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VERÍDICA OU QUASE
então veio mesmo e ao
me ver se jogou em abraços sobre mim. senti o mesmo cheiro de roupa limpa. senti
seus mamilos, apertei suas coxas, rápido excitei-me. dessa vez não havia livros
em minhas mãos, então pude lhe tocar os cabelos a nuca e o colo. respirou fundo
e se apertou ainda mais ao que eu lhe dava, e nessa posição que era uma luta ao
que nos separava nos mantivemos por muitos segundos.
riu-se do fato de
eu estar a usar tênis. eu, na OUTRA época só usava sandálias, reclamou-se da ausência
dos cabelos cacheados que sempre me marcaram, eu os havia cortado. deteve-se a
se admirar do que eu disse, que ela era contagiante e que vinha de mim, uma
alegria talvez, ou uma sensação de que tudo estava bem quando ela aparecia.
o espetáculo sem música se parecia comigo, sim, parecia com o que criei para que os outros, através de mim, rissem de si mesmos. ela me olhava através da meialuz e me puxava para que eu ficasse por ali ao seu lado, sentindo seu corpo. usava um nariz de palhaço, de plástico, vermelho, e um chapéu côco. usava meias listradas que subiam até os joelhos. estava linda, radiante.
do resto não sei.
só sei que admirei seu colo alvo muito mais do que deveria e lhe pude sentir
muito mais completa, como se a feminilidade a estivesse preenchendo dia a dia
ainda mais...
deixei-me a observá-la
sem pudor. rindo de mim disse-me depois que percebia meus olhos brilhando por
conta das sobras de luz dos refletores, deu um risinho engraçado depois disso.
disse-me que nunca esqueceu “daquele tudo”... mesmo muito distante carregava
aquilo estampado na pele. "ainda nos falta a viagem de mochila por
aí", sussurrou-me. "não pense que vai sumir sem fazer isso".
já nem era
necessário dizer nada sobre sentimento algum...
era óbvio. amo a
existência dessa criatura refrescante...
surgiu-me como uma
última página de uma longa estória...
salvou-me naquela
noite com sua liberdade infantil e atrevida. nada mais pude ver além dela. nada
mais pude ouvir além do que me dizia...
na escada lateral, a
famosa escada da dialética cheia de uma escuridão travessa, ela me abraçou...
abraço louco de
filha, irmã, amante, estranha da fila do ônibus...
mistura de paixão
fraternal e adâmica com incesto permitido. sentimentos de gente doida.
nada precisava ser
dito. voar seria mínimo. quatro horas
nas quais me senti novamente livre, como quem vive deve se sentir...
quatro horas.
refrescante... ao
meu lado, diante do espetáculo da cidade das coisas mal feitas.
uma das existências
mais belas, meigas e pacificadoras que experimentei.
capaz de me fazer
descumprir os ritos que sempre cumpro...
capaz de me fazer
cortar caminhos que nunca corto...
capaz de me limpar
a alma
capaz de me limpar a
alma até mesmo de mim.
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