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Eu sabia que tinha encontrado uma pedra. Pedra é como costumo chamar as ideias que em meus pensamentos podem se transformar numa construção. O pássaro do porto era a minha mais nova pedra. Quando encontro algo assim, fatalmente se abre um grande espaço em branco em tudo o que penso, no centro coloco a pedra e tudo o que ela representa e pode representar. O que pode me fazer ir adiante, entrar na pedra, transformá-la, lapidando suas arestas com energia e afeto, ver qual forma ela me esconde, ou qual revelação ela me guarda, são as coisas que sinto dentro de minha alma. Tenho a capacidade de fazer um julgamento frio e anterior sob um vasto período de insônia e vigília, indago-me se tenho alguma certeza de que aquilo não oferece nenhum perigo, reluto muito... antes de estabelecer um movimento... naquela direção.
Nunca tive o domínio das escolhas certas, sinceramente. Dediquei-me a encontrar um sistema de julgamento, mas em muitas oportunidades errei, meu sistema sempre foi falho e incompleto. E o erro, ai de mim, é uma explosão absurda capaz de desintegrar todos as pequenas e grandes construções que me mantém equilibrado.
No caso do passarinho do porto, vi de imediato que não me causaria mal e que tinha em seu espírito uma revelação necessária, enviada a mim, numa linguagem cósmica.
Eu precisava ficar atento...
Eu precisava acima de tudo... Fruir profundamente o que aquilo me trazia. De imediato vi que era uma pedra preciosa, que brilhava tanto quanto um sol que se escondia dentro da luz do porto. O passarinho tinha um sistema parecido ao meu. E isso me fazia bem. Quando essa boa sensação me acolhe, num suspiro de alívio, costumo entender o que sinto como o que sente aquele que numa terra estrangeira encontra um irmão, que exala um doce perfume do lugar onde nasceu.
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