali abraçado á velha senhora, sentindo seu cheiro, sentindo vontade de chorar, sentindo vontade de ser criança novamente e ser feliz o dia inteiro, e ter medo dos escuros do quintal, e ficar ansioso nos finais de tarde a esperar o retorno de meu pai que a mim sempre trazia elefantes de açucar, derretidos levemente pelo calor de suas mãos vigorosas de pai.


o que desejar?

dormir no colo da velha senhora e esperar, aos fingimentos de sono pesado, ser levado para a pequena rede que se esticava num dos cantos da palafita...

sim... depois perder o sono e descobrir que fingir dormir é pior que estar acordado.






coisas estão despertando em mim. a relembrança marca seu início.


posso dizer agora que sei que a qualquer segundo devo reencontrar a perdida alma de meu bennário.

e será nesse mesmo instante que me tornarei novamente o que fui.
aquilo que agora já não sou.
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Publicada por leererzeit em 12:54 0 comentários
Domingo, 23 de Novembro de 2008
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tenho construído janelas falsas, é uma oportunidade que o teatro me dá. através dela uma chuva que não é chuva também cairá sobre um lago. estarão a tocar músicas de modo instantâneo e artificial, e alguém estará cantando músicas que dizem coisas que não se acredita ou se vive. ora, não é mesmo uma loucura? se eu pudesse fugir para doses intermináveis de Tiaubees? se eu pudesse chamar o Herr Ober pelo primeiro nome e ele não mais me conhecesse como o velho desafinado de outrora? tanto faz. a decepção tornou os meus dias monótonos e longos. fico então, para me distrair, a fazer janelas falsas sem vidros e a esperar que a relembrança me tome conta e me traga de volta as coisas que não lembro, mas que suponho, me foram muito boas.

musa pelo telefone me diz que não tardará este dia da relembrança. eu sairei desse estado, o meu corpo reagirá, ela diz, acabarei com essas buscas inúteis por dentro da desmemória do demônio afim de escrivinhar coisas fantásticas. desse modo me pouparei de encontrar as mesmas circes que sempre me insistirão em me transformar em porco. o senso de humnor de minha Penélope sempre me sobra em risadas.

sim, é certo que há uma Kleine Frau em todas as mulheres, há também uma Minzy. basta lembrar que esse estado de Minzy é um estado inicial, quando deitam o mundo aos pés daquele que julgam amar repentinamente. fazem planos inumeráveis e não conseguem imaginar suas vidas sem a presença daquele que do nada surgiu para lhes salvar. brincam com fogo e se expõem aos lobos. nada levam demais a sério e cruzam os caminhos por atalhos perigosos.

e tudo isso, todas essas coisas, se constroem depois do contato inicial com os olhos.

janelas de vidros coloridos.

companheiras insubstituíveis daqueles que desejam ser livres.


e é assim que cada um constrói sua pequena casa: criam um Deus, criam um amor ideal, e criam um intransponível limite, a moral. nada pode libertar a criatura das garras dessas quimeras. ali ela esconde sua fisionomia, ali passa a ingerir remédios cor de contas que lhes tiram o poder de ver o mundo como realmente ele é.

mas como é o mundo? é certamente do modo como não vejo agora pois o que há em mim é muito em espanto e defesa. como se há pouco um tigre me alcançasse e me livrasse por piedade.

mas...


a voz de musa me toma de tranqüilidade. ouço a pequena pirilampo a gaitar.

não posso continuar a me entristecer por tão pouco. eu deveria encher meus olhos de escamas como aquele mendigo da piscina que o messias curou. mas se eu fosse ele não quereria a cura por enquanto, que eu me preparasse mais para enxergar de perto a cara dos cães ferozes e por eles nada sentisse e nada fizesse! mas ainda há em mim uma vontade do toque. como se eu tivesse uma obrigação de lhes estar muito perto da alma. de lhes dizer que o amor é apenas isso e mais nada.

e vejam o que eu vejo!

uma turba imensa de velhas e beatas matronas atravessa a rua a cantarolar, cercam os missionários da igreja de Jesus Cristo dos santos dos últimos dias... devo também ter visto três pastores com ternos e gravatas muito engraçados...


passa por minha cabeça que muitas dessas pessoas foram geradas sem amor. elas agora se dizem fruto do amor de Deus. mas como ser fruto do amor de Deus sem serem geradas no amor entre um homem e uma mulher? como ser fruto do amor de Deus se geradas apenas por bonomias?

eu fui também gerado assim.

nascer disso é perder um pedaço da alma. Daí essa busca incessante por algo que nunca aparece. e quando nos surge o que se excede em nós é a covardia e a crença de que não somos devidamente capazes de escolher o que é certo, nos apontam o dedo e nos dizem louco. Deus aparece levantando de seu mundo escondido a nos aconselhar não fazer aquilo, se olharmos direito para ele veremos que possui a fisionomia daqueles que nos fizeram chorar enquanto éramos apenas crianças inocentes. a prisão que nos inventaram é em demasia cruel. falar em liberdade renderia milhares de linhas aqui. e tudo o que até agora tentei dizer em metáforas ainda é muito pouco para revelar seu perfil remoto e sutil.

falei de amor e liberdade como quem fala de uma água refrescante que se consegue na esquina apenas pedindo. isso é pouco demais para almas tão pequenas. seus amores e suas liberdades são ostentadas em preciosas construções do ego e da moral. nunca atingirão o que lhes dará a liberdade devida e o que lhes dará a glória de poder dar à luz uma geração de bem aventurados.

nunca entenderam as palavras dele. nunca compreenderam o que poderia significar a mulher a lavar seus pés com óleo e a enxugá-los com os próprios cabelos.

arranco de mim o que senti nestes últimos dias como quem arranca algo que me tumultuou a alma. que me levou a sentir uma tristeza que adoeceu meu corpo, desestruturou meus rins e me encheu de febre. arranco isso de mim como quem arranca um trapo velho que já me feria as dobras e os pulsos.

subo à colina e vejo que a feia batalha ainda continua sem mim e me sinto muito fraco agora. preciso reencontrar o Deus que me chamou nos primeiros dias. a relembrança deve surgir em mim sem nenhum Herr Ober, sem nenhuma fuga para sossego algum...

devo estar sozinho com meu títereiro, aquele que me criou, o senhor de minhas consciências.


então resolvo queimar na mente a casa que até então me abrigou. que arda a casa dor risos proibidos e suas janelas de vidros coloridos. que arda com isso toda a mentira, toda a hipocrisia. que no subir da fumaça eu dobre o meu pescoço e caia de joelhos. o fim da espera chegou. abro os braços para a musa de meus dias e reconheço que não há no mundo quem me possa amar de tal modo e que me reconheça pelo que sou ainda que na maior distância que exista. Musa...

vejo arder a casa dor risos proibidos. e nem cheguei a contar como foi que ela me surgiu. que foi num sonho onde uma criatura me dizia que se eu dobrasse os joelhos eu poderia voar como voam os anjos de pedra. mas se eu optasse em voar sempre dali eu não sairia, seria o reflexo interminável das lâminas de vidros coloridos das janelas da sala. ninguém acreditaria em mim se dali eu saísse e dissesse que dentro da casa eu poderia voar como os anjos e que por isso era proibido de sorrir.


daqui recomeço em novo tomo.


"então em mim me veio aquele desejo de ser o que falta ao serestar de Belleine, o raminho verdevida que a pombinha carrega ao bico como que para sinalizar que o mundo sempre floresce depóis de uma tragédia".



(outra tentativa de fim)




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Publicada por leererzeit em 12:39 0 comentários
Sábado, 22 de Novembro de 2008
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"Senhora do silêncio


Hoje eu me senti liberta e inteira. 'Sê inteira e sê só'? Eis a beleza das minhas contradições. Acariciei meus momentos ternamente, como quem cuida do que não é seu. Estive feliz por hoje. Dancei, meu bem, ao som da minha própria voz. Escrevinhei, como digo, e não precisei da tristeza que me era combustível na infertilidade imaginativa. Me fui cativa e improvável. Sorri, vi pôr de sol sem sol......vi a chuva, sem possuí-la.Eu tenho desejos de escrever a cada minuto. De declarar meu estado pretensioso de espírito lúcido. E deves se perguntar como adquiri essa afeição aos últimos dias de um tempo em que não creio..o fim de algo eterno... de um ciclo anual... Meu bem, são as improbabilidades! São as surpresas, as idéias subversivamente álacres!Eu estou alarmada. Encantada por um mundo suavemente desconhecido. Isso me instiga. Me devoraria, se dentes possuísse. Mas possui um vazio. Não ocre, como um fardo fatigado. Mas um vazio libertino. Onde meus olhos são janelas, e meus dedos são meios. Minhas loucuras brotam-me como fonte indubitável de água corrente insípida e potável.Tento pôr fim a esse descontrole emocional, mas minhas mãos são mais fortes. Mais fortes talvez até que meus próprios pensamentos. Elas tendem a me guiar, mesmo quando há o medo. Elas buscam o caminho através do tato, e das aspirações.Sei que isso não passa de um mar de situações. Acreditei ter me cegado, tamanho era a clareira provocada pela casualidade fraternal. Mas a luz, que antes me cegaria, me propôs a visão tenra, e eu aceitei. Estou mergulhada, em meio a heterônomos desconhecidos, num habitat ilógico e imaterial, desconversando sobre sentimentos que 'eles' desconhecem. Mas tem sido muito bom pra mim".
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Publicada por leererzeit em 6:47 0 comentários
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estou de volta a isto que construo . castelo frágil. escadas com degraus escorregadios. sinos não permitidos de dobrar.
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Publicada por leererzeit em 4:31 0 comentários
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mas não devo me desligar da lição que Dora me deixou: Amor é liberdade.vencer o egoísmo e amar sem a espera de uma recíproca. poder falar de si mesmo rumo aos outros, e fazer isso no último instante, no qual se tem a certeza de não se poder ouvir uma resposta.
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Publicada por leererzeit em 4:18 0 comentários
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quando o que tenho que chamo de alma se mostra em desequilíbrio, logo se fazem em mim mudanças. são indisfarçáveis. meu corpo adoece, meu semblante todo se torna pesado, ferimentos não cicatrizam e a pela fica irritadiça e propensa a erupções.

quando Dora morreu parte de mim chegou perto também disso, de morrer. sua última frase me deu alento naqueles dias :"amo todos vocês", mas essas confissões não podem satisfazer aquilo que a dor feriu. tenho reencontrado o significado dessa sensação que nos vivifica, a sensação de estar a sentir amor. quando Dora balbuciou aquelas palavras antes do último suspiro, um sorriso leve se formou no seu último rosto vivo. o que mais eu poderia fazer? Dora se foi e deixou palavras de amor. Resumi toda a vida daquela mulher a essa cena.

os dias seguintes me encheram de tristeza. eu nem sabia por onde andava, as portas de minha casa pareciam fechadas. Já não era ela que carregavam. meus olhos viam um invólucro vazio que a mim já não se movimentava.

eu poderia falar desse estágio à Taubelleine. eu poderia tentar chegar a esse ponto. talvez com isso eu vencesse o muro que se erguia entre nós. mas os olhos da menina procuravam encontrar a razão para o seu maior desalento, e contra isso o que eu poderia usar como arma e escudo seria apenas palavras que dissessem coisas sobre o sol e o rio que juntos aprendemos a decifrar.


Taubelleine não pôde mais dizer que me ama.

Estava tomada pelo egoísmo. Não ouviu minnhas queix

e assim fico a lembrar do tempo que ela me disse isso, faço-o como quem recorda um engano a sentir uma leve vergonha infantil.
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Publicada por leererzeit em 3:52 0 comentários
Sexta-feira, 21 de Novembro de 2008
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O INÍCIO DO ESPETÁCULO PROMETIDO





eu depois dessas lutas com quimeras levantei mais cedo que de costume...
apertei as mãos contra os cabelos e espirrei algumas palavras ao cachorro que latia e me incomodava.

fiquei muito tempo olhando não sei o quê através da janela que dá para o rio.

de fato mesmo eu não pensava em nada. alguma pureza original tomou conta de mim e cheguei a acreditar quem não há nenhuma necessidade de ser inteligente. não, não há. é uma mentira quase tudo que inventaram sobre os humanos...


mas não é mentira isso que inventei sobre mim.

não, não é possível mentir diante de olhos tão bonitos. eu pensava isso com o copo de água ao meio e indeciso se tomava ou não o mesmo remédio de sempre. e pensar que quase acreditei estar curado. que não precisei ingerir isso por quase quarenta dias.

o resultado foi essa desordem anunciada e burocrática.

uma utopia de misturas multifásicas:

pressa freada, inocência maliciosa. ah, inocência maliciosa...

se eu não sair deste estado espetacular logo logo serei o alvo do mais recente apedrejamento.

era o que eu tinha em mim antes que o último instante começasse.
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Publicada por leererzeit em 13:24 0 comentários
Quarta-feira, 19 de Novembro de 2008
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o homem de ontem que habitava aqui estava num ambiente insensível. ele próprio por nada se deixava afetar...

o homem de ontem hoje já não habita esta casa?

duvido que a casa que construí ainda me esteja ao redor de mim.
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Publicada por leererzeit em 8:18 0 comentários
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vivi muito. das coisas que vivi falo em conta gotas. ontem eu lhe disse que pude ver em que lugar a miséria humana pode chegar. também vi até onde alcança o explendor de sua boa vontade.

não, não tenho mágoas do passado. não guardo rancor algum. mais um pouco de tempo a me observar vai lhe deixar perceber que não sou um emaranhado de fios sem pontas. a densidade é apenas uma defesa. tenho agora o coração fraco.

ontem atravessei uma rua onde famílias se reuniam nas portas de suas casas. algumas crianças brincavam com seus cães...

essas imagens da cidade em movimento causam algum desatino em mim. sinto vontade de acariciá-los a dizer que as coisas do mundo são boas e que eles não precisam ter tanta pressa. no caminho ainda notei que um menino se alegrava por ter encontrado um ninho de passarinho. forfulhava entre as palhas em busaca de algo vivo mas nada encontrava. e me indaguei novamente o que essa imagem de especial me causava?

não sei qual o significado dessas coisas pra mim. existe uma linguagem nisso tudo que em meu interior se transforma em música que me ponho a solfejar. e é através desses solfejos que me reconstruo sempre que algo me desmorona. o significado das coisas que vejo passa a não ser o que é de mais importante no meu dia. são apenas espelhos de minhas sentimentalidades. são resquícios daquilo que meus olhos vêem.

de noite, assim que saí do teatro entrei num templo cristão e lá fiquei sentado por um tempo. fechei os olhos e tentei encontrar o acalanto que a menina me disse que eu encontraria sempre que procurasse. pedi perdão pelas coisas que disse e pelas agressividades repentinas de meu comportamento. imagens de minha infância vieram até mim. em especial uma em que eu e a velha senhora carregávamos através de ruas muito compridas algo muito pesado que ainda assim me proporcionava grande satisfação.

em casa fiquei sem chão. li coisas em outro idioma. mas como dormir sem a voz de Taubelleine?
como dormir sem ouvir seu riso?

estar acordado no entanto é um estranho estado de lucidez.

porque me escondo tanto? ela me indagou?

atravessei a noite a pensar nisso como se essa solução pudesse me devolver algo perdido.
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Publicada por leererzeit em 4:31 0 comentários
Segunda-feira, 17 de Novembro de 2008
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acordo por volta das quatro depois de pesadelos


a voz de deus sopra verbos


é a que me indica os rumos do que desejo. coloco nela a ordem daquilo que anseio...


ao longe moços serenatam. o passarinho noturno num cantar embriagado de engano não desiste.



acordei nesta madrugada insone pra dizer que amo...


acordei em pesadelos pois cerrara os dentes e assim me doíam os ossos da face...







dormira de um modo ruim. mas despertei na voz de deus pra dizer que amo e nisso encontro cura.

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nada precisa mais ser dito, diria em sorrisos o demônio.


penso no riso de musa como quem busca a flutuar na tensão superficial.

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sonhei que eu era um velho e revirava alfarrábios. nas coisas escritas a unidade silenciosa de uma única fisionomia. ela não ainda estava revelada. a mim mostrava apenas o que lhe convinha. dona de um sutil prazer egoísta, a criar sonhos volúveis e decisões líquidas.

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escancarei a porta da mansarda ao pior dos inimigos. me deixei ao julgamento como quem confessa o que não fez. lancei-me ao fogo por ter fé demais em ser forte para não me derreter até a morte.

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usaram o nome de deus para me imprimir culpa. me disseram não ter nos dons que tenho o milagre suficiente para mudar os rumos.

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o silêncio muitas vezes é a mentira sem verbos.

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quem me indagou sobre o que sinto. quem pôde medir minha dor?

sórdida é a escolha fútil

vil é a atitude que fere


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se felicidade é a roupa predileta de Deus, eis que a mim Ele se revela nu.

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o mais forte guerreiro sabe em que momentos é preciso se reconhecer um tolo.

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Publicada por leererzeit em 10:22 0 comentários
Sábado, 15 de Novembro de 2008
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certo dia assustei-me ao perceber que santiago não mais estava onde sempre esteve.

por muito tempo passei diante daquele lugar sempre com a idéis que ele estivesse por ali. mas não estava mais.


ficou-me a dúvida sobre o seu fim. soltou-se e seguiu a esmo ou simplesmente afundou e sumiu?


ou será que santiago só existia para a minha vista e por isso de estar tão distraído acabei por sem querer sabê-lo inexistente como de fato era?

o que importa é que de fato o velho barco, de minhas lembranças, jamais desancorou.
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Publicada por leererzeit em 12:58 0 comentários
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fazer janelas de mentira é que me prende agora. tais objetos não revelarão nada que exista do lado de fora. são uma falsidade necessária para iludir o público.

sinto que agora já branqueio a cara de coisas inanimadas como se o palhaço agora fossem elas.


nada há de alegre nisso de disfarçar as coisas para parecerem reais.

também por agora nada vejo de prazeroso na realidade.

é assim que o sol começa a se por. os dias de uma estação indefinida se tornam apenas repetências enfadonhas.

fazer as janelas falsas parecerem reais é o que me resta de distração.
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"Percebo que tens te preocupado com a duração desse estado. Tens indagado a mim, até quando vai durar. Isso não podemos prever, nem mesmo se é certo que terá fim. Prefiro não pensar nisso, e acreditar, mesmo correndo o risco de me achares boba e inocente, que não terminará. Pode passar por mudanças, transformações, quem sabe até ficar melhor, apurar... Mas fim... creio que não. Por mais que te digas livre, percebo que uma parte da tua racionalidade tem te incomodado, quer que te movimentes pouco, que saias daqui, do Nós, só com esses frutos que já colhemos, o que já é bastante coisa, mas não chega nem perto do manjar que está reservado para nós, das delícias que ainda estão por vir. Eu também tenho receios, mas escolhemos viver. Mas não é sobre isso que quero falar. O que quero dizer agora, o que vim dizer aqui, é algo muito simples e talvez até repetitivo: apenas dizer que amo estar do teu lado. Amo ouvir tua voz, por mais que estejas a falar sobre ruas, ônibus ou qualquer bobagem que seja. Que amo sentir teus toques, teu carinho, teus abraços, amo fazer o mesmo a ti, por mais que seja mais comedida, bem sabes por que. Que amo pensar em ti e saber que também estás pensando em mim. Dizer que amo perceber que temos sintonias de pensamentos e atitudes (não sei se já percebestes isso, talvez não, já que não paras de falar...rs... E eu também amo isso!). Amo te acordar só pra te ouvir mais uma vez antes de dormir e depois me sentir culpada e chata. Amo simplesmente saber que tu existes em mim, e só em mim poderias existir desse jeito, como eu em ti. Enfim, dizer que amo..."

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Agora,só o que me resta são resquícios,pedaços do pão antigo, que por alguma razão, esquecestes de me tomar,ou deixastes, propositalmente, nos meus caminhos, como uma forma cruel de rir-te de mim. Mas... Tinhas esse direito? A caso um presente dado, pode ser arrancado de volta por quem o deu? E quando se faz parte dele?Algum direito devo ter, direito este que, ao menos permitisse a mim participar das decisões. Mas logo me lembro que A decisão já foi tomada. Também arranquei de ti parte do que tinha te entregado, assim, de súbito. Mas não sabia que vingança também era um dos vinhos que experimentavas. Não, fui um pouco mais honrada, ao menos comuniquei. Hoje, duas almas machucadas, podem evitar cinco almas estraçalhadas amanhã. Quatro almas, e uma. Mas, se sei disso, por que continuo a procurar pelo movimento? Pela palavra? Por que seriam pontos de pouso, como uma cachoeira de lembranças onde poderia me refrescar, um fruto bom do que se foi. Pensei estar em paz, quando como resposta, um sopro frio e seco bateu em meu rosto naqueles instantes, então senti um vazio que não deveria estar ali. Seria essa a atitude madura de quem se diz livre?
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Sexta-feira, 14 de Novembro de 2008
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Santiago era um pequeno barco que permanecia ancorado no rio Poxim. Nunca o vimos sair dali. Eu e Ana ficàvamos diante do rio a observar santiago na sua prisão atemporal. planejávamos libertá-lo. mas eu dizia que não saber nadar era a minha incapacidade em estado latente. e ela dizia que o adoecer de um barco é não poder ser levado pelo rio sem rumo. afundar nunca seria sua morte. a morte de um barco é a inexistência de um rio e de um rumo.
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ela não estava em mim ainda. eu não dormia ainda quando me enviou mensagens que diziam que de algum modo a minha miserável escritura tocara sua alma e despertara o que de muito tempo ela sabia estar em espera, o que sabia ser parte sua de muita preciosidade. naquela noite dormi num acalanto confortável. eu ouvia a voz que vinha de longe. ela me causava um grande bem.
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não poderia existir nenhuma não alegria naquilo que construí em nós. a humanidade poderia ser construída assim. a humanidade pode ter surgido de um início tumultuado também, quando um animal olhou para o sol e o entendeu como sendo um algo de muito poder. mas a humanidade se tivesse um recomeço tão tranquilo quanto o meu diante de Cibelle, diria eu que tal mundo de agora seria o desenho apenas de algo em muito ruim . não, não poderia existir nenhuma não alegria no que eu era naquele dia. para percebê-la eu precisaria estar deitado na pacífica praia do sossego. ah, meu sonho de outrora, minha utopia em que por dias me deixei sozinho a esperar o dia em que uma alma bela me encontrasse.

por isso, no dia em que ela ia embora daquele lugar eu resolvi presenteá-la com o que considero o dom mais precioso que me foi dado por quem me criou - meu titereiro que manipula a cena na qual me deixo pertencer. dei a ela os meus papeluchos, iluminados pelas luzes da tela de um computador. letras marrons ou brancas em fundo sépia ou negro. minha alma estava ali em tipos que escolhi a esmo.

não tive nenhuma intenção. apenas a quis perto de mim mesmo que distante, como uma leitora indiana que ama o escritor guatemalco, como a Doroty francesa a amar o pequeno principe negro da Antiópia. nada mais que um sorriso seu eu esperava. e eu a via tão triste naqueles dias...

como deixá-la ir sem nada dizer que nela plantasse algo que de mim por ela melhorou e renasceu?

eu devolvia as flores.

eu as devolvia num arranjo que fiz escondidamente.

como quem planeja surpreender a irmãzinha triste com uma brincadeira tola que a faria rir por entre as lágrimas.


http://br.youtube.com/watch?v=_5-pBkwyUxc&feature=related

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eu a observava triste, como quem procura por uma sombra por estar em demasia cansado do sol. nesses dias em que eu a via assim, minha paz estava em mim tão calma que era bem possível que eu a pudesse recolher e lhe dar um pouco do sossego que habitava em mim. aprendi de início que por aquela existência fora do comum eu sentia demasiado bem, como quem também encontra sombra depois de fastidiante caminhada. senti que poderia dividir com ela algo que em mim se manteve guardado por muito tempo.

é certo que pelo lado de fora da casa onde eu morava o mundo me era muito hostil. e eu já naquele momento sabia que para alcançá-la precisaria ser corajoso e forte. precisaria abrir meu peito para o impacto prometido. Um impacto que eu sabia com certeza que viria.


e não foi diferente. aconteceu que certo dia seu olhar se direcionou a mim como quem me vê.

era preciso estar preparado, resmunguei...


coragem é a procela tornada risível e bela. Devo estar preparado pro que virá.

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seu nome era...

seu nome ainda nem sei qual é.

mas naquele tempo se chamava Cibelle.
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que um dia olhou aquilo que não me forma e assim me descobriu.
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que um dia olhou aquilo que não me forma e assim me descobriu.

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era uma vez uma menina que nunca me olhava de frente...
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é depois disso que resolvo que daqui por diante vou narrar algo que vivi. e para que depois destas temporadas estes escritos sejam tomados como a expressão verdadeira do que digo, invoco a inspiração do que me habita, para que não me falte o acalanto de estar a falar o que de certo se mostrou a mim de modo tão intenso e puro .
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Terça-feira, 11 de Novembro de 2008
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sentir falta da presença da menina é sentir falta do rio?
está decifrado um enigma tolo:

aquele que às margens do rio nasceu não sabe nadar.
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Domingo, 9 de Novembro de 2008
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houve aquele tempo em que...

dias ruins se abateram sobre mim.

nessas ocasiões há algo que repentinamente surge entre a platéia e o palco. não se pode ao certo saber o que as palavras iniciais podem significar, a soma dos gestos, a aplicação mais verdadeira da verdadeira função do olhar, tudo isso adquire contornos que resultam num estágio de pretensiosa letargia. espera-se que os minutos ali se alonguem, a cena se mostra como um espelho daquilo que espero. esqueço o dia lá de fora, esqueço as arquiteturas mal feitas, apenas me mantenho vivo, semblante atento.

a existência da musa de meus dias se manifesta. semente que se rompe ao broto. um modo se sentir-se seguro como se me amparassem as dores de minha coluna cervical.

há tempos que não me sinto assim à beira de uma agressão. há tempos que não sinto na garganta a secura de quem está sentado ao banco dos réus. ando com a marca dos malditos e por ela e através daquilo que ela representa todos me dissecam a dizer coisas, a esperar que eu diga coisas que não posso dizer.

e tudo isso acontece porque Ballão é apenas um servo impotente.

perambulava pela platéia enquanto o espetáculo do alheio era representado. e jamais houve maldade naquilo que nos uniu, nem pecado nem impurezas de qualquer tipo. alguma coisa divina, infantil nos impelia um ao outro. como se cada um de nós procurasse pelo mesmo pequenino tesouro esquecido nalgum canto.

estou acordado agora. por mil diabos!. ninguém conseguiria medir as dores que senti. vivo agora um repente pacífico. um sinal me indica o rumo e sei que serei levado ao que me foi prometido, ao que a mim foi guardado. não posso disso me distrair. posso sim...

se acaso a cena se tornar longa demais...

procurarei sua mão no assento ao lado. encontrarei os dedos frios de quem espera um gesto?
ou estarei apenas dormindo enquanto se passa na tela o melhor do filme mudo?

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Sábado, 8 de Novembro de 2008
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enquanto a mulher fala de almas, eu entrego a minha ao espasmo que me tomou?

volto minha cabeça para o lado e não posso enxergar a mocinha no escuro da platéia, mas sei que lá ela não está a esperar que eu a note e a recolha para o claro. ela espera sim que aquilo que agora se estanca em seu redor mude, que reconheça aquilo que ela reconhece. assim desse modo sua vida inteira seria a sua vida. devo encontrá-la no mesmo escuro onde estou. as retinas permanecem dilatadas em busca de uma figura que se possa definir. suas mãos tocam algo. faz isso para perceber que deve permanecer assim? ou faz isso para se certificar que de si mesma já se sente em dois mundos?

nos desvarios da cena me aprimoro em apertar os olhos...


apenas isso. imploro por um acorde.

desejo o choro.

mas a emoção disso não habita o corpo. nisso o corpo é pequeno para a alma.


magnífica contradição não imaginar o oposto: é a alma que possui ao corpo.




a mocinha reconhece o mundo nesse modo de ver que também é meu? não encontro seus olhos pois bem sei estão já em mim e se manterão assim até o último dia no qual mais nada conseguirei manter sob o tecido?


se me obrigarem a dar um nome a isso que me faz buscá-la, a isso dou um singelo nome. faço-o como modo único de trazer à luz tal coisa que desconheço de semblante, pois outrora jamais senti. sensação risível de nem ter. subjulgo total dos substantivos.

Belleine dorme na minha procura. dorme tranquila que nada lhe pode acordar.


e o nome daquilo que por ela agora sinto já tenho, mas ainda é o som desse nome o que me falta.


portanto, no silencio habita o que significa o que por ela sinto.



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estamos todos num teatro. o espetáculo acontece.

diante de nós a mulher se enrola num tecido preto e fala de almas. penso que por muito tempo tenho tentado entender esse universo que digo divino das almas. e nisso penso que por muito tempo tenho entendido que me senti sozinho na busca tola. e essa sensação tinha algo muito próximo de minha alma, como se ela fosse esse sentir que não compreendo. pois diante do que me é incompreensível, sinto minha alma me surgir como se realmente fosse minha alma. a tranquilidade de sua voz me revela coisas que eu nunca pensei que acreditasse. e assim fecho os olhos como a saber sem precisar ouvir. ter o entendimento claro sem precisar ouvir. ter o entendimento claro sem precisar ver. ter entendimento claro sem precisar sentir na pele. ter o entendimento claro sem precisar entender. ter o entendimento claro sem dele precisar. e respirar apenas.

e assim nem me dou conta que ela está nua por debaixo do tecido. assim como estamos nus todos nós.

seu falar é compassado, é a voz de um rabi que se aproxima dos ouvidos e diz verdades que parecem ter sido em tempo longo apenas suspeitas.

e eu sei que a mocinha está a assistir e ouvir também a mulher do lençol, e que nos seus pensamentos parte de minha presença se movimenta como o corpo nu da atriz. seu olhar provavelmente me busca por dentro de sua mente, ela não se move. não move o olhar em minha direção. deve se deliciar com a viagem que faz naquilo que suspeita ser o que sinto ali, no mesmo lugar onde está. ou será que essas delicias imaginárias são minhas, somente minhas? percebo isso com um contentamento retraído, como se ainda soubesse que apesar de me movimentar dentro daquele corpo, ainda assim, essa movimentação não lhe seria capaz de libertar como eu sei que poderia. é assim que também me sinto nu como se nu nunca estivesse.

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muito devo ao olhar que me criou

pedras soltas.



o olhar.


tomou-me como primeira expectativa e nela manteve-se vivo.


assim ressuscita o que de melhor em mim floresceu.


das cartas de papel o jogador noturno e solitário fazia um simples castelo


levou a mera distração como missão maior. assim se seguiu o tempo...


com o que sentiu construiu um lugar cômodo

silencioso.


espécie esquisita de refugio sem fuga



exílio distante que não causa afastamento corpóreo

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PREFÁCIO DE QUALQUER COISA - 6

Fonoduadiadengo.

Era assim que me chamavam, na ordem: Fonoduadiadengo, filho de Esbiçarba e neto de acabotuçuriari.
Nomes velozes e tão bonitos. Bons de chamar.

Fonuduadiadengo
Fonoduadiadengo

Filho de Esbiçarba e neto de acabotuçuriari.

Essas eram as palavras que surgiam diante de mim... como em átomos de som...  quando eu conseguia  entrar na mesma vibração...   emanada daquele  pedaço de universo, que cabia todo, dentro da moldura de uma janela...  eram essas as palavras que vinham de dentro de mim.

Fonoduadiadengo, por causa de sua sonoridade, era o nome que mais prazer me dava em pronunciar. É claro que me daria mais prazer em pronunciá-lo...  aquele era meu verdadeiro nome. Aquele era o nome da energia que habitava o meu corpo e a minha mente. Esse é meu nome verdadeiro: fonoduadiadengo.  Foi o próprio criador quem me nomeou assim.  Foi aquele que é o início e o fim de tudo, que escolheu para mim este nome. Entendam a doçura dessa verdade. Foi o criador que escolheu este nome.

Meu nome aqui neste mundo? É um nome que também me soa bem. Mas é  dado pelas mentes em carne móvel. São mentes feitas com emaranhados cinzas, carbônicos, que por ação direta da luz prismatizada do astro sol, produzem cor, e se manifestam no que os humanos entendem como cores da vida. Certifico que isso é para mim, um milagre. Essas partículas  possuem a capacidade de se metamorfosear em inúmeras coisas, num processo contínuo e ininterrupto de conbinações e recombinações.

 Aqui, neste lugar, eles tomam a forma do que a carne móvel, por exemlo,   entende como um peixe, ou como   o mar, ou e  até mesmo o céu, ou um mamífero em movimento.

O mundo é como as carnes móveis o enxergam.

 Enxergar, é escolher uma interpretação para qualquer coisa  que se entenda como sendo as outras coisas além dele mesmo.

Enxergar é o mesmo que ver o criador e senti-lo se manifestar através das palavras e das coisas. Enxergar, na verdade, é parte de algo muito maior, que se chama de Sentir. Essas combinações acontecem num universo muito menor do que as mentes humanas poderiam supor. Mas para que aquilo que eu diga seja entendido, uso o exemplo simplório de uma piscina de pó absurdamente fino, onde se mergulha  a ponto de submergir  e nunca,  nunca, jamais deixar de sumergir. E isso acontece  a ponto de , com o tempo, não mais se saber  definir  se o corpo  flutua ou afunda, se sobe ou desce ou se simplesmente vamos em corrente sem fim devido a imensidão da profundidade da piscina.

 A mente do criador é assim .Ele é assim. Nós, carne, não carne, corpo, não corpo, manifestações entre a luz e o pó. Recombinadas pelas sensações do criador.



Essas sensações, na mente do que as sente, vão ganhando nomes primordiais, que surgem durante o ato da criação dentro da mente do criador, ou, dentro do criado, no criador, sendo ele.

E o nome dado a mim, pelo criador é  fonoduadiadengo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

FIM DE COMEÇO

Galinda ensinou-me que o amor é mais que céu da boca e língua

Galinda ensinou-me que o amor sem língua no céu da boca ou é louco ou é pouco.



ela, não falo mais de Galinda, me disse que eu habito uma ausência
ela, que não era Galinda, sempre foi ausência.

Galinda se irritou quando soube que eu amava habitar a ausência
Galinda nem sabia, que a ausência era o que me fazia amar também  Galinda.

O Amo

Vejo o mar de tempo em tempo
e entre cada tempo em tempo, o mar é o mesmo mar...

Encontrei a tua agulha escondida numa almofada sobre o petisqueiro da sala de estar
A linha atravessava o metal com a mesma cor da velha camisa, que usei na noite curta em que fui feliz.

é esse dizer Amo, que por agora dá a rotina a tudo que mesmo balbucio
como quem pousa o olhar sem descanso num aquário, ou numa parede azul

Nunca seria fria uma cor
se de mim, do fundo da mente, tua imagem surgisse como o maior desejo de morte em uma espera

e a agulha imantada com a cor de uma camisa distante me revela o meu dizer Amo
e  busco, que incrível, por armários que de tão fechados já nem são de minha posse

hoje não deveria me deter na sede
e minha boca envolvendo um clímax, deveria ser o contorno de tua vagina

na menina dos olhos a inocência é uma tabuada distante da memória
e a diversão noturna é só uma velha busca por desesperadas distrações mundanas



Amo

por conta de selar aqui não um desdém com a vida

Amo

por conta de aqui saber que só na vida cabe o que é anseio






entre a fechadura e a chave
é o meu gesto de girar o pulso que desfaz a porta e a transforma em pedaços de uma parede



guardo no velho sofá da sala a agulha

perco, no velho sofá da sala



a agulha.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

PREFÁCIO DE QUALQUER COISA - 5

Eu vi um lobo. Ele se destacou entre os outros lobos e se tornou seu líder.

Acompanhei-os por centenas de dias. Não, eu não sou biólogo. Quando eu olho para essa janela, eu não vejo em mim um biólogo. Sou uma criatura livre, um pensamento livre. Mas os lobos estavam ali. Eu estava me escondendo deles. Se caso eu não fosse o melhor nisso, em me esconder, tornaria-me presa fácil.  Pàssei milhares de dias ali...  trinta anos humanos, eis a minha pena, trinta anos numa ilha repleta de lobos.

Mas é preciso que eu narre brevemente a passagem pelo mundo, deste lobo.

Veio de uma linhagem que se comportava de uma maneira mais amistosa com as presas. Essa linhagem possuía a capacidade de fazer amizade com elas, alguns instantes antes de abocanhá-las. Esse comportamento ao qual me refiro, foi o comportamento que a alcatéia teve, ao me assediar por trinta e sete dias, doze horas e vinte e três minutos. Conheci, os ancestrais desse lobo, para o qual dedicarei  minha narrativa.

Conheci o início dele, antes, muito antes, dele....  se iniciar em ser lobo.

Era tranquilamente feroz. Para ilustrar poeticamente essa ferocidade, lembro que  alguns pássaros pousavam muito perto de suas garras. Vi borboletas. Isso é sério. Vi borboletas. Borboletas pousarem em suas costas.




Abruptamente tinha um lampêjo:

devorava, surpreendentemente, umas quantas borboletas e uns quantos passarinhos. Mas os outros passarinhos e as outras borboletas que ficavam já não se assustavam, continuavam ali, tranquilas e fechando os sentidos todos, como se nada lhes tivesse acontecido.



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PREFÁCIO DE QUALQUER COISA - 4

Confusas, as ruas desenhadas, de início, eram para mim um terrível labirinto. para uma criatura que por trinta anos se submeteu ao exílio num espaço não maior que um confessionário, posso sem timidez compará-las a um universo muito maior que minhas capacidades de cruzá-lo. Elegi, para que minha vista se acostumasse às novas dimensões, uma janela que do alto de onde estava, mostrava boa parte das principais avenidas. escolhi aquele lugar como um refúgio na imensidão da casa vazia. Dali eu pouco saía. dali eu, entre o tempo e a espera por nada, criei mundos subterrâneos; construí novamente os alicerces que suportariam o peso de muitas novas crenças. Não, não posso nominá-las de novas crenças, mas posso dizer que tive que buscá-las novamente, e assim reencontradas, senti-me na obrigação de  guardá-las como se fossem a velha agulha imantada que me direcionaria à novas buscas.

carruagens, fiacres, automóveis, aeroplanos, saltimbancos, homens elegantes sob cartolas, mulheres vestidas em malhas, luzes e imagens em movimento, homens das cavernas e criaturas supremas em si mesmas...

tudo dali eu via, não assustado, extasiado, escondido no meu lugar inalcançável, que só vez ou outra era ferido pela presença de Estácio, que silenciosamente trazia o que comer e o que beber.

O velho mordomo por algumas vezes se detinha ali, como quem reluta em não manter silenciosa alguma fala, alguma pergunta. mas em seguida respirava fundo e descia as escadarias.

no final das tardes eu ouvia um piano, invadindo os espaços entre mim, a casa, e ....  a desventura da janela. as repetições de quem memorizava, o erro conivente com o meu desejo que me implorava para que aquilo terminasse. mas quando terminava, o vazio sonoro ainda continuava preenchido pelas tentativas. tentativas....

tentativas. que outra coisa poderia melhor impulsionar a vida?


noites caiam, dias renasciam e eu e a janela e a visão da cidade íamos a nos tornar algo novo, que espera seu tempo sem saber o que significa esperar.

a carruagem da rainha cortava o lusco fusco diligentemente, todos os dias. eu podia ver suas luvas brancas reveladas por acenos aos súditos que se aglomeravam e também gesticulavam em reverência. os sinos da velha catedral de meia em meia hora destrinchavam o tempo. com isso, algo com o qual eu já me desacostumara, percebi em mim novamente que o tempo passava...


indaguei-me por conta de que os homens precisam tanto assim de clepsidras.

se eu pudesse, ali mesmo, inventaria um modo imperativo de convencer todos a se perderem em segundos, como se estes fossem séculos.

a mim, os séculos diminuíram em tempo, e os segundos, ao inverso, eram moradas de planos infinitos.