-Se você soubesse...
-Eu sei.
-Não sabe mesmo. Digo... não pode saber sem sentir o que sinto.
-Não foi sua culpa.
-Não é verdade. Mas não interessa mais... o tempo está passando. Preciso tomar conta do teatro velho. Passei a vida negando isso. Tomar conta do teatro velho é como me esconder. Não tenho certeza se é isso que deve ser feito. Numa terra de malditos mamulengos, os marionetes vagam lentos, como dementes amarrados por fios.
- Nunca conheci ninguém que falasse mais coisas estranhas que você. Você acha que as pessoas podem entender o que você está dizendo? O que quer dizer isso de marionetes vagando lentos?
Ela por vezes me irrita. Parece-me insolente. Sei que me levo muito a sério. Talvez eu precise mesmo de alguém que faça piadas de minhas falas dramáticas.
-Não posso levar a sério uma menina que fala coisas enquanto faz outras.
Ela levantou os olhos e olhou pro céu.
-Pronto, olhei pro céu. Pareceu poético pra você?
Disse isso antes de entrar, quase me deixando a falar sozinho. De repente colocou a cabeça na janela.
-Aquele acidente teria acontecido mesmo se você não estivesse lá. Você não tinha o poder pra fazer aquilo não acontecer.
Eu tinha sim. Eu tinha o poder de não ter deixado aquilo acontecer. Ela pode vir com essas ladainhas juvenis, nada vai mudar o fato de que eu poderia ter evitado aquilo. E isso, essa certeza, é o que ainda me tira o sono.
Nenhum comentário:
Postar um comentário