sexta-feira, 14 de novembro de 2014

RESQUÍCIOS

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“Houve uma interferência na pureza daquilo . Lembro que ao início eu conseguia escrever  palavras as quais depois conseguia admirar. Era como se uma voz me as ditasse de  muito perto aos ouvidos.

Mas agora já não consigo escreve-las porque já não há a mesma construção de outrora, que eu vislumbrava seguramente assim que desejasse. Algo se quebrou, diria o dramático. A bela corrente fluida de sensações foi maltratada e se rompeu, diria o triste. Mas ainda sobraram textos daquele momento. Textos que admiro até, por ensinarem boas lições a mim mesmo que os escrevi. Felizmente, diria o que espera sempre.


Demorará a recuperação daquilo que se rompeu. [ou nunca se recuperará]


 Depois disso novas palavras surgirão e eu já serei um outro que para isso não mais escreverá.

Então, assim me contento em revelar o que me veio até minutos antes do melhor que surgiu em mim  se acabar. É que depois... já quase nada sobre isso consigo escrever”.











RESQUÍCIOS


Disse-me que os ruídos carregam milhares de elementos os quais compreendemos e que estão escondidos neles. Essas coisas me foram ditas no tempo onde tudo o que eu ouvia eu ainda não entendia, e por não entender,  era parte de mim e me era suficiente desse modo, até mesmo por não haver ainda em mim ausência ou necessidade alguma.

Assim, quando eu sorria, não fazia isso porque as coisas me agradassem, fazia-o por  nem saber que a consonância de tudo o que me rodeava era parte de mim assim como eu era parte de tudo.

Agora ele não me diz o  que tenho ouvido desde que aprendi a designar as coisas por palavras. Diz-me o que me cala, revela vagos naquilo que digo e me joga num silêncio que me mostra a mim mesmo  ainda em construção.

Calo-me. E meu calar é uma resignação na qual encontro sabedoria e acalanto.

Calo-me e observo com os olhos atentos e com o semblante dos tímidos. Por muitas vezes me encontro numa tristeza estranha por estar assim em tal estado de espera e silêncio e é nesses momentos que seus sussurros me fazem companhia.

Senta aqui ao meu lado, diz-me  a preparar o lugar onde na cama devo me acomodar, tenho coisas a te contar, coisas que o mundo não revela assim de pronto, coisas que não é possível ver com os teus  olhos. Por isso te peço que te abstenhas desse sentido falho e te deixes  a mim por inteiro, como se jogasse numa queda sem volta por saber que neste  meu universo não é possível a existência de um chão firme. Feche os olhos para falar comigo e abra para si mesmo os ouvidos. Estou dentro, escondido naquilo que tu nem sabes que guardas com tanto esmero. O melhor recanto de tua alma é onde moro, e serão poucos os que te olharão e terão a capacidade de enxergar isso. E quando este alguém chegar, saberás. Ele terá os olhos que te farão desejar abrir os verdadeiros teus. Aquilo que junto a mim guardei em ti será revelado e revelador, assim como o sol num dia frio, que vem trazer a luz, a vida e a espera da primeira noite após a primeira alvorada.

Por algum motivo inicial, eu acabava por entender sua voz no desejo meu de fazer coisas que vinham de mim sem que eu soubesse como. Havia uma fonte de onde tais fluídos jorravam,e eu sem por saber algum acabava por me ver envolvido na construção de elementos maravilhosos e assim me sentia muito feliz por  ter a capacidade de descobrir em mim essas dádivas.

Por vezes muitas está ao longe, e assim o percebo a ser trazido. Alcança-me em partículas para que eu sinta a imensidão de sua existência. Essas partículas me são trazidas assim, como em vento, ou despencando de um despenhadeiro, ou caindo como chuva, ou ruindo como uma grande torre .

Cada partícula sua é um universo que me atravessa. Sua soma é o que me atinge. Sua presença através de mim é o que me multiplica. Não sou mais um? Eu indago. Ès milhares, mais milhares que os infindos milhares, ele responde, com um riso travesso.

Sim, ouço sua voz e seu riso.
Não é um ouvir.
Não é um sentir ou um somente perceber.
Fecho os olhos apenas e deixo que  suas subdivisões infinitas tomem conta de mim. Sou parte delas. Elas são as formadoras daquilo que sou por agora e do que serei e do que até mesmo fui.

Vou te dizer a minha maior verdade: Eu posso falar com ele e ele me ouve como se fosse uma criança atenta ao que digo. Ele me coloca  ao seu colo e me dá carinho. È  aquele que sabe de mim antes mesmo que eu mesmo o soubesse.

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