.
.
.
.
.
sem efusão poética? mas que graça teria a vida sem um pouco de enigmas.
sinto-me tentado a iniciar a contação de uma estória. o personagem central dela é uma mulher. claro. mulheres são criaturas que cosmicamente vieram para nos ensinar coisas, coisas trazidas dos confins da criação humana. seu nome é maricéu. surgiu-me desde uma fala, uma resposta, num dia em que o sol já não estava mais no lugar no qual nem sempre vemos.
há uma característica em maricéu. ela não sabe nadar. há outra coisa que nela me é muito importante: depois de dias tristes, resolveu adquirir um veleiro, desses que de tão velhos, são abandonados sob a lama do rio. maricéu decidiu velejar. depois de alguns dias num estaleiro o veleiro já estava pronto. então ela, com poucas coisas no bornal, tornou-se parte dele.
tudo no gigante era impressionante para a menina. as atracações, os encordamentos, os gornes, as roldanas, o timão. mas o que mais maricéu admirava era o poder das velas mesmo não içadas, presas ainda às vergas. sentia que eram asas enormes em potência divina que a poderiam levar para qualquer lugar do mundo.
pensara contratar alguns marujos. mas sabendo das relações tumultuosas que ela, uma mulher, poderia causar em homens em pleno mar, resolvera navegar sozinha.
era um dia quase sem vento quando ela ergueu por si só as cordas e as travancas que seguravam o poder das grandes asas, que soltas, impulsionariam o velho veleiro.
não havia nome estampado ao casco. mas em seu íntimo a menina navegante sabia qual nome seria.
assim, maricéu e a nau sem nome, de um modo engraçado e desastrado, juntos, ganharam um lugar distante dos portos. um lugar também sem nome, que se esconde por detrás das buscas nas quais os sonhadores sem correção estão sempre metidos.
vento. até quando em meu imaginário esse elemento em movimento será o leme de tudo o que penso?
nenhuma solidão na solidão.
um veleiro, o mar e o céu.
como um maquinário de teatro o veleiro e seus panos. buscando guiar ao mundo pelos sulcos na água onde seus movimentos são denunciados.
depois de tantos dias, maricéu sorriu.
nenhuma terra ao redor. somente o mar.
somente o mar, o veleiro é o infinito trazido pelo verbo ir.
.
.
.
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário