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VERIDICA OU QUASE
Santiago
era um pequeno barco que permanecia ancorado no rio Poxim, quando eu era um jovem e morava numa praia. Nunca o vi sair
dali. Eu ficava horas diante do rio a observar santiago na sua prisão atemporal. Planejava libertá-lo, mas eu me dizia que não saber nadar era a minha
incapacidade, que o adoecer de um barco é não poder ser
levado pelo rio sem rumo. Afundar nunca seria sua morte. A morte de um barco não é
a inexistência de um rio e de um rumo, de um porto de partida e um porto de
chegada.
Ela não estava em mim ainda, eu não conhecia o semblante de
minha verdade; eu a procurava e lhe chamava de meu tesouro.
Eu não dormia naquela noite quando alguém me enviou mensagens que diziam que de algum modo a minha miserável escritura tocara sua alma e despertara o que por muito tempo sabia estar esperando: parte sua de muita preciosidade. Naquele fim de noite senti sono e dormi num acalanto confortável, contente sem saber ao certo o porquê de estar contente. Eu ouvira a voz que vinha de longe e ela me causava um grande bem.
Eu não dormia naquela noite quando alguém me enviou mensagens que diziam que de algum modo a minha miserável escritura tocara sua alma e despertara o que por muito tempo sabia estar esperando: parte sua de muita preciosidade. Naquele fim de noite senti sono e dormi num acalanto confortável, contente sem saber ao certo o porquê de estar contente. Eu ouvira a voz que vinha de longe e ela me causava um grande bem.
Não poderia existir nenhuma não alegria naquilo que construí
entre mim e as palavras que recebi em correspondência. A nossa humanidade em nós bem que poderia
ser construída assim, sem desalegrias, sem traumas.
Ah, mas a humanidade pode ter surgido de um início tumultuado, quando um animal olhou para o sol e o entendeu poderoso, dono das vidas. Mas a humanidade se tivesse um recomeço tão tranquilo quanto o meu diante dessa existência que me procurava, diria que esse mundo de agora seria um desenho apenas, umapassagem, um estágio, um projeto espetacular, mais espetacular que o espetáculo final planejado.
Ah, mas a humanidade pode ter surgido de um início tumultuado, quando um animal olhou para o sol e o entendeu poderoso, dono das vidas. Mas a humanidade se tivesse um recomeço tão tranquilo quanto o meu diante dessa existência que me procurava, diria que esse mundo de agora seria um desenho apenas, umapassagem, um estágio, um projeto espetacular, mais espetacular que o espetáculo final planejado.
Não,
não poderia existir nenhuma tristeza no que eu era naquele fim de noite. Para
perceber minha alegria eu nem precisaria estar deitado na pacífica praia do sossego. Ah, meu
sonho de outrora transcrito para páginas em branco, minha utopia na qual por
dias me deixei sozinho a esperar que meu tesouro me encontrasse.
Num dia de despedidas daquele lugar eu resolvera presenteá-la com o que considero o dom mais precioso que me foi dado por
quem me criou (meu titereiro que manipula a cena na qual me deixo pertencer).
Ofertei meus papeluchos, iluminados pelas luzes da tela de um computador. Letras
marrons ou brancas em fundo sépia ou negro. Minha esperança e meus sonhos estavam ali em tipos que
escolhi a esmo.
Não tive nenhuma intenção definida. Apenas quis essa presença desconhecida perto de mim mesmo que
distante, como uma leitora indiana que ama o escritor guatemalco, como a Doroty
francesa a amar o pequeno principe negro da Antiópia. nada mais que um sorriso invisível de
gratidão ou alegria eu esperava, pois tudo estava tão triste e apagado naqueles dias...
Como deixá-la ir sem nada dizer que nela plantasse
algo que floresceu de mim?
Eu devolvia as flores.
Eu as devolvia num arranjo que fiz escondidamente...
...como quem planeja surpreender a irmãzinha
triste com uma brincadeira tola que a faria rir por entre as lágrimas.
Eu a observava triste, como quem procura por uma
sombra por estar em demasia enfastiado de sol. Nesses dias em que eu lhe via
assim, minha paz estava em mim tão calma que era bem possível que eu a pudesse
recolher e lhe dar um pouco do sossego. Aprendi de início que por aquela
existência fora do comum eu sentia um demasiado bem, como quem também encontra
sombra depois de longa caminhada. Senti que poderia dividir com ela algo que até de mim mantive guardado.
É certo que pelo lado de fora da casa onde eu
morava o mundo me era muito hostil. E eu já naquele momento sabia que para
alcançar qualquer paz futura precisaria ser corajoso e forte. Precisaria abrir meu
peito para o impacto prometido. Um impacto que eu sabia com certeza que viria.
E não foi diferente. Aconteceu que certo dia o
olhar da guerra se direcionou a mim como quem me vê.
Era preciso estar preparado, resmunguei...
Coragem é a procela tornada risível e bela. Devo
estar preparado pro que virá.
...
...
seu nome era...
seu nome ainda nem sabia qual era.
mas naquele tempo se chamava de tempo.
que um dia olhou aquilo que não me forma e assim me descobriu.
Era uma vez uma menina que nunca me olhava de frente...
É depois disso que resolvi que daqui por diante
vou narrar algo que não vivi. e para que depois destas temporadas estes escritos
sejam tomados como a expressão verdadeira do que digo, invoco a inspiração do
que me habita, para que não me falte o acalanto de estar a falar o que de certo
se mostrou a mim de modo mineral, como um ouro bruto arrancado do fundo da terra.
Sentir falta da presença de Santiago é sentir falta do rio?
está decifrado um enigma tolo:
aquele que às margens do rio nasceu não sabe nadar.
Houve aquele tempo em que...dias ruins se abateram sobre mim.Nessas ocasiões há algo que repentinamente surge
entre a platéia e o palco. Não se pode ao certo saber o que as palavras
iniciais podem significar, a soma dos gestos, a aplicação mais verdadeira da
verdadeira função do olhar, tudo isso adquire contornos que resultam num
estágio de pretensiosa letargia. Espera-se que os minutos ali se alonguem, a
cena se mostra como um espelho daquilo que esperamos. Esquecemos o dia lá de fora,
esquecemos as arquiteturas mal feitas, apenas permanecemos vivos, com semblante atento.
A existência da musa se manifesta. Semente que se
rompe ao broto. Um modo se sentir-se seguro como se me amparassem as dores de
minha coluna cervical.
"Há tempos que não me sinto assim à beira de uma
agressão. Há tempos que não sinto na garganta a secura de quem está sentado ao
banco dos réus. Ando com a marca dos malditos e por ela e através daquilo que
ela representa todos me dissecam a dizer coisas, a esperar que eu diga coisas
que não posso dizer.
E tudo isso acontece porque o Ballão aqui é apenas
um servo impotente?"
Eu perambulava pela platéia enquanto o espetáculo
do alheio era representado. Jamais houve mal naquilo que me surgiu, nem
pecado nem impurezas de qualquer tipo. Alguma coisa divinamente infantil me impelia.
Era como se eu procurasse pelo mesmo pequenino tesouro esquecido nalgum canto.
Estou acordado agora. Acordado e salvo. Por mil diabos!. Ninguém
conseguiria medir as dores que senti. Vivo, somente agora, um tempo pacífico. Um sinal me indica o
rumo e sei que serei levado ao que me foi prometido, ao que a mim foi guardado.
não posso disso me distrair.
posso sim...
posso sim...
se acaso a cena se tornar longa demais...
Procurarei sua mão no assento ao lado? Encontrarei
os dedos frios de quem espera um gesto?
Ou estarei apenas dormindo enquanto se passa na
tela o melhor do filme mudo?
Enquanto a atriz da alma imoral falava de almas, eu entregava
a minha ao espasmo que me tomou?
Volto minha cabeça para o lado e não posso
enxergar o que busco no escuro da
platéia, mas sei que lá esse meu tesouro não está a esperar que eu o note e o
recolha para o claro. Espera sim que aquilo que agora se estanca em seu redor
mude, que reconheça aquilo que ele, como tesouro, reconhece. Assim, desse modo, a
vida inteira do meu tesouro seria também a minha vida. Devo encontrá-lo no mesmo
escuro onde estou? As minhas retinas permanecem dilatadas em busca de uma
figura que se possa definir. Minhas mãos tocam algo. Faço isso para perceber que
devo permanecer assim? Ou faço isso para me certificar que ainda estou entre
dois mundos?
Nos desvarios da cena da atriz da alma imoral me
aprimoro em apertar os olhos...
Apenas isso. Imploro por um acorde.
Desejo o choro.
Mas a emoção disso não habita um corpo. Nisso o
corpo é pequeno para a alma.
Magnífica contradição não imaginar o oposto: é a
alma que possui ao corpo.
O tesouro reconhece o mundo nesse modo de ver
que também é meu? Não encontro seus olhos pois bem sei, estão já em mim e se
manterão assim até o último dia, no qual mais nada conseguirei manter desenhado
sob o tecido?
Se me obrigarem a dar um nome a isso que me faz
buscá-lo, a isso dou um singelo nome: Esperança. Faço-o como modo único de
trazer à luz tal coisa que desconheço de semblante.
Sensação risível de nem ter. Subjulgamento total dos substantivos.
Meu tesouro dorme durante minha procura. Dorme
tranquilo pois nada lhe pode acordar.
Estamos todos num teatro. O espetáculo acontece.
Diante de nós a atriz nua da alma imoral se enrola num
tecido preto e fala de almas. penso que por muito tempo tenho tentado entender
esse universo que digo divino das almas.
E nisso penso que por muito tempo tenho entendido que me senti sozinho
na busca tola. E essa sensação sim tinha algo muito próximo de minha alma, como
se minha alma fosse esse sentir que não compreendo. Pois diante do que me é
incompreensível, sinto minha alma me surgir como se realmente fosse minha alma.
A tranquilidade da voz da atriz me revela coisas que eu nunca pensei que
acreditasse. E assim fecho os olhos como a saber sem precisar ouvir. Ter o
entendimento claro sem precisar ouvir. Ter o entendimento claro sem precisar
ver. Ter entendimento claro sem precisar sentir na pele. Ter o entendimento
claro sem precisar entender. Ter o entendimento claro sem dele precisar. E
respirar apenas...
E assim nem me dou conta que ela está nua por
debaixo do tecido, que o cheiro de sua vagina pode ser sentido espalhando-se pelo espaço. Estamos nus todos nós. espalha-se pelo o ar todo o odor de nossa humana nudez.
Seu falar é compassado, é a voz de um rabi que se
aproxima dos ouvidos e diz verdades que parecem ter sido em tempo longo apenas
suspeitas.
Meu tesouro está a assistir e ouvir
também a criatura do lençol, nos seus pensamentos parte de minha presença
se movimenta como o corpo nu dessa atriz da alma imoral. Seu olhar provavelmente
me busca por dentro de sua mente.Pra quem não sabe, meu tesouro é inerte, não move o olhar ou se rasteja em
minha direção. Deve se deliciar com a viagem que faz naquilo que suspeita ser o
que sinto, sente essas coisas ficando imóvel no mesmo lugar onde está, esperando que minha busca termine.
Ou será que essas delicias imaginárias são minhas, somente minhas? percebo isso com um contentamento retraído, como se ainda soubesse que apesar de me movimentar dentro de meu corpo, ainda assim, essa minha movimentação de buscas não me seria capaz de libertar como eu sei que poderia. É assim que também me sinto nu como se nu sempre estivesse. Tenho também minha alma imoral.
Ou será que essas delicias imaginárias são minhas, somente minhas? percebo isso com um contentamento retraído, como se ainda soubesse que apesar de me movimentar dentro de meu corpo, ainda assim, essa minha movimentação de buscas não me seria capaz de libertar como eu sei que poderia. É assim que também me sinto nu como se nu sempre estivesse. Tenho também minha alma imoral.
muito devo ao olhar que me
criou
pedras soltas.
o olhar.
tomou-me como primeira expectativa e nela manteve-se vivo.
assim ressuscita o que de melhor em mim floresceu.
das cartas de papel o jogador noturno e solitário fazia um simples castelo
levou a mera distração como missão maior. assim se seguiu o tempo...
com o que sentiu construiu um lugar cômodo
silencioso.
espécie esquisita de refugio sem fuga
exílio distante que não causa afastamento corpóreo.
pedras soltas.
o olhar.
tomou-me como primeira expectativa e nela manteve-se vivo.
assim ressuscita o que de melhor em mim floresceu.
das cartas de papel o jogador noturno e solitário fazia um simples castelo
levou a mera distração como missão maior. assim se seguiu o tempo...
com o que sentiu construiu um lugar cômodo
silencioso.
espécie esquisita de refugio sem fuga
exílio distante que não causa afastamento corpóreo.
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