terça-feira, 31 de maio de 2011

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Para quem o tempo passa?

De que modo o tempo passa?

quais as prerrogativas para o esquecimento no tempo?

a inconformação poderia possuir milhares de facetas. nada poderia eu dizer a respeito. das mil facetas do arrependimento já experimentei novecentas. há, num passado em milhares não muito distante, a idéia de que o arrependimento seria uma antesala para o perdão. muitas vezes algum fulano deveria se arrepender de perdoar. estou arrependido de perdoar, ele diria, então o cristão dentro dele levantaria da platéia e gritaria: Então nunca houve perdão!

tenho outra coisa a dizer ao tempo:
meu caro amigo. possuir alguém não é o mesmo que possuir e envelhecer seu corpo. possuir alguém é deixá-lo ser o que é sem nenhum grilhão (até que morra).

ainda não aprendeu da vida o suficiente?

nada muito sei mas posso palpitear que a liberdade é o fantasma que mordisca os calcanhares dos acanhados.

tenho outra coisa a dizer, amigo. tenho ainda talvez vinte anos para te gastar com minha liberdade, ou pelo menos com a minha vontade de liberdade. certa vez tentei desamarrar o que preferia estar preso. não pretendo ser mais um salteador quebrador de gaiolas. tenho apenas compromisso com as minhas verdades. o que quer permanecer preso possui desejos de mais correntes.

certa vez julguei que encontrei um tesouro. tal tesouro perdi pro mundo. ou julguei que o perdi pro mundo. de qualquer forma foi cômodo perde-lo assim desse modo pois ao mundo ele sempre fora. esqueci todo enfado e nominei tal coisa como algo mais empoeirado que o meu passado.

olho para esse algo cheio de poeira e nele não vejo mais semblante. Somente o índice de teu semblante.

por isso, amigo, repito a fala nem um pouco rebuscada. eu nada possui. nada tive. nem mesmo um toque, nem mesmo um atma de um abrir e fechar de olhos, nem as palavras eu tive. tudo foi uma mentira, algo que não é a mesma coisa que não dizer a verdade.

como nada se guarda daquilo que nunca se teve, então nada guardo, nada tive e nada vivi. e finalmente, amigo tempo, adolescente e ainda cheio de paixões tolas, nada mais me indague a respeito disso ou daquilo.


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sexta-feira, 27 de maio de 2011

terça-feira, 3 de maio de 2011

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certa vez, do meio da multidão um homem indagou:

de que adianta o veleiro estar reformado e brilhante se não há mais quem nele navegue?

todos então passaram a se indagar por onde andaria Maricéu?

morrera?

cansara?

ou por uma distração com outras belezas do mundo esqueceu o veleiro desamarrado no cais e assim ele se foi sozinho no menor dos ventos, suficiente para soprá-lo a outros confins sem ela?

mas o mesmo indagador indagou outra coisa:

teria alguma beleza o veleiro mesmo pintado e reformado sem Maricéu?

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PARA SUILAN

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nem a imagem de uma avó sentada numa cadeira de balanço. nem a imagem de um balanço pendurado num fino pé de umbu. nem a imagem de um velho barco soterrado pela areia na praia do sossego...

não... nem a imagem de um pássaro cruzando o céu não se sabe se do norte pro sul ou vice versa.

nem a imagem de qualquer coisa tão feia que possa despertar o sonolento.

há um vácuo tão inútil que o melhor que se faz é sentar e esperar.

pensa-se, nesse estado mágico, que esperar foi um verbo do qual o criador cansou. e por estar cansado dele criou o mundo.

mas nada de criar mundos depois da colagem dessas imagens... nada de criar palavras unidas para dizer qualquer coisa...

esperar... se fosse algo que se pudesse ver, esse verbo seria uma ilusão de ótica.

mas no entorno, na moldura há um espírito maior que rege a espera. e quem é o louco que diria isso ser espera se nem ao menos uma forma toma assento no nervosismo dos pensamentos?

ora, antes de tudo ser feito resta só o que está em repouso

paredes do quarto
televisor desligado
luz verde do computador sobre a mesa cheia de livros
ventilador velho rosnando
latidos dos cães ao longe refletidos nos ladrilhos do que se vê da sala
fotografias de minha filha
o sorriso de minha filha
os olhos de minha filha
uma outra bela foto que veio da impressora que já não mora aqui comigo
o teto que eu mesmo construí
as paredes que eu mesmo pintei
o colchão de ar que eu mesmo enchi
a cadeira de diretor de cinema que roubei do teatro
os sacos pretos de lixo cheios de roupas que devo lavar
roupas que devo vestir
roupas às quais devo um descanso merecido

preciso varrer esse chão
comprar pilhas para o relógio da cozinha
comprar também umas quantas panelas de teflon.

já comprei livros de receita. deles, fiz só as rosquilhas de cebola ao alho, mas não delas gostei...

preciso também comprar colheres de pau para mexer as coisas quentes...


preciso...
esse verbo se faz contrário ao verbo esperar
espero precisar esperar, então
preciso esperar.

porra, já é tarde. onde está a paciência para ler essas legendas?

mas antes o olhos não cerram e ...outras tantas mil imagens antes do sono.

prefiro forçar a mente e ter ao largo o que não toco além de ser com o espírito.

o amor, dizem, falaria pelo tato se tudo fosse cego...

no meu caso, fala segundos antes da paralisia do sono.

o amor dizem, falaria pelo tato se todos fossem cegos e surdos.

no meu caso, fala segundos antes do sono.

o amor falaria pelo tato se tudo fosse cego surdo e mudo

no meu caso, fala segundos antes do sono.

o amor falaria pelos sonhos ao insensível cego surdo e mudo.

no meu caso, fala segundos antes da paralisia do sono.
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eu poderia falar de esperanças do mesmo modo como quem fala que retirar o pigmento verde da natureza é difícil.

eu poderia falar de esperança como esses caras que jogam palavras fora porque pra eles, por muito, as palavras já perderam o valor...

eu poderia desejar coisas lógicas... eu poderia dizer tanto, como um idiota num milharal.

eu poderia fazer umas poesias sem sal e musicá-las, esperando ser reconhecido como a salvação da nova música brasileira.

eu poderia acordar sobressaltado por uma poesia nova à cada manhã...

eu poderia me utilizar do meu enorme egocentrismo e dizer que falo com deus.


eu poderia...

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