quinta-feira, 7 de abril de 2011

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quando a nau foi vista no horizonte, era desolador o que dela restara. o que de volta lhe jogou de encontro às praias foi uma corrente leve que vinha sem um rumo determinado. em vários países e portos ela despontou, porém, somente ali a maior parte de sua contenda terminou. foi reconhecida pelos que no estaleiro a construíram. onde estaria a comandante? por onde estaria aquela que sozinha desatrelou as velas?

onde estaria...


rápido a noticia se espalhou pela pequena cidade portuária. muitos se apertavam para vislumbrar o que restara daquilo que um dia lhes causou risos de escárnio. mas não havia motivo algum para riso agora... nem para escárnio. era como se todos vissem um mal que fizeram, imperceptível naqueles tempos, mesquinho e grandioso agora.


quantos mundos ela alcançou somente com essa capacidade sem freio que desde menina possuia?


um teatro abandonado é o mesmo que a nau de Maricéu.


só de passado qualquer palavra nela se formava, nela, a nau que ostentava o luxo da aventura.

o granburgomestre ordenou que o veleito fosse restaurado. mas onde estaria o espírito que o construíra?

ancorado virou um lugar de visitas, onde os que ali entravam podiam ler as anotações nas paredes, os desenhos nos papéis e as fotografias de alguns momentos que a aventura possuíra alguma carne.

ancorado era um lugar onde o veleiro jamais deveria estar.

porventura ou desgraça, algum travesso poderia resolver o final disso, desatrelando o veleiro sem nome do porto, deixando que alguma tempestade mísera que fosse o afundasse por fim.

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