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Prometer um voo é um modo intenso de dizer: "eu te amo".
Planejar uma travessia a uma ilha erma é um modo secreto de dizer: "quero ficar sozinho com você, é meu sonho de agora, meu desejo"...
Se o leve toque dos dedos te provoca um orgasmo, sem esse pudor cristalizado, isso quer dizer: "tenho a honra de te levar ao êxtase, de mostrar que teu corpo é apenas a prova que o universo em sua infinitude planejou algo do qual insisto em crer que faço parte".
Não me admito, porém, fazer parte do seu passado; de suas lembranças doloridas ou contentes, e suas fábulas doces ou grotescas; nem da alegria chamuscada de suas conquistas mundanas, ou das decepções passageiras. Tenho o vício vagabundo de viver o agora, agora criatura! neste exato momento!
Relembrar e viver num passado, sem clarão de luna ou intensos solares, mata-me, arranca de mim a vida. Se quiser chegar-me de novo, eu te diria como diria ao pródigo: "Venha carregando o presente e eu lhe amarei como sempre".
Nunca duvide de minhas verdades. Verdades são indubitáveis, frutificam na fé e na conduta. Não me culpe nem me tente ao erro. O erro está em minha intimidade por ser MEU erro.
Errarei sempre com o prazer de quem erra a medida de um tempero, mas que ainda assim engole o alimento pois sabe que o que importa é a vida. Porém jamais, depois que tiver a permissão de me olhar fundo nos olhos, descarte a fé que eu tenho na vida e nas verdades que a sustentam em mim. Não confiar nisso é o mesmo que não me amar; é assim que entendo.
Hoje, nestes últimos dias de novembro, dias de apogeu lunar, mostra-se a mim o mundo... novamente amplo demais, sem um tranquilo porto, revestido de vícios e argumentos mundanos. E minhas ilhas distantes, algumas já mortas, em mortes que eu vi, são agora um fantasma noturno de um possível náufrago.
Nem carecia de tanto para pintar a cara de minha tristeza, que agora ostento como a mensagem orgulhosa de um fracasso. Sempre sustento que a tristeza é quando a alma já não suporta estar em um corpo.
E a alma se perde, como a alma de um violino velho jogado ao canto de uma casa antiga...
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