quinta-feira, 2 de março de 2017

As peças em reencontro 2

.
.
.
.
.
"O anjo que lutava para curar os frutos de tanta intolerância era intolerante". Essa frase que vi escrita na contracapa me fez desistir de ler aquele livro. Eu estava numa palafita e da janela era possível ver as aguas cinzas da baía sob o laranja do ocaso. Eu me vestia sempre com camisetas brancas e calças largas que foram feitas com os tecidos das cortinas da casa. Era como se Maria Rainer tivesse se metido na minha vida. E eu fumava sempre naquela janela, esperando que alguma qualquer coisa me valesse por estar vivo. Nada valia o esforço presente e ínfimo naquela vida vazia, sem ganhos... naquele novembro de 2006... naquela janela... naquela palafita quente e tomada por mosquitos.

Pude ouvir o canto de um único pássaro e achei que ele cantava pro sol que estava se pondo. Mas o sol se foi e escureceu ao mesmo tempo que a forte lâmpada  do porto se acendeu.

O pobre pássaro continuou a cantar, atravessando a noite. E eu dormi com aquilo, de inicio supondo ser um milagre bom. Mas ao amanhecer, eu já estava convencido de que aquela cantoria era fruto de engano.

O pássaro do porto cantava para a luz âmbar alógena que se acendia entre o poente e o nascente do sol.

"O coitado deve estar exausto", foi o meu primeiro pensamento matinal.

.
.
.
.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário