sábado, 6 de novembro de 2010

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no sonho, ela sentou-se à borda do palco e balançava as pernas. mais próximo a ela estava um violão e segurando-o, um jovem de uns vinte ou um poucomais. ao fundo uma percussão. eles tinham tomado o devido cuidado para que a percussão não agredisse o timbre sutil das cordas. o contrabaixo, acústico, imenso era executado por uma mulher muito magra. à direita um flautista e do outro lado um trio de instrumentos de arco, sendo que o mais grave era uma viola sob os cuidados de um homem barbudo.

sua canção atravessava a sala. a sala era um total silêncio de platéia. era como se ela cantasse de ouvido em ouvido. como se sua música pudesse alcançar alma por alma. uma de cada vez e todas ao mesmo tempo. por não haver interfaces, não havia mentira. a intensidade era aquela em que os artífices buscavam para cada instrumento que faziam. era uma intensidade absoluta e pacifica. nenhum instrumento era ridicularizado. a nenhum deles se dizia: tua voz é fraca e precisas de ajuda para seres melhor ouvido. o que poderia ser melhor do que aquilo que estes objetos proporcionavam por si mesmos aos ouvidos que os ouviam atentos?

em certo momento a moça que cantava fixou em mim o olhar e como esquecer da canção e do que dizia..

"Nobre rapaz. de longe da estação. os trens são canções noturnas"...

nada havia entre eu e a voz que vinha de uma outra garganta.

"se te disseram para ouvir... o que antes era o caos no caos
meu bom rapaz
o universo é o fim do fim".

andar descalço seria uma idéia boa. para alguns, chorar era um caminho melhor. se de cada um em cada um, que ali estava a ouvir como eu ouvia no instante da canção eu olhasse, veria mil mundos difíceis e de muralhas imensas sendo nus e livres de tanta coisa que aprisiona.

era um teatro pequeno, iluminado por luzes de fogo brando.

era um lugar sem tanta pressa onde habitava a euterpe desaparecida de tudo o que agora nos chega aos tímpanos.

celebração. foi essa a palavra com a qual despertei.

celebração. a música em seu estado mágico e divino, trazida suavemente pelas mãos de deus.
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