quinta-feira, 23 de maio de 2013


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Se contar um sonho rouba-se dele o seu teor mágico?

Ontem acordei tarde.Minha cabeça capta dores diferentes por culpa, eu suponho, desses travesseiros que se apastelam e endurecem com o tempo. O relógio verde apontava o ponteiro pequeno para as quatro... cedo demais...

Amanheceu. fui ao supermercado e comprei quatro travesseiros novos, com fronhas pretas. Engoli umas pastilhas besuntadas com orfenadrina. Dizem que relaxa. Deixei-me dormir um pouco mais. Esperei outras presenças, outras vozes...

Nessas horas matinais o sonido das rodinhas da pequenina bicicleta...

lembro bem, ela pedalava passando por sobre todos os buracos das vias até a escola. Dividia o cabelo em duas tranças, pequenas, que se acomodavam como orelhas de coelho. Sempre pareceu muito séria entre as outras da mesma idade, negava aproximações bruscas e nunca falava com estranhos.

Sempre pensou muito, antes de falar. Por muitas vezes nem falava, preferia calar. Comportada. Quando contrariada, seu desabafo vinha num choro silencioso, resignado... só quando muito contrariada. Se a coisa fosse pouca, apenas calava, quase num desdém.

Todos os dias dedico algumas horas a sentir saudade. Não me dou ao luxo dessas sentimentalidades desenfreadas. escolho bem as horas...

É quando abro meus ouvidos e ouço o tempo rastejar por alguns segundos. Engulo a saliva com certa dificuldade. Um suspiro meio profundo e um movimento como de quem desperta e...

O dia é sempre um novo tempo com os mesmos velhos ritos.

carrego meu coração comigo. Meu coração não me carrega. Sem poesia essas duas frases ficam ridículas.

carrego o que sinto em mim e...

procuro não deixar que o que sinto me carregue. Se tudo me permitisse a isso, ainda assim eu...



Não creio andar por mim mesmo. 
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