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atravessei a madrugada buscando algo que parecia inútil. a busca pelo inútil, milagrosamente, me levou a uma descoberta. depois da descoberta veio uma idéia que não é dessas que nos persegue tanto para tomar forma. fiquei contente e mesmo com sono fiquei contente.
e mesmo com sono não dormi até por volta das quatro. e de quando dormi nem me lembro.
moça costuma me telefonar para saber como estou, se já comi, se já tomei banho, se estou cansado... mas por volta das quatro! quem me ligaria numa hora dessas?
quando volto das ruas, volto cansado. logo percebo que minha fala aqui é inútil. observo as formas e insisto em modificá-las. o filme fala sozinho na sala. "chora menina chora, chora porque não tem ninguém". penso no dia que virá daqui a pouco. penso também na infidelidade. uma palavra tornada estúpida por moços cegos de ânsia por si mesmos. e então a palavra surge somente no momento em que o conceito que ela esconde se quebra diante dos fatos. a fidelidade é muito próxima do compromisso. os compromissos inalcansáveis são loucuras cristãs inventadas para entristecer os homens e torná-los sedentos por uma salvação.
há formas que não se pode modificar.
contente. mesmo cheio de uma piedade juvenil malvada. contente por ter a graça de ter razão. por não cair na tentação da contradição.
contente por ter chegado aos quarenta ainda cheio de sonhos e vontades.
devo isso à paciência e à espera, coisas que nem sabia existir em minha horta. com essas armas impalpáveis atravessei este ano. ah, o ano anterior foi tão cheio de tristezas. e este é tão cheio de alegrias. não há pulga que possa me fazer perder o sono, nem gigante algum que me faça nostálgico dos tempos em que eu já quase nem acreditava, que o que sei fazer era ao mesmo tempo o que poderia sempre me salvar.
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