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Mágica.
Escrevi essa palavra num desenho que fiz para Minzy.
Com esferográfica eu lhe desenhara uma árvore, em traços fortes de furar a folha. falava alguma coisa a respeito do movimento das árvores, tão lento para nós, que não o podemos perceber com essa visão construída para as velocidades humanas.
Lola molha as mãos nas águas do rio. Conhece todos os meus pensamentos?
Mágica.
Sensação doce de que a vida é puramente um milagre, que tanto quanto o desabrochar de uma flor, tem um tempo e um fim.
eu não sinto tristeza, eu não sinto dor. na cidade que criei, destruí e reconstruí, deixei a minha vida. mas trago todos comigo, em amplos salões de minha nova casa,todos dançam; minha renovada alma. estou aqui sem tudo que me formou, que eu julgava parte de minha carne. estejam glorificados por mim em minha ausência, eu diria. pequena Pirilampo de riso pueril e cheia de amor, glorifique-se! orquídea da qual tanto cuidei, que floresceu nos dias quentes de verão, glorifique-se! meu bom companheiro de pelos em lã, amigo de olhar profundo e carente, glorifique-se! a vida como a entendemos por um tempo já não habita em mim. tudo que deixei no continente, glorifique-se!
não cabe mais em mim a sensação de ser mera parte.
sem remos o pequeno barco enfrenta as vagas, precipita-se agarrado às paredes de dimensões abismais. não há medo em meu coração. nada mais me pode molestar pois tudo existe ao meu lado.
desde quando encontrei seus olhos cismei: porventura já se foram de mim as ligações com este mundo?
desde quando seus olhos me tocaram percebi o extravio que era deixar-me tão preso a essas suposições que me traçam.
vamos nós a cortar as águas. ao final desse desrrumo vamos encontrar o sossego...
a paz esperada...
o silêncio bendito para todas as canções,
as horas sem fim.
Mágica. Minzy um dia sentirá o que corre em mim agora
e entenderá a sorrir o movimento das árvores.
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