.
.
.
.
.
Ontem eu tive que ficar do tamanho de um inseto. Transmutado assim, passei a construir minha casa. Pouco depois tive que me chegar um pouco, para desanuviar, nos anos sessenta. Amanhã terei que construir uma casa onde dois caras ficarão metidos numa conversa suspeita e também um céu furta cor para outros caras que se reunirão numa noite de quarta a dever, com seus instrumentos devidamente amplificados dominados e até ridicularizados, tocar o que chamam de jazz.
Aqui dentro de Tehlema os cenários surgem dos textos. Por muito tempo as palavras vão se transformando nas coisas que até então estavam presas dentro delas.
Não assitimos a cenas que ajudamos a construir. O espetáculo de um cenógrafo é em seu atelier. Sua ação se desenvolve em boa parte ali, entre coisas disformes vindas do que é liso é retilíneo.
Enquanto construo cenários tenho a mente num outro mundo. Pouco sei de tudo que há aqui. Habito um outro mundo e dele portanto tudo, quase tudo sei. Fantástico e simples é onde estou, como eu já sabia desde criança.
No outro mundo há tudo o que construí desde que aprendi a lingua dos homens. Homem é esse estágio em que andamos em pé e assumimos uma inteligência só considerada milagrosa por nos mesmos. Nesse estágio, que dura pouco, aprendemos uma possibilidade absurda, que diz ser o mundo passivo de ser dividido e segmentado.
As cores estão sendo distribuídas nas superfícies mascaradas com tinta latéx, lixa e canetas hidrocolor. Estou satisfeito com os resultados.
Na vida real eis que se reaproximam os ogros que muito quis manter afastados. Talvez a lição agora seja outra. Talvez ao invés de dizer “milagre!” ou “tolo!”, minha consciência rugiria a me dizer “estou livre!” .
.
.
.
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário