quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O BUSCADOR DE ELEGIAS


Por que  não tentar fortuna e vida, como alguém que tenta qualquer coisa?
E se falhar  hoje a  tentativa
Esperar em terna calma um outro dia
E ganhar o sorrir logo depois que abrir os olhos
Solfejar qualquer drama inútil em sinfonia
Mas não se vestir de triste pelo imenso do que se perdeu nas guerras.

Estou do outro lado do planeta, foi assim a escolha
Um planeta entre nós
 que gira sobre si e não toma em fuga o espaço...
entre nós uma muralha de Adriano

Não quer dizer que  não se queira disso a eternidade
Nem quer dizer que não se queira  disso a saliva para sempre
Água adocicada numa sede de instantes...de invernos segundares

A vida foi curta para a altura do que fomos
E se morro agora, vou-me somente na primeira hora desse amor em eternidade.
Curta me foi  a vida,  sei pois envelheço
Longa me vem a velhice, quanto mais eu relembro o que nem mais cativo

Quanto mais lamento o que nem sequer foi momento
Mais minha última hora se alonga em nostalgia



Acordo por agora poucas vezes durante a noite...
E houve outras noites em que mil vezes eu me tinha pelos corredores, sem sono
Trafegando por tua suspeita como se visse uma luz que me revivia as pupilas
Como se de volta, num relance de moleque, me trouxesse um belo dia
Um sopro divino que me ressaborava a língua ressequida

Eu ganhava assentos sobre o jambeiro da praça matutina
E planejava as tuas setecentas palavras da manhã seguinte
No  meu mundo de tão imenso  que se foi a ruir em silêncio
Barco de papel que há muito se vai no grande lago
A dissolver, a do lago fazer parte

E um olhar em meu olhar de pura súplica
Era mesmo o olhar de quem muito te amava.
Verdade
 eu muito te amava, tu  que me sempre foste sem quantia
A carne do tempo, a sonoplastia
Melódica simplicidade sem fortuna
 Solidão terna que eu ouvia  sem cura
Quando no calor de teu riso eu sozinho sorria

Por mais que em várzeas eu me detivesse, um reino eu ergueria
A cada bocejar de minha parva vontade
A cada despertar de toda a realidade de tantos
Um adormecer sem meus sonhos me encontrava
Então eu indagava para onde
Para quando
Por qual motivo adormecer.

Qualquer cerca que fosse
Qualquer nuvem que se transmutasse
Qualquer grito encavernado
Eu, eu... eu te daria um reino

De qualquer lírio murchando
Eu te construiria um reino.

Por que não tenta relembrar de um tempo em que não me conhecia
Quando o dia vinha em aurora e nem se sabia a cor de meu nome
Quando o que eu dizia nem morava no que do meu dizer se ouvia

No vago instante disto que resta, não insisto que meu amor por ti me encheu de vida
E que essa suposta vida se encheu de um vagar profundo
E a elegia que suspiro anterior ao sono transbordou-se em vento
Tanto quanto transborda o vinho
Na taça
Na mão trêmula.

Somos agora tanto quanto
O que transbordou o vinho
Na taça
Na mão trêmula.

No chão
Nó pó que a réstia bordou  para si.



quinta-feira, 17 de novembro de 2011

SAUDADE

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breve momento que deposito aos pés da saudade.
vivo ao seu redor, eu diria aos seus ouvidos, em silêncio, pra que não me devore

vento em paralisia nas funções corticais superiores é isso, como...
transtornos de demência múltipla enquanto se folheia O Mouro de Rushdie

minha senilidade tem cara de segredos guardados em muitos trinta anos
mas como? nem netos, nem ossos partidos, apenas heresia e movimento lento.
sou tão velho quanto o bebê da menina Denise.


eu trocaria minha imbecil cultuosidade pela sabedoria simples de um cortador de aningas
ou pelo rude bom humor de um catador de ouriços, mas tudo isso por um dia, por não saber viver sem o que fiz de mim.

venderia meus setenta e cinco mil livros por uma ninharia qualquer. ou os trocaria por gibis sem pé nem cabeça.


se perguntassem meu nome eu diria que a memória me é coisa falha de tão lúcida
me chame do modo como eu possa me entender sendo chamado, de menino, talvez, ou mesmo essezinho, pequeno também.


deposito nos pés da saudade esta noite na qual não paro de não querer desistir de tentar
mas de tentar que tipo de coisa?

sabe-se lá!
saudade é muito isso de uma inércia na distância.

saudade é para os fracos, diria o herói Ulisses



saudade possui olhos de elegia


olhos nublados e bonitos, de mentirinha.


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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

DISTÂNCIA ENTRE MÃOS ATADAS

o semblante da margarida é coisa que me disseram da margarida

retire o semblante da margarida...

retire suas pétalas...  suas vestes amarelas


sobrará uma outra margarida.

é com essa que construo e destruo todos os dias uma nova cidade.











e dessa... só preciso saber o que dela sinto.