segunda-feira, 11 de julho de 2011

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serafim está com a maquiagem a se desfazer...

essa é a última equação da ausência dos remédios cor de contas. ah estes pequenos comprimidos coloridos, responsáveis pelas ilusões que dão vida aos palhaços. cada cor é uma personalidade, uma sensação, um temperamento... um truque.

-mas não há nenhum peixe.

-um aquário não pode existir sem um peixe.

-um peixe pode existir sem um aquário.

com a água depositada no recipiente transparente ele lava seu rosto. a máquiagem líquida escorre pelo seu peito.

-um aquário sem peixe não é um aquário.

"o que você quer de mim?" essa pergunta ainda está ali, nos ouvidos de serafim. "quero aquilo que deseja em mim. quero você. quero o que de mim nasceu em você. não, nada de convencionalidades... eu só posso por agora dar o melhor de mim."

nada de convencionalidades.

-serafim! o que fez com o peixe?

-dei ele ao rio.


[minzy, pensamentos falsos - 2008]



...



depois que suspirou, que se derreteu assim como que do nada o seu último suspiro, o antigo palhaço, o velho incendiário, numa morte um tanto sofrida, enfim, foi embora deste mundo. a moça, que diante dele se media em arguições não muito claras, com a ponta do nariz avermelhada pelos soluços, pousou as mãos dele uma sobre a outra. ela usava agora um outro nome, e é a mesma menina da qual venho a falar o tempo que me cabe, por aqui, por este estranho meio cibernético. ela desceu as escadarias de um prédio em ruínas e observou a cidade que aos poucos se reconstruía mesmo sem ter aprendido a se reconstruir. a passos largos não olhou para os lados até alcançar o porto, desatracou o cais, levantou suas velas, e se deixou nele e com ele ir à foz, presa ainda num olhar ao longínquo, como o dessas meninas tolas de cidades pequenas que passam os dias a sonhar com a beleza intocada do filho único do seu granburgomestre. permaneceu em si mesma por muitas horas até que um brilho no olhar impeliu seu corpo a tomar movimento.

seu ciador morrera afinal, preso num desejo de ainda continuar vivo, pois quem sabe seus caminhos ainda não se tinham terminado, e o seu organismo por natureza humana e infelicidade das almas, fraco e envelhecido, não resistiu ao implacável tempo.

deixar de acreditar no que acredito.

velas ao mar em retorno à cidade que ardera. reviver a honra da poesia de outras palavras, ditas em outros tempos, por bocas e línguas banhadas com saliva e verdade.

reviver o que morreu?

acreditar no que nunca acreditei?

a viagem de volta em quase nada muito demorou. e quando o veleiro se fez em ferro,novamente, diante da antiga cidade, pouco do que restara do povo veio aos poucos ter com suas vistas à cena. Maricéu no convés esperou um instante até que silenciassem. afinou a gargante e disse estas palavras:


"sou de serafim, o palhaço, e vim de muito longe, de uma outra cidade, anunciar, depois de sua morte, anunciar que... ele estava errado... devemos acreditar em tudo o que nos é permitido acreditar"


depois de dizer tais coisas Maricéu se recolheu.

alguns ainda permaneceram no cais a esperar uma continuação do discurso, mas no dia seguinte, o veleiro se afastou do cais e foi-se para além das montanhas que eram vistas ao longe, quase a flutuar sobre o mar.

mas maricéu ficou.


um dos que vigiavam, ao acordar foi ter com ela e lhe indagou:

"senhora. em que devo eu, que vivo sem esperanças, acreditar?"

maricéu nada respondeu. ela sabia que ainda não podia dizer com palavras o que ardia em sua alma.

a paixão e a dor de Serafin gerou uma temperatura tão alta ao redor de seu corpo, que com isso, devido a isso, um grande incêndio se fez e devorou Antrofazia. essa era a lenda dos que viveram naqueles dias.

a dor de uma alma pode destruir o universo dessa alma? universo tão indescritível no qual essa alma habita em segurança?

sim.

a dor sentida pela alma pode destruir o universo tranquilo onde essa alma habita.






mas como esta nova menina, que surge nesta narrativa, foi gerada?

ah... houve um tempo verde.

um tempo em que o frescor da juventude adornou os braços doloridos de um homem que envelhecia. esse foi o tempo de Minzy. esse foi o tempo no qual, apesar de tudo, o amor gerou vida. foi disso que veio esta menina, que todos chamam de Maricéu, pois nasceu para navegar em buscas.

é assim que se cumprem os versos do pulcinelle:

"desancorar os portos...

e buscar um pouso nas altas vergas..."



http://minzyzerafin.blogspot.com/2009/03/minzy-pensamentos-falsos-por-detras-de.html



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