Disseram que desci Da montanha vestido de um outro. Eu já não era o jovem de antes. Desci quase já não acreditando nem mesmo no que eu tocava. Tal como o cigano me dissera, meu olhos me enganavam e eu via um mundo que nenhum outro seria capaz de ver. E sendo assim, percebendo o que chamavam de “meu estado”, não deram crédito algum ao meu querer ficar só.
Tentaram-me forçar a aceitar que nenhuma casa na montanha existia, nenhum eremita, nenhum velho do caminho, e nem mesmo Li...
Só havia uma única maneira de ver o mundo como ele realmente seria: tomando de doze em doze horas pequenas esferas coloridas, remedinhos cor de contas, que poderiam me auxiliar no fardo de perceber o que eu via, diferenciando isso daquilo que eu simplesmente imaginava.
Zimbro, percebendo o estado de aflição no qual eu me encontrava, disse-me ao ouvido: “não se importe tanto com isso... é um poder que eles nunca entenderiam”. Então ele piscou um olho. “desde aquele dia, em que você ficou sentado na platéia por horas e horas a esperar por ela... desde aquele dia, garoto, depois de tal coisa, o universo e os deuses tocaram sua alma e lhe deram um outro poder de viver, diferente desse nosso, que é sem vida, sem têmpera”.
E foi assim. Fiquei deitado num leito limpo sentindo que em mim, como por mágica, Antrofazia desaparecia de pouco em pouco. sentia-me um desertor. Eu abandonava a parte que em mim mais de mim dizia. Tornei-me um insolente e lúcido ninguém.
E quando me indagavam sobre algo a meu respeito eu respondia furtivamente:
Nasci palhaço, mas fugi do circo.
...
Remexendo minhas tralhas, encontrei, envolvidos num pequeno pedaço de tecido, a pedra de argila e as sementes negras. Estas, eu enfiei na terra, ao fundo de um vaso e esperei...
Esperei por muito
Esperei com todo meu espírito
Que elas germinassem
mesmo que isso, tanto quanto todas as outras belezas, me fosse ilusão.
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