segunda-feira, 6 de dezembro de 2010


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contrariando o que agora, neste tempo em que vivemos, é natural, escrevo sem consultar o oráculo google. reúno livros ao meu redor, atravanco-me entre muitos fios que ligam equipamentos a outros equipamentos. há um vento resultante do ventilador que me sopra ininterruptamente e o bondoso Bodelé se deita aos pés da cadeira onde estou sentado. esse é o ambiente onde inicio esta tentativa de escrita de hoje, assim, sem saber para onde ir, fico escrevendo como se escrever fosse tão fácil quanto respirar. escrevendo como toca um Maxim Vangerov. escrevendo como lutava Yp Man. escrevendo como se escrever fosse simples como viver.

tenho ao meu lado direito um livro no prêmio Nobel J.M.G. Le Clézio, a biografia de duas pessoas: Dieguito Rivera, o terror das mulheres e Frieda Kahlo, a bela feia mulher de bigode e tendêcias autodestrutivas. é um livro virgem, que ainda não desfolhei. comprei-o na Fox por quarenta. na sub orelha há um trecho que nomeia os dois de "um casal indestrutível" e tal. mas como já disse, ainda nada li dos escritos de Le Clézio e creio que não será este o mote desta publicação. creio ainda que jamais lerei tal livro e nem sei por qual motivo o trouxe pra casa.

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o que ouço? Romanza 1 para violino e orquestra em G maior. é uma boa fuga dos vizinhos que ouvem em alta intensidade: "eu acho que me apaixonei. amor bandido amor bandido!"

mas falar mal das músicas de meus vizinhos elegendo um herói musical alemão contemporâneo ao genial Goethe não seria um motivo para esta publicação. seria sim pedante demais, tanto quanto o próprio Friedrich.

do lugar onde escrevo posso ver um pedaço do céu através da janela. é tranquilo, isolado e agora inalcansável. além de mim, só há duas criaturas que podem circular por aqui, e uma delas é o incansável companheiro Bodelé. demorei para restabelecer a ordem no lugar depois que a casa foi invadida por ladrões. mas agora aqui, este lugar parece-me estar com minha fisionomia, minhas idiossincrasias, minhas manias e hábitos em cada canto e em cada parede, de novo. não sei o quanto isso é bom. não sei o quanto é bom nos tornarmos um indivíduo isolado e cheio de pequenas peças que nos formam.

comprei alguns dinossauros de plástico e os coloquei no parapeito. contra eles há soldados também de plástico que os combatem ferozmente numa luta que nunca cessa pois tais coisas, tais formas diminutas foram pensadas para representar sem cerrar uma ferocidade estática e gratuita.

são dezoito horas.
nenhuma idéia passa por minha cabeça, e tudo que escrevo é vazio...


não vazio de quem na véspera passou por fatos inesquecíveis

é um vazio mesmo de tédio.

não há um grande desafio para minha mente...


devo esperar que um desejo repentino surja em mim e me faça querer realizar uma coisinha impossível. hoje no atelier fazemos uma estrutura de um vaso que se parece a um gineceu (rs).

nada muito desafiador
nada que me deixe indignado com minhas míseras incapacidades.

nada que movimente minha arrogância e a faça brilhar.

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