quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

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EXNORT

A QUINTA MULTIPLICAÇÃO

por cinco vezes tentou desconstruir e reconstruir. durante o dia dizia o que mudaria logo mais à noite.

Dela era a renùncia recente e antiga de tudo o que seria o seu si mesmo.

no início uma duplicação. no decorrer, o fingimento de um reencontro. no final, a negação e o desdizer do já dito.
diante da quinta multiplicação da insuportável ciranda, o cisma seria uma consequência lógica?

cismou-se a noite do dia.
cismou-se o sonho do dia.
cismou-se a alegria do dia.
cismou-se a temperança do dia.

uma criança fatalmente cega pelo incêndio da cidade. talvez, uma criança fatalmente culpada pelo início do incêndio. brincando com fogo talvez perto demais das lonas dos circos. a cidade poderia não ser venturosa, mas havia alegria ali, nos picadeiros e nas rodasgigantes. quando a cinza tomou o espaço dos circos, o que restou foi uma desolação tão grande, que encontrar o culpado passou a ser uma busca diária de todos os sobreviventes.


de quem eram as mãos que atiraram ao fogo a pequena criança?
uma turba de feridos e famintos a rasgarem suas roupas...

o fogo, o início de tudo. o deus ancestral das cidades corroeu as peles da menina, arrancando sua capaciade de enxergar por completo. arrancando sua infãncia sem medo...


naqueles dias, Serafin era o único entre as cinzas da cidade. Habitava as ruínas do único espólio de pedra que ainda resistia, o teatro...


haveria o momento, depois de tanto tempo, em que ele, resignado pela culpa, estenderia seu dorso num palco a aclamar à platéia:

"NÃO FUJAM DOS RESQUÍCIOS DESSA FELICIDADE QUE NOS ALIMENTA
SEM TEMOR OS PULMÕES PODERIAM ASPIRAR UM AR SEM RECEIO DAS CINZAS?

O FOGO OUTRORA BENDITO FOI O DEUS QUE NOS ARRANCOU OS RISOS
O FOGO OUTRORA CONSTRUTOR FOI O ARQUITETO QUE DEMOLIU A TORRE MAIS ALTA".

pela beleza da agora mulher...

Dela se transformava numa espera absoluta dos mil perdões...



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