quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

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Canalha seria lhe pedir, utilizando-me de um título de filme como frase: "Ensina-me a viver". Seria assim mesmo, um pedido entre aspas. 

A Fernanda, linda, de olhar doce, sabe muito mais da vida, teria muito a me dizer. aposto que tem bons palpites para números de loteria. se nesta cidade de merda tivesse um hipódromo, Fernanda seria uma bela companheira, a ter sempre suas certezas em qual cavalo apostar.


Estou escrevendo estas coisas enquanto espero a carroça que transportará o último cenário até seu palco. é um instante vago, como se o mundo não mais tivesse importância, como se minhas energias se tivessem esgotado. depressão pós parto, como se o último rebento levasse embora minha capacidade de oferecer coisas novas. 

Escrevi uma carta para Fernanda, dentro de meu mundo da década de setenta.



"Caríssima Senhora


Tudo anda bem? Estive muito cansado ontem, e o trabalho terminou tarde e impediu o meu desejo de ontem: escrever-lhe. 

No atelier, é sempre preciso que a gente visualize o resultado com a luz do sol, para fazer ajustes. A luz do sol sempre diz a verdade? Ou será que por costume nos conformamos com as verdades do sol?
O brilho solar revela as cores do modo como as entendemos.
Então, só hoje pela manhã, quando a luz do sol ficou branca é que vimos que o trabalho não tinha terminado. trabalhamos mais um pouco, num atelier matinal e áspero.
o sol é imprescindível para as cores.
Penso o mesmo a respeito do amor.

Saudações, além do tempo e espaço".


O que ouço? O ruído terminal da carroça de transporte?

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