Drina entrou com um sorriso enorme. Esperou por dez meses por aquele dia. Quando puxei o pano que encobria a enorme tela ela deu um suspiro. Ficou em silencio por cronometrados dezessete minutos. 'Deu do céu!", exclamou isso seis vezes depois da pausa e só começou a tagarelar depois que bebeu um pouco de vinho. Foi a menina quem lhe serviu, com a generosidade de quem deseja embebedar um distraído.
Drina deu grandes goles da taça e se manteve de pé diante da grande tela. Indagou o preço e quando lhe disse o valor, deu mais três goles e rosnou: "vá se foder!". Pediu desculpas para a menina, beijando-lhe a testa. A menina completou sua taça com vinho. A cena era engraçada e comecei a rir.
-Porque tu tá rindo?- Drina indagou já com a língua pesada.
-Você vai ficar bêbada.
-Bêbada? Eu já estou bêbada! Essa porra é a coisa mais foda que você já pintou e vale muito mais que isso.
-Quer mais vinho? - A menina parecia ter assumido a louca missão de secar aquela garrafa.
-Essa tua filha colocou alguma coisa nessa taça?
-Não, só tem suco de uva fermentado aí. - Disse a menina colocando a garrafa emborcada, deixando cair as últimas gotas de vinho. Piscou-me um olho e saiu.
Tirei a taça das mãos de Drina e lhe fiz sentar no sofá. Ela caiu pesadamente. Nunca tinha visto alguém ficar de porre tão depressa. era uma mulher volumosa, com grandes mamas que tentavam escapar pelo seu decote. o vestido azul de malha que usava era curto, deixava-lhe com a calcinha de renda sempre à mostra.
Foi então que pela primeira vez olhei pra tela depois de julgar ter terminado o longo processo. Era a imagem de pegadas humanas num caminho de lama vermelha. As pegadas de botas pesadas se misturavam a pegadas de crianças pequenas. Capsulas de projéteis e formigas mortas dividiam uma cena de profunda desolação.
Drina começou a soluçar, mas aquilo me pareceu engraçado.
Ficamos ali a noite inteira sem trocar nenhuma palavra.
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