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VERÍDICA OU QUASE
Revirando as gavetas antigas. Aos pedaços e em papéis velhos...
"o homem de ontem que habitava aqui estava num ambiente insensível. ele próprio por nada se deixava afetar...
o homem de ontem hoje já não habita esta casa?
duvido que a casa que construí ainda me esteja ao redor de mim.
vivi muito. das coisas que vivi falo em conta gotas. ontem eu lhe disse que pude ver em que lugar a miséria humana pode chegar. também vi até onde alcança o esplendor de sua boa vontade.
não, não guardo bem o passado. não guardo bom rancor algum. e existiria um bom rancor? mais um pouco de tempo a me observar vai me fazer perceber que não sou um emaranhado de fios sem pontas. a densidade é apenas uma defesa. tenho agora o coração fraco, estou sumariamente protegido por inexoráveis mecanismos de defesa.
...
ontem atravessei uma rua onde famílias se reuniam nas portas de suas casas. algumas crianças brincavam com seus cães...
essas imagens da cidade em movimento causam algum desatino em mim. planejo lhes dizer que as coisas do mundo são boas e que eles não precisam ter tanta pressa. no caminho ainda notei que um menino se alegrava por ter encontrado um ninho de passarinho. forfulhava entre as palhas em busca de algo vivo mas nada encontrava. e me indaguei novamente o que essa imagem de especial me causava.
não sei qual o significado dessas coisas. existe uma linguagem nisso tudo que em meu interior se transforma em música que me ponho a solfejar, como um lunático. e é através desses solfejos que me reconstruo sempre que algo me desmorona. o significado das coisas que vejo passa a não ser o que é de mais importante no meu dia. são apenas espelhos de minhas sentimentalidades. são resquícios daquilo que meus olhos vêem.
de noite, assim que saí do teatro entrei num templo cristão e lá fiquei sentado por um tempo. fechei os olhos e tentei encontrar o acalanto que alguém me disse que eu encontraria sempre que procurasse. pedi perdão pelas coisas que disse e pelas agressividades repentinas de meu comportamento. imagens de minha infância vieram até mim. em especial uma em que eu e a velha senhora carregávamos através de ruas muito compridas algo muito pesado que ainda assim me proporcionava grande satisfação.
em casa fiquei sem chão. li escrivinhações em outro idioma. mas como dormir sem a voz?
como dormir sem aquele riso?
estar acordado no entanto é um estranho estado de lucidez.
porque me escondo tanto? ela me indagou? Atravessei a noite a pensar nisso como se essa solução pudesse me devolver algo perdido.
...
acordo por volta das quatro depois de pesadelos.a voz de deus sopra verbos. é a mesma minha voz que me indica os rumos do que desejo. coloco nela a ordem daquilo que anseio...
ao longe moços serenatam. o passarinho noturno do porto ainda está num cantar embriagado de engano, não desiste, vai estourar seu peito tanto gorjear inutilmente.
acordei nesta madrugada insone pra dizer algo...
acordei em pesadelos pois cerrara os dentes e assim me doíam os ossos da face...
dormira de um modo ruim. mas despertei na voz de deus pra dizer que amo e nisso encontro cura.
...
nada precisa mais ser dito, diria em sorrisos o demônio.
penso no riso de uma musa como quem busca a flutuar na tensão superficial.
sonhei que eu era um velho e revirava alfarrábios. nas coisas escritas a unidade silenciosa de uma única fisionomia. ela não ainda estava revelada. a mim mostrava apenas o que lhe convinha. dona de um sutil prazer egoísta, a criar sonhos volúveis e decisões líquidas.
...
escancarei a porta da mansarda ao pior dos inimigos. me deixei ao julgamento como quem confessa o que não fez. lancei-me ao fogo por ter fé demais em ser forte para não me derreter até a morte.
forte como a morte
...Usaram um deus para me imprimir culpa. me disseram que não tenho nos dons que tenho o milagre suficiente para mudar os rumos.
o silêncio muitas vezes é a mentira sem verbos.
quem me indagou sobre o que sinto. quem pôde medir minha dor?
sórdida é a escolha fútil
em atitude que fere
se felicidade é a roupa predileta de Deus, eis que a mim Ele se revela nu.
o mais forte guerreiro sabe em que momentos é preciso se reconhecer um tolo e aceitar um golpe honrado na jugular".
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duvido que a casa que construí ainda me esteja ao redor de mim.
vivi muito. das coisas que vivi falo em conta gotas. ontem eu lhe disse que pude ver em que lugar a miséria humana pode chegar. também vi até onde alcança o esplendor de sua boa vontade.
não, não guardo bem o passado. não guardo bom rancor algum. e existiria um bom rancor? mais um pouco de tempo a me observar vai me fazer perceber que não sou um emaranhado de fios sem pontas. a densidade é apenas uma defesa. tenho agora o coração fraco, estou sumariamente protegido por inexoráveis mecanismos de defesa.
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ontem atravessei uma rua onde famílias se reuniam nas portas de suas casas. algumas crianças brincavam com seus cães...
essas imagens da cidade em movimento causam algum desatino em mim. planejo lhes dizer que as coisas do mundo são boas e que eles não precisam ter tanta pressa. no caminho ainda notei que um menino se alegrava por ter encontrado um ninho de passarinho. forfulhava entre as palhas em busca de algo vivo mas nada encontrava. e me indaguei novamente o que essa imagem de especial me causava.
não sei qual o significado dessas coisas. existe uma linguagem nisso tudo que em meu interior se transforma em música que me ponho a solfejar, como um lunático. e é através desses solfejos que me reconstruo sempre que algo me desmorona. o significado das coisas que vejo passa a não ser o que é de mais importante no meu dia. são apenas espelhos de minhas sentimentalidades. são resquícios daquilo que meus olhos vêem.
de noite, assim que saí do teatro entrei num templo cristão e lá fiquei sentado por um tempo. fechei os olhos e tentei encontrar o acalanto que alguém me disse que eu encontraria sempre que procurasse. pedi perdão pelas coisas que disse e pelas agressividades repentinas de meu comportamento. imagens de minha infância vieram até mim. em especial uma em que eu e a velha senhora carregávamos através de ruas muito compridas algo muito pesado que ainda assim me proporcionava grande satisfação.
em casa fiquei sem chão. li escrivinhações em outro idioma. mas como dormir sem a voz?
como dormir sem aquele riso?
estar acordado no entanto é um estranho estado de lucidez.
porque me escondo tanto? ela me indagou? Atravessei a noite a pensar nisso como se essa solução pudesse me devolver algo perdido.
...
acordo por volta das quatro depois de pesadelos.a voz de deus sopra verbos. é a mesma minha voz que me indica os rumos do que desejo. coloco nela a ordem daquilo que anseio...
ao longe moços serenatam. o passarinho noturno do porto ainda está num cantar embriagado de engano, não desiste, vai estourar seu peito tanto gorjear inutilmente.
acordei nesta madrugada insone pra dizer algo...
acordei em pesadelos pois cerrara os dentes e assim me doíam os ossos da face...
dormira de um modo ruim. mas despertei na voz de deus pra dizer que amo e nisso encontro cura.
...
nada precisa mais ser dito, diria em sorrisos o demônio.
penso no riso de uma musa como quem busca a flutuar na tensão superficial.
sonhei que eu era um velho e revirava alfarrábios. nas coisas escritas a unidade silenciosa de uma única fisionomia. ela não ainda estava revelada. a mim mostrava apenas o que lhe convinha. dona de um sutil prazer egoísta, a criar sonhos volúveis e decisões líquidas.
...
escancarei a porta da mansarda ao pior dos inimigos. me deixei ao julgamento como quem confessa o que não fez. lancei-me ao fogo por ter fé demais em ser forte para não me derreter até a morte.
forte como a morte
...Usaram um deus para me imprimir culpa. me disseram que não tenho nos dons que tenho o milagre suficiente para mudar os rumos.
o silêncio muitas vezes é a mentira sem verbos.
quem me indagou sobre o que sinto. quem pôde medir minha dor?
sórdida é a escolha fútil
em atitude que fere
se felicidade é a roupa predileta de Deus, eis que a mim Ele se revela nu.
o mais forte guerreiro sabe em que momentos é preciso se reconhecer um tolo e aceitar um golpe honrado na jugular".
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