A ZONA DE ESTRANHAMENTO 2
Vou tentar aqui ordenar as camadas de minha percepção quando sou colocado diante de uma partitura.
Vou tentar esmiuçar de início em sete tópicos o que vou chamar aqui de primeira camada:
1-Tenho meu primeiro contato visual com a música escrita. Uma partitura se apresenta a mim como um texto escrito em caracteres Devanagari. O Devanagari é o alfabeto abugida com o qual se escreve as línguas da Índia e do Nepal. Ora, é bem claro que tenho a pleno funcionamento o meu aparelho fonador, com ele sou capaz de produzir e emitir os mais variados sons que um ser humano normalmente emite para se comunicar. Entretanto, colocado diante dos escritos devanagáris, eu me calo, porque simplesmente não compreendo nem domino a lógica sonora que aqueles caracteres encerram.
2-Meus olhos percorrem o papel tentando coletar padrões compreensíveis. Um bom professor me indagaria na minha língua materna: Mas se você já fala fluentemente sua língua, se consegue dominar todos os padrões fonéticos, fonológicos e semânticos dela, qual a razão para dominar esta linguagem escrita dessa língua estrangeira específica? E você já a fala com certa fluidez. Qual o sentido dessa busca? Eu responderia ao mestre com certa paciência e não muito certo da eficiência de minha resposta: Eu o faço simplesmente porque quero.
Já com o violino e a escrita musical que o tangencia, os tópicos são auto explicativos:
3-Começo a fazer uma leitura incipiente de rítmo. Utilizando o pouco conhecimento que tenho dessa técnica de leitura.
4-começo a localizar as notas musicais e relaciono isso mentalmente com o instrumento. A percepção visual em um átmo tenta se transformar em cinética muscular. Assim eu tento digitar as notas no espelho cego do violino.
5-começo a juntar a atitude física da execução musical à leitura. É o entendimento que ali se escreve uma coreografia.
6-Ouço pela primeira vez de modo parvo o que a partitura em certo aspecto propõe
7-tento juntar todas essas ações, executando-as ao mesmo tempo. Falho miseravelmente. Meu corpo precisa ser lapidado, porque devo ler com todo o meu corpo.
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