ouvi, distante, dali de onde eu estava parecia distante, o cantar de um galo.
desci-me da cama e aquietei-me para que pudesse ouvi-lo de novo.
Adormeci nessa espera esquisita.
quando aos meus amigos narrei tal fato, na manhã que veio, riram-se de mim. Fiquei com a desconfiança de uma certa loucura a respeito dos galos, de sua utilidade, dessa relação humana de tempo galo e madrugadas.
Dessa esquisita sinfonia de tempo, canto, e despertar.
Dessa suspeita de tudo isso já é superado, nesse mundo em cristal líquido, em que os despertadores parecem somente ainda mais nos deixar em sono profundo a cada vez que supostamente nos despertam.
"já não existem mais", disseram-me. Mas cresci acreditando na imponência de um canto que virou sombra?
sim, são anedotas do passado. são adivinhações poéticas de um messias esquecido, que se via negado antes de seus tres cantos matutinos.
durmo apertando botões de um controle remoto. desperto dentro de um falso silêncio de paredes acústicamente tratadas. lá fora a humanidade ruge, como leões em Samaria.
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