domingo, 18 de novembro de 2012

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VERÍDICA OU QUASE


então veio mesmo e ao me ver se jogou em abraços sobre mim. senti o mesmo cheiro de roupa limpa. senti seus mamilos, apertei suas coxas, rápido excitei-me. dessa vez não havia livros em minhas mãos, então pude lhe tocar os cabelos a nuca e o colo. respirou fundo e se apertou ainda mais ao que eu lhe dava, e nessa posição que era uma luta ao que nos separava nos mantivemos por muitos segundos.



riu-se do fato de eu estar a usar tênis. eu, na OUTRA época só usava sandálias, reclamou-se da ausência dos cabelos cacheados que sempre me marcaram, eu os havia cortado. deteve-se a se admirar do que eu disse, que ela era contagiante e que vinha de mim, uma alegria talvez, ou uma sensação de que tudo estava bem quando ela aparecia. 






o espetáculo sem música se parecia comigo, sim, parecia com o que criei para que os outros, através de mim, rissem de si mesmos. ela me olhava através da meialuz e me puxava para que eu ficasse por ali ao seu lado, sentindo seu corpo. usava um nariz de palhaço, de plástico, vermelho, e um chapéu côco. usava meias listradas que subiam até os joelhos. estava linda, radiante.

do resto não sei. só sei que admirei seu colo alvo muito mais do que deveria e lhe pude sentir muito mais completa, como se a feminilidade a estivesse preenchendo dia a dia ainda mais...

deixei-me a observá-la sem pudor. rindo de mim disse-me depois que percebia meus olhos brilhando por conta das sobras de luz dos refletores, deu um risinho engraçado depois disso. disse-me que nunca esqueceu “daquele tudo”... mesmo muito distante carregava aquilo estampado na pele. "ainda nos falta a viagem de mochila por aí", sussurrou-me. "não pense que vai sumir sem fazer isso".

já nem era necessário dizer nada sobre sentimento algum...


era óbvio. amo a existência dessa criatura refrescante...


surgiu-me como uma última página de uma longa estória...

salvou-me naquela noite com sua liberdade infantil e atrevida. nada mais pude ver além dela. nada mais pude ouvir além do que me dizia...


na escada lateral, a famosa escada da dialética cheia de uma escuridão travessa, ela  me abraçou...

abraço louco de filha, irmã, amante, estranha da fila do ônibus...

mistura de paixão fraternal e adâmica com incesto permitido. sentimentos de gente doida.

nada precisava ser dito. voar seria  mínimo. quatro horas nas quais me senti novamente livre, como quem vive deve se sentir...


quatro horas.

refrescante... ao meu lado, diante do espetáculo da cidade das coisas mal feitas.





uma das existências mais belas, meigas e pacificadoras que experimentei.


capaz de me fazer descumprir os ritos que sempre cumpro...

capaz de me fazer cortar caminhos que nunca corto...

capaz de me limpar a alma


capaz de me limpar a alma até mesmo de mim.
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