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28 de Outubro de 2014
Saudações
Espero que esteja tudo bem com
você. Estou lhe escrevendo para lhe contar uma novidade. Acabo de adotar uma
mocinha chamada Sacha, que ficou aparentemente feliz quando chegou em casa. Tinha
marcas de corrente no pescoço e tem um olhar brilhante e juvenil como se
estivesse tomada por uma infância sem fim.
Fiquei preocupado com o pequeno
espaço de minha casa, que agora com mais esta moradora diminuirá mais ainda.
Rainha Vitória não se importou com a presença de sacha, apenas rosnou um pouco
quando ela se aproximou demais. Sacha me parece ter problemas em saber que
gatos podem ser perigosos, mesmo uma gata gorda e preguiçosa como Rainha
Victória. Safira pareceu gostar da nova companheira, que deve ter um terço do
seu peso, mas com habilidade suficiente para fazê-la gastar um pouco de energia.
É com a feroz Francesca Woodman
que podem haver problemas. Francesca não tolera aproximações e qualquer erro
nisso resulta num ataque feroz. Ela viveu nas ruas e foi muito maltratada, por
isso como boa felina que é, não se dá ao luxo do risco de ser maltratada
novamente.
Você se indaga: mas porque este
menino está a me falar estas coisas?
Eu sinceramente não sei. Minha
casa é simples, fica ao lado do atelier onde trabalho e é lá onde tento dia
após dia viver meu sonho de saber viver
como se vive num sonho. Tem dias de sol tão bonitos, em que as coisas parecem
tão iluminadas pela simplicidade, que sinceramente me pego sussurrando uma
graça qualquer à minha sorte de ter no mundo um lugar assim... o meu sossego.
Hoje, quando o dia começar a
perder a luz do sol, naquela hora em que logo logo tudo vai começar a virar
noite, e quando o cheiro das coisas que o dia construiu começam a se alastrar e
virar saudade, pense um pouco nessa minha busca por um lugar onde tudo é mais
simples, onde um homem entristecido pelas coisas da vida busca refúgio entre
seus animais de estimação, dentro de seu ofício de artesão, na ânsia de
expressar sua arte... na solidão que o
fim das tardes trazem junto com o canto das cigarras.
Se eu lhe conhecesse bem...
Se fosse um amigo de longa
data...
Se estivesse longe...
Alguma saudade eu sentiria pra
lhe dizer.
Encerro então por aqui a lhe
dizer que suponho que o melhor da vida humana é ter a graça de poder avaliar o
quanto é milagrosa a vida.
Abraços de todos
...da gorda Rainha
Vitória,da zangada Francesca Woodman, da tranqüila Safira e de Sacha, que de
vez em quando enfia a cara na cerca e fica em silencio, como quem sente saudade
do lugar que veio, mas que no instante seguinte volta-se e dá um salto travesso com o
semblante cheio de uma alegria infantil, correndo em disparada pelo gramado...
como se tivesse nascido pra estar ali.
Com essa imagem de alegria, aqui
termino
Abraços
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