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TERCEIRO MOVIMENTO
AMULETOS
Eu sei que se eu procurasse pela
pequena caixa de bugigangas de minha infância, agora, eu não a encontraria.
Cometi o descuido de não sentir carência dela no vai e vem de minha vida. Eu
nunca colecionei lembranças. Se hoje, eu ainda pudesse adquirir esse hábito, eu guardaria, de verdade,
enroladas em finas folhas de papel, todas as coisas que me lembrassem... que
me... lembrassem... que tipo de milagre se busca ao aprisionar o que somos nas
coisas que modificamos? Quando o mar ficasse
ruim de enfrentar, sozinho, será que ao olhar para esses meus amuletos guardados como tesouro, eu me fortaleceria? Sentiria mais coragem? Como
vou saber?
Eu guardaria um pedaço de papel manilha com um desenho do
seu rosto? teria uma imagem sua em que você estivesse sorrindo no instante exato em que eu
tivesse agarrado sua mão no bailes? Ao
olhar para essa sua imagem com meus sentimentos, sentimentos de uma criatura
mortal, prestes a morrer, eu sorriria? Eu sorriria. Eu teria resistido a qualquer batalha, se tivesse
levado comigo uma coisa que me lembrasse: Horácio, você precisa voltar, a vida
e a ilha são pérolas preciosas, volte com vida para o amor de Melinda. Nas procelas, onde até o sorriso pra florescer
precisava vencer um cansaço absurdo, só
de pensar no que eu tinha deixado a esperar por mim, eu sorriria?
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