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E lá estava eu parado na noite diante da loja de pneus recapados
como quem namora os movimentos de uma rainy mood page
nem velho caubói, nem homem durão de meia idade
os movimentos estudados, as palavras ruminadas
por doze anos de relutância ao gole
como na idade e tortura de um bom malt
se eu desse dez passos, cairia sedento
e a moça do balcão de frios sentiria um calafrio de medo
e o velho da caixa registradora enfiaria o indicador no gatilho
E lá estava eu no frio de uma madrugada de setembro
relaxando diante dos movimentos dessa rainy mood page
"não esqueci das promessas, meine Sansa. Só vim comprar Marlboro...
olhar as luzes da estrada como quem olha uma saída para o boulevard"
não me espere para o jantar, garota. não faça o meu prato predileto
talvez a noite seja pra mim a mais longa das noites
penso nisso quando vejo o sol se pondo, dourando a campina
E lá estavam as indagações impressas num bloco de papel velho
uma desculpa esfarrapada diante de minha bela rainy mood page
O estampido poderia assustar os pardais mais astutos
o grito da menina do balcão acenderia por fim a noite
não me espere pro jantar, moça
há algo noir entre meu corpo e a loja de pneus recapados
é por isso que a estrada virou abrigo do bom companheiro del rey
caindo aos pedaços ele resiste ao tempo que rasteja lento
as rodas murchas, enterradas na lama seca
palavras de amor sulcadas na lataria empoeirada
E lá estavam os sete segundos esperando por meu suspiro
na última linha escrita de minha rainy mood page
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