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Quando a chuva se precipitava na Curuçá, uma grande depressão se enchia, juntava-se nela as águas das vilas mais altas. A rua por um instante após as tempestades, para nós, tornava-se um grande mar bravo.
A boca de lobo, na esquina da Lava-pés, fazia com que se abrisse um grande redemoinho que sugava a tudo o que se podia flutuar. Uma lenda dizia que um homem morrera ali, quando insistiu em andar entre as águas; foi levado pela correnteza da enxurrada e acabou sugado pela boca de lobo.
Por conta desse mito, a velha senhora não permitia que eu interagisse com o fluxo pluvial. Morávamos numa casa de duas grandes janelas e eu costumeiramente gostava de ficar numa delas, observando a pequena fúria das águas da chuva, que lambiam a rua com sua certa majestade.
O tecido dentro da sala é mesmo a rua de minha infância. vejo crianças brincando com artefatos de lata, brilhantes, luminosos. algumas se deixam deitadas na superfície das águas; outras apenas observam, riem, correm, tentando conter um certo medo, entre sustos com os trovões e relâmpagos.
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