22 BALAS
“Mamãe, quando a gente morre é pra toda vida?”
“Sim, meu filho. É pra toda vida”.
“isso quer dizer que meu pai vai ficar a vida toda debaixo da terra?”
(do filme 22 BALAS)
“Minha professora de alfabetização permanecia sempre acompanhada de uma palmatória. Ela não gostava de crianças, era o que eu achava. Quando entrei para sua escola, felizmente, eu já sabia ler. Os centros de alfabetização até a década de setenta eram necessários para a disciplina, dizia minha mãe. Disciplina... pois sim. Certa vez, durante o recreio, o sobrinho da professora derramou café com leite na penteadeira que ficava numa das dependências da escola – a sala de aula se misturava com a casa e sentávamos por todos os lugares disponíveis sobre bancos compridos doados por nossos pais. Esse cara era um sujeito esquisito, branco e loiro, mais velho que todos nós e ainda não sabia ler. Ao ser indagado sobre o acidente, que manchou os lençóis brancos de sua tia, culpou imediatamente uma menina muito comportada que sentava ao canto da penteadeira. Foi ela que recebeu tres golpes de régua nas costas. A régua quebrou no terceiro impacto. Ficamos todos apavorados e imóveis. A menina soluçava baixinho esfregando as costas. Percebi que muitos me olhavam esperando uma reação. A menina era minha irmã. E ali eu tratei foi de ficar quieto. Foda-se! Vai que essa maluca resolve quebrar o que sobrou da régua em minhas costas? Tal questão moral é o que em muito me formou”.
...
Uma grande abelha africana entrou no quarto e ficou a voar em círculos em busca da saída.
A cada minuto que eu permanecia sem fazer nada, mais responsável pela liberdade dela eu me sentia.
Abri as janelas, o sol entrou e a abelha saiu zunindo...
E por alguns minutos depois disso, seu zundo parecia ainda estar em meus ouvidos a tal ponto que eu acreditava mesmo que ela apesar de tudo estivesse por ali.
Mas por que escrevi isso?
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