terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Amo

Vejo o mar de tempo em tempo
e entre cada tempo em tempo, o mar é o mesmo mar...

Encontrei a tua agulha escondida numa almofada sobre o petisqueiro da sala de estar
A linha atravessava o metal com a mesma cor da velha camisa, que usei na noite curta em que fui feliz.

é esse dizer Amo, que por agora dá a rotina a tudo que mesmo balbucio
como quem pousa o olhar sem descanso num aquário, ou numa parede azul

Nunca seria fria uma cor
se de mim, do fundo da mente, tua imagem surgisse como o maior desejo de morte em uma espera

e a agulha imantada com a cor de uma camisa distante me revela o meu dizer Amo
e  busco, que incrível, por armários que de tão fechados já nem são de minha posse

hoje não deveria me deter na sede
e minha boca envolvendo um clímax, deveria ser o contorno de tua vagina

na menina dos olhos a inocência é uma tabuada distante da memória
e a diversão noturna é só uma velha busca por desesperadas distrações mundanas



Amo

por conta de selar aqui não um desdém com a vida

Amo

por conta de aqui saber que só na vida cabe o que é anseio






entre a fechadura e a chave
é o meu gesto de girar o pulso que desfaz a porta e a transforma em pedaços de uma parede



guardo no velho sofá da sala a agulha

perco, no velho sofá da sala



a agulha.

Um comentário:

  1. estou sempre à espera de algo que me transborde, que me atinja em cheio...
    alguns dias vejo esse mundo morto, e quero dele distância.
    n'outros, sou parte viva daquela morbidez que ele representa.
    sua fala, mesmo que não me diga respeito, é sempre a mim dirigida. eu faço dela tudo que anseio, e isso às vezes me frustra, n'outras vezes me é.

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