domingo, 31 de julho de 2011

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"põe-me como sinete sobre teu coração, como sinete sobre teu teu braço, pois: forte como a morte é o amor. suas chamas são ardentes, um raio sagrado. as grandes águas não conseguiriam apagá-lo e nem o inundariam. se alguém desse todas suas posses pelo Amor, certamente não o teria.

Ct 8, 4-7
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e foi esta a última imagem de meu criador...

Não mais o vi no Sossego. passo às vezes vários dias sozinha aqui, a girar o moínho, a correr pelo trigal, a sonhar sob as ramas do grande castanheiro. o meu veleiro repousa ao longe, pode me esperar por mil anos. por mil anos aqui ficarei.debruçada nos braços de meu criador, que com o amor que me dedicou criou-me um mundo.
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não acredito em vampiros? péssima coisa pra ser dita como a última. meu pai, meu criador...

como aquela que levou o veneno até sua boca eu tinha a obrigação de emitir uma frase de impacto.

se tivesse mais uma chance eu diria:
espere por mim no sossego.
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ah, e eu bem que sabia, que eram minhas, de fato, as mãos que nunca tocaram a superfície de um diamante.

meu criador levantou-se e sumiu-se no trigal.

"perdão!"

eu gritava isso, gritava-o em vão. aproximei-me do moinho e era justo tudo o que foi dito...
tudo era justo.

o grandegiravento se deu a girar
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levantou-se de onde estava e me disse que já não existia do outro lado a sua presença. eu, com um gesto, disse que já sabia, porque estive ao seu lado até o fim. eu anunciei à cidade a sua morte. ele menteve um longo silêncio. até que colocou entre minhas mãos uma pedra."as minhas mãos sabem, sim. elas conhecem os diamantes que tocam".
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sábado, 30 de julho de 2011

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busca e encontro.
como quem deseja mais algumas horas de vida, e encontra.

é assim que encontro meu amigo, meu amado, meu irmão e meu criador sempre que minha busca possui seu nome.

então tudo retorna para este mundo de trigal e moínho, pois é o jardim no qual ele me criou

perdure.
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eu era a platéia. morávamos na cidade dos circos. seus olhos me encontraram ali e me reconheceram. eu havia crescido. e já não era a pequenina delatoriatta, eu crecera e estava curada, eu enxergava.
seus malabares de fogo dos tempos de minha infância eram o seu nome. agora eles moravam em mim.
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venha comigo, ele me disse.

eu não fui. perdi-me de suas mãos e de sua voz que tanto me tranquilizavam.

sua fala me aquietava.
a quentura de suas mãos me protegiam.

até que sem nada dele
eu me vi só.

desde esse dia deixei minha casa para possuir um veleiro que me levasse embora...
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quinta-feira, 28 de julho de 2011

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"pobre homem velho...
pobre como louco
pobre de roupas rôtas
pobre por cismar ao longe"
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quarta-feira, 27 de julho de 2011

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2-pouco de meu direito de ir me importa agora.

um castanheiro que de tão alto se entorta, está com as ramas pesadas. porém a mansidão de seus frutos os mantém sem queda. uma casa sob ele me parece bastante destruída. tanto e a tal ponto que mal se identifica que um dia foi morada. quem sabe se mesmo o foi, quando então era jovem aquela árvore, quando ela era uma criança inofensiva e sem frutos. mantida daquele jeito crescendo a cada hora por culpa da preguiça de algum mandrião.

à sombra as ruínas não tinham dor alguma. se aqui neste delírio me surgisse alguma criança seria para mim o fim das certezas de estar num lugar que não é um sonho. da casa restaram pedras. quem seria o louco que construiria aqui uma casa. quem não destruiria o grande castanheiro antes que seus ouriços de belos frutos se transformassem em fúria nas mãos de um deus vingativo?

nenhum plano de me deter a catar a história ali enterrada. o que acontecera. qum era. qual o nome. a cor do sangue. se vim do delírio de uma também cidade destruída em fogo, então nada de assustar tocaria minha pele. então quem foi? qualo nome? quantos anos?

ainda assim farta de tão agitada sinto-me num sono que não cessa.

e a sombra da árvore gigante, mesmo que seja um risco repousar nela por causa dos ouriço em potência de queda, é o lugar mais calmo que entendo.

calmo.


tão cal...





o garçom coloca sobre a mesa alguns copos e uma garrafa. eu escrevo letras invisíveis sobre a toalha. seu olhar possui uma cisma. é como quem está muito longe do aonde quer voltar. e por algum motivo ter fuga é o único rumo mais tranquilo.

então escrevo letras de nada na toalha.

devo estar no sonho daquele sono sem controle á sombra dos castanhos ouriços.



ele... cria o universo no qual me cativa. ele captura meus gestos e os letrifica. não estou aqui nesta mesma dimensão.

"dizem qualquer coisa a mim?" ouço.

"o que?". busco a voz em meio ao vozerio de homens bêbados e outras mulheres que além de mim parecem entediadas.

"fala-se com os rostos na bruma". que coisa de tanta necessidade da noite.


e se eu me mostrar com todas as metades, na certa me terá como a mais fácil caminhada no parque. como então ser em tudo tudo aquilo que nem tenho? suas mãos são de alguém que nunca sentiu a textura de um diamante.uma delas me alcança. as sobras da mansidão canalha do café imaginário estão salvas do tempo em recortes de revistas pregados à parede, mostrando gente dos outros anteontes, que sorri por se dizer contente. uma das mãos me alcança os lábios. a outra me toca como se tocasse um chão de pó.

desperto.

é a última imagem que fica em minhas pálpebras depois que abro os olhos: um outro olhar para mim. para os meus olhos.

aqui..


o vento parece que anda em redor de onde quero ficar sem ele. isso é engraçado. estou enlouquecendo na mesma medida em que me salvo.


meu criador está por ali num qualquer lugar que não me levanta a vista. é o mesmo ao mesmo tempo em que não é. estava ali e mesmo estando aqui não entendo sua estada.

sem levantar a testa, fala baixinho ao chão mesmo que pra mim a indagação que eu sabia, encheria minha alma de uma cegueira que todos as criaturas possuem.

eu ouço a voz.


eu gosto da voz.
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AOS MEU OLHOS

1

agora, que pouso o que é de mim aqui, neste lugar que até entào só me vinha contado por outra voz, respiro, e sei que respiro, tal é a ausência de domínio, que de alguma forma já se vem comigo desde muito antes de aqui pisar.

pois houve um tempo em que fui muitas que...

como depois de um grande salto, levemente pousaram no ponto mais íngreme, na superfície menos suave, na profundidade sem o menor alcance, de tudo isso que mostro.

isso que é coisa que, nos meus, soava como desatino, como paixão juvenil, loucura de criancinha, que se solta em querer fugir de casa sem nem por menos saber trocar desengrenados passos.

mas nem a menor pequena parte deles, dos meus, poderia suspeitar do que eu e todas as que eu era, ainda não sabiamos sem ter, mas já sabiamos ser.

pois dentro de meus olhos, sem que eu me desse conta, as criaturas entre o céu e a terra não eram segredo algum, os sonoridos dos ruídos menos inteligíveis eram a mim doces e angélicos, a solidão era uma casa ampla que abrigava um mundo de milhares, dentro da qual eu reinava por me sentir sozinha.


e assim aos milhares, eu me dei com os pés na areia. mas quando ali me vi, senti-me com a falta de uma parte, ao invés de múltipla, eu buscava. no contrário de ser ampla eu tinha anseio pelo justo. eu sorria mas me continha. eu cismava mas fingia, eu me controlava mas sofria.


senhorita. senhora dos meus...


de seus dias?



um estranho

que avistei bem ao longe, numa coisa velha que nunca girava. senhora de seus dias? mas como? se nem sei de fato se vejo o que uma razão sonhada agora veria se me morasse nas retinas? vejo apenas um estranho. todos me alertam disso.


e meu olhar, de uma armadilha que ninguém que eu saiba no mundo conhece, não se deu em breve, mas aos poucos, como dessas chuvas que ao muito longe fecham o céu com nuvens e porém nunca chegam a nos molhar as costas antes que o sono nos roube o prazer de ver o seu espetáculo de queda e ruído.

o amor me fala segundos antes do sono. ele canta o que nem sei se por alguma vez, com ele, escutei, mesmo nesses meus outros dias que se faziam de um ouvir absoluto. ele canta como um passarinho que nunca dorme diante do lume de um farol. pois julga que o farol é dia. pois julga que o farol é toda sua vida.


meu nome agora é Kleine Frau. e estou entre o mar de um azul espesso e o dourado de um trigal onde semeei meus sonhos. piso na areia como se dela fosse parte, venho do fogo sem estar combustida, venho daquilo que fará com que meu amado cante a sorrir os meus nomes. pois ele os sabe todos, pois ele nasceu comigo naquele lugar que já quase esquecemos, e reina absoluto em tudo que me falta, pois eu nem sei nominar tanta falta... visto que me tinha antes que eu mesma fosse.


nem sei se existe... o que ... me alimente ... no mais

não mais senhora de meus dias... no meu olhar de espera e desassossego.


mantenho em mim um verde galho vida e espero os dias da ventura.

eu trago o vento que fará girar o moinho.
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mas ela se deu que ficara ancorada por muito tempo, e a si mesma, que beleza triste que era seu rosto, não percebera este tempo nos cabelos que cresciam.
senhorita. ela quase ouviu o estranho a chamá-la. imaginário feito criatura nela. dos mesmos elementos iniciais de quando flutuava no sema amniótico.
Não era tudo solidão. um lusco fusco, uma luz em resitência e essa cisma de que se está num delírio delinquente. e se ela acordasse de súbito e descobrisse que nunca fôra Maricéu? que seu nome se herdava apenas um sussurro que sobrou de uma tarde da juventude?
Na praia descampada não pelejou com a vista para se dar que tudo o que achava belo aquietava ali. o mar de um lado, e tudo que estaria sem vida ausente dele do outro.

sábado, 23 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

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sim. os cinco pontos acima e abaixo de alguns textos sinalizam que estes tais textos terão alguma espécie de viés poético-sentimental.

por isso comecei este assim. e neste texto, aos poucos, numa narrativa de dia após dia, numa mesma publicação, contarei (finalmente aí está o verbo)
Cá se emula isso que é o desfecho da narrativa: "aos meus olhos"... parece bobo dizer isso assim, mas dói saber que daqui a mais nada se pode ir. pelo que sei da visão que tive nesta noite, revelou-se à minha verve mais tola (de alguém que escreve o nunca alcança) que, os segredos morrerão em vão.
AQui repetiram essa mentira que diz ser verão esta época do ano. repetiram tanto, que nós todos, mestiços ou não engolimos e propagamos essa verdade esquisita.
Quem não lembra do Guiodai?

ele agora, com seu imenso olho observa por nós. vindo das mais obscuras vaginasmentais de nossa fase adolescente.
restaria consumir chocolates...
por volta das tres, digitando nas cordas
em preguiça de arco.

buscando algo nunca ouvido.

forçando a barra para parecer genial.

triste essa madrugada minha de compositor falido.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

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um vazio estúpido. é por ter um adjetivo que não poderia ser entendido como vazio.

os pés refletidos na flor aquática ensaiam o salto.



o abandono daquilo que navega apesar de em leme, sem rumo...



um salto à correnteza seria um salto em incertezas?

não tenho as respostas, diz a si mesmo.

nenhuma resposta. nenhuma.


nominar de pai aquele que me deu à luz... enfado defensivo...
e agora sem sua cidade acabo por ter a obrigatória certeza de enlevar uma nova metrópole aqui e agora.

busco então ocupar o tempo? seria isso que um dia tive como minhas conquistas?

não seria um santo remédio aquela reviravolta que só fiz ter como ensaio?

seus pés experimentam a temperatura do universo líquido...


deixar-se ir sem rumo foi a lei de outrora. agora a lei é outra.


quais suas proposições? quais as proposições dessa nova lei desse novo instante?

o tempo passa. escondido pela noite, o veleiro não se move posto que ninguém o divide, assim na escuridão, suas formas e suas velas.

antes do amanhecer a menina, filha das bonomias e surtos de seu criador espera sua desejada ênfase.

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fico supondo que bodelé se salvou por ser gentil.
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florbela morreu ainda há pouco...

bodelé por ser quem sabe mais velho ainda resiste ao envenanento...

o fato me deixou decepcionado...

e me entristeceu.
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Talvez não tenha como não ser minha culpa. a sucessividade de eventos perpassa o meu estado de espírito. peso cada ação, mesmo as que não sairam do universo da vontade.

é um juízo final,

e precoce.
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"cada qual carrega consigo sua cidade, sua civilização particular.

qual então o nome desta minha cidade que carrego?"

a filha do pulcinelle carregava consigo muitas indagações e suspeitas.

ora, se surge a indagação é por já se estar forte em suficiência para receber as respostas.
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terça-feira, 19 de julho de 2011

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O escaler nunca seria uma fuga enquanto for o que pode salvar.
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despedir-se do que te transportou. a infância que deixa ao longe o velocípede. a idéia das fugas que agora são bem maiores que as distâncias entre os compartimentos do sobrado.
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e os versículos das profecias se mostram dissolvidos em painéis publicitários ao longo das vias.
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aqui, pouco em pouco os humanos vão a ser outra coisa além do que se percebe ao ar livre. bernardos não eremitas num mar de carapaças metálicas.
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melhor que se deixar na calmaria seria buscar, ainda que a calmaria seja lei, o veio onde há a leve corrente...
não existe calmaria abaixo da superfície. e é tal não calmaria do que é profundo a responsável pela bubuia dos náufragos?
o veleiro seria assim a negação do mar se em deriva.
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terça-feira, 12 de julho de 2011

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Amanhece
descer do leito como se recém nascido.

Ativar os mecanismos memoriais.

Parte do todo que vez em quando do todo se abstrai para comprovar que o nada é impossível de dissecar por qualquer este ou aquele que já é, já foi e...

Será.

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segunda-feira, 11 de julho de 2011

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E que se marque com letras grandes:

neste onze deste mês, decidiu-se pela busca. arrancaram-se enfim as velas dos mastros e tudo se deixou ir quase á deriva a nau, pois o que lhe conduzia era a certeza de que nisso ou naquilo não há incertezas. Navegar na imprecisão do verbo navegar é navegar somente com o mar...

feche os olhos menina, diz a voz.

feche os olhos.


ouça-me novamente...

sou a voz do que foi dito anteontem.

vestida com verdades veladas. segredos para poucos desvendarem. nudez para raros olhos.


o moinho finalmente volta a girar?


abra então os pulmões menina, o giravento é sua casa, mas o vento é sua vida. respire-o até seu último instante.

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(republicação)

"TEHLLEMA

A elegia chora o infinito e a natureza perdida de algo redentor. A elegia chora o ideal longínquo.

Porém, aqui não se espera, pois aqui é a casa da virtude e das vontades. E a casa das vontades é grande, com janelas que se abrem a todos os horizontes. Esta casa está quase sempre vazia, nela o primeiro anseio a surgir é dela sair em viagem. Esta casa é Tehllemah. Passa através dela o prodigioso vento criador trazendo os grãos das terras que ficam muito além do rio de cor laranja; muito além das terras do cavaleiro; muito além das muralhas sinuosas de antrofazia , cidade dos circos, dos aplausos, das luzes da ilusão.

Aqui não não há elegias.

aqui restam os murmúrios esperançosos da criatura de mil faces, possuidora do poder de se confundir à multidão. Em Tehllema, sua multiplicidade de fisionomias se resume a uma só, e esta não é nenhuma das milhares que costumeiramente se vale para caminhar entre as hordas. No interior de tehllemah ele caminha seminu, envolvido de linho fino, seu olhar é sereno, sua voz pouco se ouve, ele se coloca ao alpendre e observa através das janelas. Ele está com sono mas nunca dorme.


Construiu tehllemah em dias difíceis, pouco tempo depois de chegar ao sossego.


Desejo de ficar só
argamassa que catalisou os tijolos desta casa."

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serafim está com a maquiagem a se desfazer...

essa é a última equação da ausência dos remédios cor de contas. ah estes pequenos comprimidos coloridos, responsáveis pelas ilusões que dão vida aos palhaços. cada cor é uma personalidade, uma sensação, um temperamento... um truque.

-mas não há nenhum peixe.

-um aquário não pode existir sem um peixe.

-um peixe pode existir sem um aquário.

com a água depositada no recipiente transparente ele lava seu rosto. a máquiagem líquida escorre pelo seu peito.

-um aquário sem peixe não é um aquário.

"o que você quer de mim?" essa pergunta ainda está ali, nos ouvidos de serafim. "quero aquilo que deseja em mim. quero você. quero o que de mim nasceu em você. não, nada de convencionalidades... eu só posso por agora dar o melhor de mim."

nada de convencionalidades.

-serafim! o que fez com o peixe?

-dei ele ao rio.


[minzy, pensamentos falsos - 2008]



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depois que suspirou, que se derreteu assim como que do nada o seu último suspiro, o antigo palhaço, o velho incendiário, numa morte um tanto sofrida, enfim, foi embora deste mundo. a moça, que diante dele se media em arguições não muito claras, com a ponta do nariz avermelhada pelos soluços, pousou as mãos dele uma sobre a outra. ela usava agora um outro nome, e é a mesma menina da qual venho a falar o tempo que me cabe, por aqui, por este estranho meio cibernético. ela desceu as escadarias de um prédio em ruínas e observou a cidade que aos poucos se reconstruía mesmo sem ter aprendido a se reconstruir. a passos largos não olhou para os lados até alcançar o porto, desatracou o cais, levantou suas velas, e se deixou nele e com ele ir à foz, presa ainda num olhar ao longínquo, como o dessas meninas tolas de cidades pequenas que passam os dias a sonhar com a beleza intocada do filho único do seu granburgomestre. permaneceu em si mesma por muitas horas até que um brilho no olhar impeliu seu corpo a tomar movimento.

seu ciador morrera afinal, preso num desejo de ainda continuar vivo, pois quem sabe seus caminhos ainda não se tinham terminado, e o seu organismo por natureza humana e infelicidade das almas, fraco e envelhecido, não resistiu ao implacável tempo.

deixar de acreditar no que acredito.

velas ao mar em retorno à cidade que ardera. reviver a honra da poesia de outras palavras, ditas em outros tempos, por bocas e línguas banhadas com saliva e verdade.

reviver o que morreu?

acreditar no que nunca acreditei?

a viagem de volta em quase nada muito demorou. e quando o veleiro se fez em ferro,novamente, diante da antiga cidade, pouco do que restara do povo veio aos poucos ter com suas vistas à cena. Maricéu no convés esperou um instante até que silenciassem. afinou a gargante e disse estas palavras:


"sou de serafim, o palhaço, e vim de muito longe, de uma outra cidade, anunciar, depois de sua morte, anunciar que... ele estava errado... devemos acreditar em tudo o que nos é permitido acreditar"


depois de dizer tais coisas Maricéu se recolheu.

alguns ainda permaneceram no cais a esperar uma continuação do discurso, mas no dia seguinte, o veleiro se afastou do cais e foi-se para além das montanhas que eram vistas ao longe, quase a flutuar sobre o mar.

mas maricéu ficou.


um dos que vigiavam, ao acordar foi ter com ela e lhe indagou:

"senhora. em que devo eu, que vivo sem esperanças, acreditar?"

maricéu nada respondeu. ela sabia que ainda não podia dizer com palavras o que ardia em sua alma.

a paixão e a dor de Serafin gerou uma temperatura tão alta ao redor de seu corpo, que com isso, devido a isso, um grande incêndio se fez e devorou Antrofazia. essa era a lenda dos que viveram naqueles dias.

a dor de uma alma pode destruir o universo dessa alma? universo tão indescritível no qual essa alma habita em segurança?

sim.

a dor sentida pela alma pode destruir o universo tranquilo onde essa alma habita.






mas como esta nova menina, que surge nesta narrativa, foi gerada?

ah... houve um tempo verde.

um tempo em que o frescor da juventude adornou os braços doloridos de um homem que envelhecia. esse foi o tempo de Minzy. esse foi o tempo no qual, apesar de tudo, o amor gerou vida. foi disso que veio esta menina, que todos chamam de Maricéu, pois nasceu para navegar em buscas.

é assim que se cumprem os versos do pulcinelle:

"desancorar os portos...

e buscar um pouso nas altas vergas..."



http://minzyzerafin.blogspot.com/2009/03/minzy-pensamentos-falsos-por-detras-de.html



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