segunda-feira, 25 de outubro de 2010

.
.
.
.
.

Libertei hoje o meu trabalho dessa sensações de busca.

meu olhar está voltado para a coisa que está sendo feita. não há energia que torne isso ruidoso. ainda bem que não.

como eu já disse: katablemata é um artifício cenográfico, feito para esconder cenas surpreendentes. katablematas se forem frágeis, podem ser facilmente derrubadas pelos ventos. no caso desta, seu defeito é a transparência do tecido usado, o qual revela que as melhores cenas estão posteriores ao ato no procênio.

reencontrei a viagem ao reencontrar uma janela pela qual me detive a olhar o mundo. no atelier se perde e se reencontra isso de viajar sempre. é como se tu estivesses num navio e esse navio fosse muito pouco, por dentro, parecido a um navio. com o passar das horas tu só relembras que estás a atravessar um oceano quando sem querer teu olhar encontra uma janela por onde se pode ver a imensidão do mar.

um cara vestido de branco me disse: "segundo me consta, não haverá tempestades". boa viagem! Uma me ouve com seus rubis nos olhos. Boa viagem! a pequena pirilampo se alegra na estação de embarque, ela, que já está se trnsformando em mulher. dessa vez não há pranto nem despedida. boa viagem. a moça dos meus dias divide comigo os momentos em que crio mundos, e essa cenografia é muito ampla e confeccionada em chumbo e papel.

pode-se virar essa página? disse um cara que estava ao meu lado e lia comigo ao mesmo tempo o jornal de espera. posso sim, eu disse. virei a página. ao longe um zumbido grave como o de um pesado besouro. o navio é uma cidade flutuante. penso em respirar de modo dramático, mas penso em também não respirar. eu ri nesse instante quando lembrei: dançar no mundo real é mais difícil. mas tudo é dança. atravessei o salao inteiro de minha mocidade. estendi as mãos e trouxe ao corpo um outro. naquela noite foi o exato ponto onde percebi um novo mesmo mundo depois de um longo giro.

os estilhaços de ânsia grudados ao reboco do cais estão sendo levados pela água?

a reposta talvez esteja com o timoneiro, mas ele tão pouco vive pelo cais.

.
.
.
.
.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

.
.
.
.
.

atravessei a madrugada buscando algo que parecia inútil. a busca pelo inútil, milagrosamente, me levou a uma descoberta. depois da descoberta veio uma idéia que não é dessas que nos persegue tanto para tomar forma. fiquei contente e mesmo com sono fiquei contente.

e mesmo com sono não dormi até por volta das quatro. e de quando dormi nem me lembro.

moça costuma me telefonar para saber como estou, se já comi, se já tomei banho, se estou cansado... mas por volta das quatro! quem me ligaria numa hora dessas?

quando volto das ruas, volto cansado. logo percebo que minha fala aqui é inútil. observo as formas e insisto em modificá-las. o filme fala sozinho na sala. "chora menina chora, chora porque não tem ninguém". penso no dia que virá daqui a pouco. penso também na infidelidade. uma palavra tornada estúpida por moços cegos de ânsia por si mesmos. e então a palavra surge somente no momento em que o conceito que ela esconde se quebra diante dos fatos. a fidelidade é muito próxima do compromisso. os compromissos inalcansáveis são loucuras cristãs inventadas para entristecer os homens e torná-los sedentos por uma salvação.

há formas que não se pode modificar.

contente. mesmo cheio de uma piedade juvenil malvada. contente por ter a graça de ter razão. por não cair na tentação da contradição.

contente por ter chegado aos quarenta ainda cheio de sonhos e vontades.

devo isso à paciência e à espera, coisas que nem sabia existir em minha horta. com essas armas impalpáveis atravessei este ano. ah, o ano anterior foi tão cheio de tristezas. e este é tão cheio de alegrias. não há pulga que possa me fazer perder o sono, nem gigante algum que me faça nostálgico dos tempos em que eu já quase nem acreditava, que o que sei fazer era ao mesmo tempo o que poderia sempre me salvar.
.
.
.
.
.


.
.
.
.
.



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

.

.

.

.

.

Ontem eu tive que ficar do tamanho de um inseto. Transmutado assim, passei a construir minha casa. Pouco depois tive que me chegar um pouco, para desanuviar, nos anos sessenta. Amanhã terei que construir uma casa onde dois caras ficarão metidos numa conversa suspeita e também um céu furta cor para outros caras que se reunirão numa noite de quarta a dever, com seus instrumentos devidamente amplificados dominados e até ridicularizados, tocar o que chamam de jazz.

Aqui dentro de Tehlema os cenários surgem dos textos. Por muito tempo as palavras vão se transformando nas coisas que até então estavam presas dentro delas.

Não assitimos a cenas que ajudamos a construir. O espetáculo de um cenógrafo é em seu atelier. Sua ação se desenvolve em boa parte ali, entre coisas disformes vindas do que é liso é retilíneo.

Enquanto construo cenários tenho a mente num outro mundo. Pouco sei de tudo que há aqui. Habito um outro mundo e dele portanto tudo, quase tudo sei. Fantástico e simples é onde estou, como eu já sabia desde criança.

No outro mundo há tudo o que construí desde que aprendi a lingua dos homens. Homem é esse estágio em que andamos em pé e assumimos uma inteligência só considerada milagrosa por nos mesmos. Nesse estágio, que dura pouco, aprendemos uma possibilidade absurda, que diz ser o mundo passivo de ser dividido e segmentado.

As cores estão sendo distribuídas nas superfícies mascaradas com tinta latéx, lixa e canetas hidrocolor. Estou satisfeito com os resultados.

Na vida real eis que se reaproximam os ogros que muito quis manter afastados. Talvez a lição agora seja outra. Talvez ao invés de dizer “milagre!” ou “tolo!”, minha consciência rugiria a me dizer “estou livre!” ."deixem esses tolos ogros se aproximarem".

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

Ontem eu tive que ficar do tamanho de um inseto. Transmutado assim, passei a construir minha casa. Pouco depois tive que me chegar um pouco, para desanuviar, nos anos sessenta. Amanhã terei que construir uma casa onde dois caras ficarão metidos numa conversa suspeita e também um céu furta cor para outros caras que se reunirão numa noite de quarta a dever, com seus instrumentos devidamente amplificados dominados e até ridicularizados, tocar o que chamam de jazz.

Aqui dentro de Tehlema os cenários surgem dos textos. Por muito tempo as palavras vão se transformando nas coisas que até então estavam presas dentro delas.

Não assitimos a cenas que ajudamos a construir. O espetáculo de um cenógrafo é em seu atelier. Sua ação se desenvolve em boa parte ali, entre coisas disformes vindas do que é liso é retilíneo.

Enquanto construo cenários tenho a mente num outro mundo. Pouco sei de tudo que há aqui. Habito um outro mundo e dele portanto tudo, quase tudo sei. Fantástico e simples é onde estou, como eu já sabia desde criança.

No outro mundo há tudo o que construí desde que aprendi a lingua dos homens. Homem é esse estágio em que andamos em pé e assumimos uma inteligência só considerada milagrosa por nos mesmos. Nesse estágio, que dura pouco, aprendemos uma possibilidade absurda, que diz ser o mundo passivo de ser dividido e segmentado.

As cores estão sendo distribuídas nas superfícies mascaradas com tinta latéx, lixa e canetas hidrocolor. Estou satisfeito com os resultados.

Na vida real eis que se reaproximam os ogros que muito quis manter afastados. Talvez a lição agora seja outra. Talvez ao invés de dizer “milagre!” ou “tolo!”, minha consciência rugiria a me dizer “estou livre!” .

.

.

.

.

.

domingo, 17 de outubro de 2010

.
.
.
.
.
eu não poderia dizer o tempo todo algo sobre a falta de tempo. isso seria me desmentir.

porém, passar o dia esperando a hora do descanso é não deixar sobrar tempo para que me perturbem.
.
.
.
.
.

.
.
.
.
.
eu não poderia dizer o tempo todo algo sobre a falta de tempo. isso seria me desmentir.

porém, passar o dia esperando a hora do descanso é não deixar sobrar tempo para que me perturbem