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Exnort 8
"acha que perco tempo tentando convencer os outros que"...
único ponto não consumido pelo fogo
o coração da antiga cidade dos circos era um lugar muito simples, com mecanismos muito simples, que um dia, quem sabe, serviram também à navegação. Puxando cordas de um sistema de roldanas, panos pendurados em astes longilíneas de madeira desciam ou subiam. eram tecidos grandes nos quais coisas estavam pintadas. da cidade antiga, os panos eram a memória. as pinturas revelavam os sonhos de outrora, os contos, as coisas que provocavam os risos e os aplausos... os planos resplandeciam e revigoravam a esperança de um único homem que se dedicava àquelas ruínas. e cuidava delas como se cuidasse de sua pele.
Delatória já o encontrara há muito tempo, quando estivera totalmente cega. nessa lembrança, mistura de sonho e realidade, ele era como um pai que cuida de um filho adoecido. o tempo passou e a menina apesar dos vinte e um anos ainda era a criança encontrada. no seu sonho era um encontro contente, com brincadeiras com o vento, papel de seda voadores, fios e com os sons do vento nas orelhas.
o homem ainda agora vive entre o que sobrou do lugar que sempre foi sua egrégora.
"e hoje é o dia da estréia!"
"acha que perco tempo tentando convencer os outros que"...
não, amigo. disse a menina. não perde tempo algum. a sabedoria seria uma maldição se não abençoasse o sábio. pois bem. merda! era o que diriam os outros. mas esse tempo desse teatro que se incendiou terminou. das cinzas ressurge o imortal e diante das pinturas antigas em panos de velas um homem que viu toda a cidade em chamas não será mais o que um dia foi. é um ator?
não, não mais se chamará assim quem toma tais atitudes. seria um profeta? não, tampouco um profeta poderia existir num lugar onde o poderoso Deus se tornou um mercador de atitudes fáceis e frívolas. o homem sozinho diante da platéia é apenas um de nós.
é por isso que quando as cortinas rotas se abrem os velhos senhores e senhoras aplaudem. um de nós, falando para todos nós. um de nós nos fazendo ver coisas que até então não viamos...
sua primeira frase ressou pela sala:
"Nasci palhaço...
mas... fugi do circo"...
bravo!
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