quinta-feira, 7 de março de 2013

MADALENAS EM CULPA E O VALE DO SOSSEGO

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Sei que parece papo de velho. Fato, estou envelhecendo. Mas algo inominável está se construindo debaixo de nossos pés, ao nosso redor, dentro de nossas casas, dentro de nós. E está tomando conta do mundo. Nunca fui de citar as palavras de cristãos, desde quando deixei de me medir cristão. Mas não consigo pensar em outra coisa que expresse essa sensação sinistra: 

'(...) jazes desolada e triste, sumida no abandono. Os que ontem vitoriavam teu nome, hoje jazem no pó, são esquecidos! Todos te deram as costas e entregaram-te nas mãos de teus inimigos. Entoai, nações, um cântico melancólico por aquela que tem deixado de ser a filha do Meu povo! Todo o passado volta a se repetir: a humanidade se move entre alegrias e tristezas, nada é eterno neste mundo passageiro, o que ontem foi, hoje já não existe'.

Que saco essa derrocada das teorias da conspiração. Que saco um mundo sem as utopias de fim de mundo. Há dias em que penso que as orações são para os fracos e covardes, noutros penso que as orações são para os fortes. Hoje, agora, penso que o melhor a fazer é levar meu cachorro para dar uma cagadinha na calçada do vizinho. Nada melhor que usar escatologias contra escatologias.


Todo o rastro de tudo o que é mundano demais se apossou de minha pele e assim, por culpa de me deixar nisso, vi-me doente e febril, vítima de uma tentação calorosa e caluniante.

A sorte é que ela veio me trazer o conforto de uma sombra. Trouxe-me. Somente isso: Trouxe-me.

"Estás enveneneado", ela me dizia. Enveneneado? Não seria envenenado? Eu indagava, ela ria de mim com um rosto amável. 

A sorte é que ela me veio trazer o conforto da sombra. E eu lhe disse numa dessas conversas antes de dormir, depois que ela me indagou para quem eu continuava a escrever: "Eu escrevo para criaturas doentes, é minha maldição. Tudo o que eu escrevo é pra essas criaturas. Um dia eu vou me acordar e dar um basta nisso".

Cutuquei pela última vez o mal que me afligiu e vi que o mundo já o tomou para si. O horizonte está limpo.

Milagre que ela tenha me presenteado com o conforto de uma sombra, uns goles de água fria e um olhar doce dentro dos olhos.

Algo inominável está se construindo em mim.
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