Por que não tentar fortuna e vida, como alguém que tenta qualquer coisa?
E se falhar hoje a tentativa
Esperar em terna calma um outro dia
E ganhar o sorrir logo depois que abrir os olhos
Solfejar qualquer drama inútil em sinfonia
Mas não se vestir de triste pelo imenso do que se perdeu nas guerras.
Estou do outro lado do planeta, foi assim a escolha
Um planeta entre nós
que gira sobre si e não toma em fuga o espaço...
entre nós uma muralha de Adriano
Não quer dizer que não se queira disso a eternidade
Nem quer dizer que não se queira disso a saliva para sempre
Água adocicada numa sede de instantes...de invernos segundares
A vida foi curta para a altura do que fomos
E se morro agora, vou-me somente na primeira hora desse amor em eternidade.
Curta me foi a vida, sei pois envelheço
Longa me vem a velhice, quanto mais eu relembro o que nem mais cativo
Quanto mais lamento o que nem sequer foi momento
Mais minha última hora se alonga em nostalgia
Acordo por agora poucas vezes durante a noite...
E houve outras noites em que mil vezes eu me tinha pelos corredores, sem sono
Trafegando por tua suspeita como se visse uma luz que me revivia as pupilas
Como se de volta, num relance de moleque, me trouxesse um belo dia
Um sopro divino que me ressaborava a língua ressequida
Eu ganhava assentos sobre o jambeiro da praça matutina
E planejava as tuas setecentas palavras da manhã seguinte
No meu mundo de tão imenso que se foi a ruir em silêncio
Barco de papel que há muito se vai no grande lago
A dissolver, a do lago fazer parte
E um olhar em meu olhar de pura súplica
Era mesmo o olhar de quem muito te amava.
Verdade
eu muito te amava, tu que me sempre foste sem quantia
A carne do tempo, a sonoplastia
Melódica simplicidade sem fortuna
Solidão terna que eu ouvia sem cura
Quando no calor de teu riso eu sozinho sorria
Por mais que em várzeas eu me detivesse, um reino eu ergueria
A cada bocejar de minha parva vontade
A cada despertar de toda a realidade de tantos
Um adormecer sem meus sonhos me encontrava
Então eu indagava para onde
Para quando
Por qual motivo adormecer.
Qualquer cerca que fosse
Qualquer nuvem que se transmutasse
Qualquer grito encavernado
Eu, eu... eu te daria um reino
De qualquer lírio murchando
Eu te construiria um reino.
Por que não tenta relembrar de um tempo em que não me conhecia
Quando o dia vinha em aurora e nem se sabia a cor de meu nome
Quando o que eu dizia nem morava no que do meu dizer se ouvia
No vago instante disto que resta, não insisto que meu amor por ti me encheu de vida
E que essa suposta vida se encheu de um vagar profundo
E a elegia que suspiro anterior ao sono transbordou-se em vento
Tanto quanto transborda o vinho
Na taça
Na mão trêmula.
Somos agora tanto quanto
O que transbordou o vinho
Na taça
Na mão trêmula.
No chão
Nó pó que a réstia bordou para si.