segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

As peças se reencontram - 1

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O café imaginário sucumbiu ao tempo e ao fim das vontades de estar ali... e fechou as portas.

Estou olhando para suas paredes de cor cinza e para as ervas que ocuparam seu lugar devido.

A arte é um portal do tempo. Atravesso mil mundos e suas infindáveis dimensões se sou capaz de entender cada pincelada que dou, cada lasca de pedra que retiro do bloco, cada cor que imponho, cada letra que imprimo num papel de poesia...

Cheguei até aqui e posso garantir que não sou o mesmo de outrora. Mas no entanto posso garantir, que sou exatamente aquilo que no passado me foi dito aos ouvidos por uma força maior do que posso expressar.

E vou passar os últimos instantes de minha vida vivendo o que aprendi...

Nestes escritos pretendo deixar um pouco de tudo, sabendo que é impossível um entendimento total sem uma viagem imensa por dentro de si mesmo, daquele que vier a ler isso tudo.

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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

TANTA PRESSA

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Amei tanta pressa pelo caminho...
Amei tantas almas apressadas...
Amei tantos olhares nublados...
Amei tantos corações metalizados...
Amei tantos gestos ensaiados...
Amei tantas verdades obscuras nas mãos macias que afagam...

Essas mãos que te matam aos poucos enquanto te fazem sorrir e cochilar.

Alguém me disse que meu pedido de perdão era sem valor. Pensei em tudo o que não consigo perdoar e chorei. Perdoe-me por não saber perdoar. Alguém  inventou isso um dia e nas horas seguintes isso virou nuvem pra mim.

Um homem velho da porta do fim me pergunta: "Acaso vc não acha que tudo o que fez em sua vida foi uma fuga dessa necessidade impossível de resistir a saciar?"

Necessidade?

"Sim, meu menino, necessidade de perdoar... perdoar para continuar vivendo e errando".

Perdoar...

Tantas coisas dizem sobre isso...

nada no entanto ensina. 

Mas a velha senhora de minha vida, numa das madrugadas em que me deu colo me disse a palavra final:

"Perdão é continuar amando".

Amo a pressa que deixei pelo caminho...
Amo tantas almas ainda apressadas...
Amo o olhar nublado que me salva...
Amo o coração frio como ferro frio na madrugada

Mas não amo mais os gestos ensaiados
Nem consigo voltar a amar as verdades obscuras...



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REPASSARINHO

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Vou tentar lhe dar o que eu não disse, o que eu nem deveria ter dito, mas que imaginei sendo de sua ciência, depois de alguns verbos, ou depois de compartilhar um ocaso. E quando imaginei isso, vi que você sorria. Ah... e imaginar seu sorriso, fazer com que ele crie vida dentro de mim e de meus pensamentos... que lugar melhor poderia existir?

foi por estes dias que imaginei uma pequena criatura cruzando o jardim  segurando um balão de papel, um vagalume de asas quebradas. Foi quase ontem que uma menina de vestido vermelho cruzou meu caminho e trouxe para perto os olhares de muitos corações puros. Ela floria em seu jardim de memória e isso tudo tinha um perfume tão absolutamente indecifrável. Tenho a impressão que foi ali que comecei a ser salvo.

 Eu gostaria de vociferar essas coisas tocando suavemente em seu rosto. Olhando fixamente nos seus olhos... Tão cheio de gratidão eu estou, doce e pequena pirilampo dos meus dias de ontem. Que mora comigo nas horas de silencio ou caos.

O amor é isso... não é?

sim...

essa tranquilidade de chegar ao fim do caminho...

e sorrir.

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