"É necessário que os homens se matem entre si. É uma forma natural de controle da própria maldição humana". Falei isso diante de uma plateia de jovens estudantes de arte. Uma multidão de rapazes afeminados e mocinhas remelentas de cabelos sujos, que me olhavam com olhos vermelhos. "Tudo está morto no mundo de vocês. Tudo está morto no meu mundo. Sou um amontoado de lembranças furtivas de um tempo bom, que existia nos livros empoeirados do meu avô".
Saí do auditório por volta das cinco. Uma turminha caminhava ao meu lado fazendo barulho. Ofereceram-me algo que fumavam. Dei dois tragos e rápido fiquei legal. A menina havia estacionado o carro debaixo de um flamboaiã e esperava por mim enquanto se distraía olhando o rio. Tornou-se uma linda mulher de vinte e cinco anos, com seu jaleco branco e sua aparência de nojenta assepsia. Sorriu quando me viu entre os garotos. Gargalhou quando percebeu que eu estava doidão.
-Como foi lá? Ela indagou
-Falei um monte de besteiras. Comecei a formular coisas estranhas. No final dei dois tragos da maconha deles. O orientador parece não ter gostado.
O carro cortou a meridional com uma velocidade agradável. Ela dirigia bem. Eu podia sentir até os pelos do meu rosto. Podia sentir também o cheiro do final da tarde. Comecei a sofrer uma fome insuportável e então paramos numa sorveteria antes de seguirmos pra casa.
Chegamos por volta das sete. Corri direto pras panelas em busca de comida. Ela subiu as escadas e me desejou boa noite. "É cedo, eu sei... mas estou morta".
A casa agora era bem maior. Ficava no bairro mais antigo da cidade e eu não me cansava de admirar sua arquitetura. Comecei a ouvir as cigarras do bosque, sentado numa velha cadeira de balanço, comendo as sobras do almoço com voracidade juvenil. Foi quando ouvi um grito, que atravessou a tranquilidade da casa ecoando através de seus corredores.
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