Há o tempo
das paredes
Depois dos
dias da argila em seu inferno em corpos de tijolo
da
alvenaria ressecada em brasa
vem os
dias das cores sobrepostas
dissolvidas
pelos ácidos invisíveis das chuvas
Há o tempo
das confissões à lápis
depois que
os casais se escondem das mães, das freiras
da fúria dos maridos putos
da fúria dos maridos putos
Em
corações atravessados por setas
nomes de
mil criaturas distintas
que recobriram
dos ares e dos olhos
a paixão
ardente das puberdades
de quem já
se deve sem vida ter ido te tão velho
(gloriosa
morte, quem sabe)
Se, fez-se
do beijo um início de amor eterno
ou se da
saliva dele sobrou o cuspe
na parede
as juras velam ao tempo
o milagre
do desejo mundano
de fazer
durar pra sempre
O que
escapa à memória e ao corpo
É o
consolo escrito na cal amarelada
da velha e
incansável parede da esquina.
Há o tempo
dos olhos dos homens velhos
que cegos
à conta-gotas nublam o qualquer brilho
da mesma alegria
dos meninos
que moram
silenciosos nos olhos cegos
Há o tempo
das paredes
depois de
erguidas, antes do ruir
depois da
areia, antes das pedras
e há o tempo do entulho
e seus pedaços
Vão-se as
juras gravadas em rocha
insistidas a durar mil anos
pra alcançar o tempo dos novos homens
dos novos
dias; das novas paredes.
As paredes
são os
templos do tempo.
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