domingo, 7 de novembro de 2010

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ela não desenhou motivo algum antes que começasse a bordar no tecido branco. talvez tivesse desistido por se achar enfraquecida com o passar desses mil anos.

viu a última vez que ela gargalhou?

não. em todos esses anos nunca assisti uma cena como essa. diga-me, o que eu poderia fazer para mantê-la aqui?

entendo que é com sua materia prima que construí todas as outras que surgiram em minha vida, surgiram depois dela.

não há nada que você possa fazer, meu caro. milhões de vezes respiramos nesta vida. milhões de vezes esquecemos que respiramos. poucas vezes lembramos que um dia deixaremos de respirar.

encosto a boca nos seus olhos de sono. beijo suas pálpebras como se beijasse a porta de entrada de uma cidade imensa. toco toda a extensão de sua pele. e mesmo assim não a possuo. e mesmo assim não domino seu trânsito.

quando seu sono já não resiste ao ruído do invasor, ela abre os olhos e mostra os dentes. surge do seu mundo dos sonhos a sorrir quando me enxerga. seus braços me trancafiam e assim me vejo quase obrigado a adormecer com ela, ou a fingir que a manhã não veio e a noite persiste.

acordada, ela me observa a criar mundos. fantástica, me empresta suas mãos para escolher as tintas...

milhões de cores vindo destas que são tudo...

milhões de mundos vindo deste no qual respiramos juntos.

respiramos juntos.
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