domingo, 18 de novembro de 2012

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VERÍDICA OU QUASE


(relembrando Minzy)




"hoje me diverti com a voz de uma menina que recitara uma poesia infantil...









pensei nas inúmeras carteiras de cigarro, drogas e garrafas de absinto que a civilização ocidental consumiu para produzir estas mais bizarras noites...


ora, ora. a pequena figura de pele branca nem sabia que estava em meio aos lobos...




pensei: deve estar com o coração também cheio de mentiras. deve estar a ponto de se desmanchar...



na voz nenhuma revolta, apenas um nervosismo. nunca fui filho durante uma primavera. nem sei o que há com as primaveras e os filhos, até isso de fingir que sei me impuseram, mas aquela noite me deu esses sinais...


...



estranho como apertou os olhos e ficou a cantarolar a canção ridícula que inventei. o rosto se tornava vermelho. eu não conseguia deixar de notar a rebeldia límpida de suas roupas. sempre imagino sujos os revolucionários. usava uma jardineira desmedida... transmitia uma simplicidade que jamais se tornaria algo nem perto da pobreza.



estou num ambiente seguro. muitos jovens posso vislumbrar daqui. estão alegres saracoteiam, contam vantagens, citam os mais absurdos filósofos da face da terra. divirto-me mas os respeito, não ultrapasso o limite. não devo importuná-los... apenas me disfarçar no mais sutil observador, capaz de se tornar tão quieto a ponto de nele pousarem os pássaros.



quem sabe os dias passem de modo relampejante...



quem sabe eu nem perceba diferença no tamanho de pirilampo.



quem sabe eu não encontre felicidade aqui... quem sabe eu possa até gargalhar, sim, até gargalhar como quem está de fato curado, me tornando assim um palhaço e não mais um gárgula.



se isso ocorrer o tempo não será meu algoz e logo estarei livre daquilo que o mundo me ornou.



e que terrível ornamento! ando com uma etiqueta laranja aos olhos de todos. a quem penso que engano. quem de perto me olhar poderá logo me ver em frangalhos. necessário então uma proteção extrema, um escafandro que porventura deverei achar no lixo.

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depois dessa abastada festa resolvo não mais me subverter
melhor quem sabe me aquietar em casa e supor a existência de um café quente.




posso supor também a existência ,que agora só imagino, da moça de outrora...

a mesma que em temporais dos mais absurdos me segurou a testa...



eu em devaneio e cirroses, em dores de cabeça e efeitos colaterais dos medicamentos...



ela mesmo assim em sorrisos. a me ministrar comprimidos,




sempre os medicamentos, como se viver aqui na babilônia só deles dependesse.




mas devo antes de mais nada, antes do descanso, me sacrificar entre os cybers cafés e tentar digitar algumas palavras, como num jogo de mostra esconde, mas é tanta a demora, a velocidade é tão baixa, que a música que escolhi como tema para minha viagem nunca se completa e por causa dos urros dos meninos que jogam sua divertidas guerras sem sangue, devo me concentrar de modo desgastante. suspeito: são a nova geração do mundo, fazem guerra sem sangue, beijos sem paixão, despedidas sem melancolia. são criaturas para as quais os antepassados prepararam este reino.



outra coisa que me devo propor é não mais iniciar com queixas as minhas escrivinhações. é bom pensar que apesar das enzimas, devo me forçar um pouco ainda a encontrar a beleza nesses momentos iniciais.




devo pensar na beleza de Minzy a trafegar pelos corredores pululados da mais ignorante sapiência... isso sim me poderia fazer até sorrir.




devo lembrar do início de tarde em que sobre o gramado construímos algo parecido ao enredo de um filme de baixo orçamento? patético demais.




minhas pequenas amnésias momentâneas.... uma multidão que sempre fomos de criaturas neste mundo louco.



minhas doces amnésias no qual me esqueço que não devo me dar ao luxo de supor esquecer. como se isso eu pudesse. como se isso não fosse o que sou.



sim... agora a música baixou completamente. o novo mundo aos poucos vai surgindo. creio que ninguém poderia entender o que suspeito existir entre a tarde e a noite de um animal que habita na soleira da porta...



e quem poderia ser o tal animal? quem?




talvez seja cedo demais para entrar em metáforas que nem eu mesmo entendo, talvez eu deva dizer que apenas sinto uma puta ansiedade. como não dar vexame aqui... vejam só... mal comecei a girar no globo da morte e já beijo a lona.



"mas será para um bem maior"...



essa voz de paciência eu costumava ouvir além dos telefonemas. uma voz que teria o poder de me salvar. veja só, minha Penélope, estou aqui ao mastro, atado a me amedrontar sob a suspeita dos cantos das sereias. temo o mar por não saber nadar. temo o salto por não ter um ìcaro inverso dentro do peito. temo o cantar destas malditas denaides por não ter o peito devidamente forte para suportá-las.




mas devo ainda tentar forçar minha mente para um momento novo. o momento em que resolvi amar a possibilidade da existência de uma possibilidade.



o momento em que resolvi amar Minzy.



a potência feminina que veio do nada, sem nada oferecer, apenas para o meu sutil deleite de não poder querer desejá-la. pois desejá-la seria perdê-la assim como costumo perder tudo o que acomodo neste mesmo caminho.




e sobre isso nem sei que falo. diante disso tudo sinto-me mal imunizado qual um velho infectado. recebo algumas baforadas do vento. para Minzy construí um mundo diverso... haverá quem sabe um pé que me empurre pelo vale...



que bela imagem surrealista do velho da cadeira da queda e da menina que jamais verte lágrima alguma de peso ou de dor na consciência pois nem existe consciência...



nem uma mísera consciência... o que existe é a comédia desta bufonice toda!




a paixão do velho só é uma paixão pelo personagem nascido de sua insônia.



mas não durma, não durma pois vai acordar.



e como todo mundo diverso me enlevo ao poder de inventar moinhos e ventos...



imagino-me novamente...








no mais refugiado covil está um outro que para não mais se deter ante a imagem da mulher os cabelos e a janela resolve se deitar aos pés de Minzy, resolve torná-la neste entretempo o seu refúgio...


como a esperança vã dos marujos a cem anos distantes da terra". 

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