a primeira casa da espera
foi como se por cem anos eu estivesse a subir. foi como se me faltasse o ar de toda minha vida. índice algum de Li. apenas um homem velho que sentado sobre as próprias pernas olhava para o infinito. percebendo que eu me aproximava abriu os olhos e me encarou friamente a balançar a cabeça. dizia que não. eu não entendia. então ele apontou ao precipício e esse gesto gelou a minha alma.
fiquei naquela casa não sei por quanto tempo.
fiquei naquela casa fria da montanha e nela esqueci do mundo.
nas coisas guardadas pelo velho, encontrei uma foto da menina que eu buscava. encontrei também seus desenhos colados na porta do fundo. um deles mostrava um pássaro pousado num alto mastro de um circo com uma inscrição em letras redondas que dizia;
"voar é cair, caro amigo. é como buscar o difícil pouso numa alta torre"
lá de cima, da montanha, eu via o fabuloso Antrofazia a se desfazer para viagem. talvez nem mais coragem eu tivesse de atravessar mais um oceano. talvez ele, o velho útero circense precisasse enfim partir sem mim, o seu espala da noite, o filho de seu velho Serafim.
eu tinha muito mais oceanos em mim, agora.
e antes de descer, dei ao velho as sapatilhas de sua menina. então ele lentamente me levou até o lugar onde havia uma pedra com letras indecifráveis. foi sobre ela que terminou minha busca. nada indaguei ao velho pois dele nada eu podia em sua língua entender ou dizer...
envelheci duzentos anos. foi o que eu disse aos meus amigos quando me receberam de volta.
e todos arregalaram os olhos quando ouviram de mim a simplória frase:
"dessa vez... eu não irei'.
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