quarta-feira, 10 de agosto de 2011

DIA DE ANIVERSÁRIO



Fiquei  deitado ainda na cama, nove horas e nada de me sentir com energia para mover o mundo. E  em qual dia de minha vida toda me senti assim. É, eu lembro de vários. Nessas horas os ruídos internos do quarto sobrepujam o que vem do resto do mundo. Minha audição  apenas desconfia que o universo lá fora, por detrás dos ruídos dos ventiladores, pode não estar tão tranqüilo, quanto está aqui, nesta manhã desmedida.
Os livros rodeiam a cama, circundam um cara de tantas mil palavras que mal sabe dos instantes, que  nunca tem certeza dos nomes dos dias, que vendeu a alma para uma busca por liberdades simples. Mas hoje eu sei, é um dia que relembra um outro, há anos atrás, no qual ela nasceu. Já falei isso em outras circunstâncias.Mas qual seu nome?

Qual o nome deste dia?

Atento-me para a imagem das mãos que envolvidas uma na outra formam um globo terreste. A figura está diante de mim, pendurada na parede lateral. Dois mundos, um mundo. As certezas sempre, de imediato, me parecem todas tolices sem sentido. A cama esquenta no exato momento em que o dia já não suporta crescer sem mim. O mundo lá fora é maior, sem dimensão que caiba no que penso. Mas o mundo lá fora  seria grande demais se eu não soubesse aonde chegar. E eu sei? Sei sim. Pelo menos por hoje sei sim.

Depois que a cama não mais me veste, de nada mais me serve ficar  quieto, nessas sombras que criamos, nesses domínios seguros que não nos deixam espalhar nossas ramagens por aí, pouco do que somos se intromete a procurar alturas celestes. mas eu me rebelo e busco.

Se eu não quisesse flores, haveriam mil floristas espalhados por sobres todas as calçadas da rua onde moro. Mas até que eu não gostaria de tantas flores espalhadas por aí, tão fáceis e desvalorizadas. elas são o que valem, e o seu valor é o que poderiam causar. E então me lembro que jamais dei flores a uma mulher. Já fiz coisas inimagináveis na infância com pincéis atômicos em uma mureta caiada, bichos de pelúcia escondidos em papéis manilha, coleções de pulseiras horrorosas, livros de títulos suspeitos. Poesias encadernadas ...

sim... como esquecer das poesias que nem lembro?

As poesias.  Elas, que germinavam  na minha adolescência, incontroláveis como praga.

Hoje bem sei o que devo fazer.
Para quem sabe que os rios são a potência do mergulho profundo, eu digo que hoje teremos o rio em redor de nós. Correremos por debaixo dos trapiches e passaremos o dia misturados ao rio a tal ponto, que quando voltarmos para terra, já sejamos outros, em definitivo.

Talvez eu não diga nada. Talvez eu esqueça. Mas não significa que eu não saiba, que eu não deseje.


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