domingo, 24 de fevereiro de 2013

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TERCEIRO MOVIMENTO

AMULETOS

Eu sei que se eu procurasse pela pequena caixa de bugigangas de minha infância, agora, eu não a encontraria. Cometi o descuido de não sentir carência dela no vai e vem de minha vida. Eu nunca colecionei lembranças. Se hoje, eu ainda pudesse adquirir  esse hábito, eu guardaria, de verdade, enroladas em finas folhas de papel, todas as coisas que me lembrassem... que me... lembrassem... que tipo de milagre se busca ao aprisionar o que somos nas coisas que modificamos? Quando o mar ficasse  ruim de enfrentar, sozinho, será que ao olhar para  esses  meus amuletos guardados como tesouro,  eu me fortaleceria? Sentiria mais coragem? Como vou saber?

Eu guardaria um pedaço de papel manilha com um desenho do seu rosto? teria uma imagem sua em que você  estivesse sorrindo no instante exato em que eu  tivesse agarrado sua mão no bailes? Ao olhar para essa sua imagem com meus sentimentos, sentimentos de uma criatura mortal, prestes a morrer, eu sorriria? Eu sorriria.  Eu teria resistido a qualquer batalha, se tivesse levado comigo uma coisa que me lembrasse: Horácio, você precisa voltar, a vida e a ilha são pérolas preciosas, volte com vida para o amor de Melinda.  Nas procelas, onde até o sorriso pra florescer precisava vencer um  cansaço absurdo, só de pensar no que eu tinha deixado a esperar por mim, eu sorriria?


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