sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

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no atelier há momentos de querer desistir. a movimentação física, em determinados momentos leva a uma vontade de deixar os trabalhos pelo caminho. para criaturas que moram naquilo que fazem, a fuga nem sempre é possível. caramujo! carrega teu refúgio nas costas. e aonde quer que você vá, estará sempre no lugar de onde saiu. cansaço físico portanto não é um salvo conduto para a desistência.

hoje levei um baile das cores.
levar um baile das cores é como se diz: as tintas e suas misturas nunca me obedeciam. o truque da luz era simples. refratadas, as cores se comportavam de um modo. diante da luz e da oxigenação, de outro. depois de pinceladas, escureciam. depois de compostas, se confundiam com as que deitavam ao lado. e só depois de borrar a superfície é que eu percebia, que não era por minha conta, o acerto.

ontem, não havia inspiração. a inspiração só me aparece depois de muitas horas de tentativas.

as formas, apesar de não esquálidas, se embruteciam.

e quando, por força do hábito, sou levado a titerear meu violino novo às proximades de meu trabalho com cores, percebo que as tonalidades são mesmo muito antes visuais que auditivas.


numa multidão de ocres, marrons, vermelhos aprofundados de preto, o verde me fez falta. acontece sempre uma coisa esquisita nessa relação entre tons de terra. se para acompanhá-los escolhes o vermelho, a dramaticidade dessa sequência é de uma harmonia bélica. se caso escolhes o verde, a harmonia é mais selvagem, menos humanóide. acho que foi por isso que senti falta do verde naquela composição. o mais engraçado é que para ter o verde, eu não poderia, de maneira alguma, dispensar ou colocar de lado o vermelho. a força dessa cor no verde, causaria um marrom tão obtuso que a vista não reconheceria o que enxergaria como uma mistura, e sim, como um tom.


quase trinta horas de trabalho por cinco ou seis minutos de cena.

o teatro é como um namoro. muito tempo de corte, para alguns segundo de um prazer fulgás.


e eu dizia: mesmo que seja tão pouco, desejo que o que eu faço tome para si o foco.

pois o que faço me é mesmo como eu mesmo, em cena, diante de uma cortina partida e de olhares atentos aos riscos e às formas nas quais me debrucei como um louco.



se pensa que me entende apenas tentando. nem tente.

se acha que pode entender o mundo apenas observando o mundo, nem perca tempo...



as costas doem. mas não há sofrimento. aquele que sofre para fazer o que ama não pode amar. aquele que se queixa daquilo que diz ser sua própria vida, seria melhor que não estivesse em vida.



para quem serve o que faço? devo mesmo me indagar se o que faço é útil? não seria essa uma pequena filosofia do fracasso?



talvez a arte não seja para responder

talvez nem para indagar

talvez nem para ter um nome



vou dormir hoje talvez pensando na ausência do verde. mas posso me conformar ao perceber que os olhos espectadores verão sim o verde. verão sua presença na sua ausência.


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