sexta-feira, 9 de setembro de 2011

MEMÓRIAS DE SERAFIN - 18

FOI SONHANDO  que a vi por uma primeira vez. por tanta beleza que ela cativava em semblante, não fui capaz de dominar em memória a delicadeza gigantesca de seu rosto. acordei-me nessa penumbra de benção, milagre divino, pois eu havia sido tocado pela visão maravilhosa de uma formosura para raros olhos.

no sonho toquei em sua pele. com a ponta de meus dedos senti a sua umidade. desperto, o mundo pareceu-me muito menos cândido, e os perfumes de esquina a mim se tornaram odores insuportáveis.

com o tempo acostumei-me com uma ideia alentadora: eu vislumbrara uma deusa. e para mim só seria possível alcançar a imensidão de sua beldade se em sonho eu estivesse. acordado, só restava-me uma decepção por estar acordado sem lembrar, sem conseguir recordar, de seu rosto, seu cheiro, e da  luz invisível que irradiava de sua presença.

musa de meus dias. ideal de minha busca por perfeição.

a Helena ressurgida dos confins de minha mente, para apaziguar as paixões possíveis que terminariam em dores.

dentro de minha mente construí uma ilha para que ela habitasse. e a atração exercida por ela era tão absurda, que bastava que o sono me acolhesse, para que eu num barco sem remos, em deriva, até a ilha eu fosse levado. e quando em sonho eu abria os olhos, lá estava a musa, perfeita, com suas vestes ao vento e sua boca inefável.

eu havia criado a minha Eidolon.


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